Lugares da memória
Nesses franzinos quinze anos, o fim-de-semana fora, nunca o passara em tal cidade, a tarde de inverno caminhando com ele para o escuro, como se duvidasse também do percurso. Sobretudo naquela divergência de ruas, seria por aqui?, seria por ali?, no momento para sempre presente do triste cortejo vindo de lá, do lado de cima. Amparando-se em lágrimas no gradeamento de ferro.
Era um funeral. A gente costuma dizer enterro, mas não, o caixão - de pinho levezinho, pronto a ser comido pela terra - ainda seguia numa carreta empurrada à mão - defunto pobre! - ainda à distância - como se o tempo continuasse a contar... - ainda a cumprir rituais, antes de ser enterrado.
Os mais próximos choravam, as vizinhas consolavam-nos, e o resto do bairro seguia atrás. Arruamento adiante, nesta direcção, desprovidos de confrarias, apenas umas coroas de flores em algumas mãos, poucas, as apropriadas ao anonimato, ninguém soube dizer quem era.
Foram-se décadas, ficou a imagem, uma impressão de medo. Mas a única derradeira pincelada sobre o absoluto desconhecido. Um ínfimo, mas bem intencionado, contributo para a sua eternidade.