José Luís Nunes, um socialista "histórico"
Foi um dos mais interventivos deputados constituintes de 1975 e considerado um "dirigente histórico" do PS. Morreu há já uns anos, quase no anonimato político, o seu partido explicará porquê. Remetido à sua condição de advogado e trabalhando até que a doença o venceu. Em Março de 1998, quando coordenava o jornal Monarquia do Norte, da Real Associação do Porto, entrevistei-o na forma que de seguida transcrevo:
«1 - Monarquia e socialismo democrático: é verdade que entre ambos não existe entendimento possível?
JLN - Os países onde os partidos social-democratas são os que têm mais profunda base eleitoral são os países monárquicos.
A questão não teria sentido para um norueguês, sueco ou dinamarquês.
Assim como não teria sentido posta a um inglês - Tony Blair é um monárquico - ou a um holandês. Ou a um belga... ou, ainda, a um luxemburguês ou a um espanhol. Quando Santiago Carrillo agradeceu ao seu Rei...
Na Europa, social-democracia e monarquia entendem-se muito bem... Muito bem até...
De resto, o Rei não descrimina os cidadãos por nenhuns motivos ou razões, principalmente por razões ideológicas...
Em Portugal, nos seus primórdios, o Partido Socialista manteve-se alheio ao debate monarquia/república que não considerava prioritário ou essencial.
2 - A Família Real é, no presente, uma mera referência do passado?
JLN - Na vossa questão o essencial é a expressão "referência".
Diria ser a Família Real uma referência no passado, no presente e no futuro. Como poderá tal referência adquirir relevância no plano institucional é outra questão.
3 - Monarquia em Portugal: a questão está definitivamente encerrada?
JLN - Não existem "conquistas irreversíveis" nem questões "definitivamente encerradas".
A História faz-se todos os dias e não tem fim, pois não é uma entidade fixa, cindível em compartimentos estanques, mas em convergência de integrantes transformadoras.
Só o futuro dirá como vai ser o futuro...».
É a tal coisa... O "Centro" é o lugar onde conversas e reflexões destas são viáveis. Onde o interesseirismo partidário não espreita a primeira rasteira que possa pregar a quem supostamente constitua qualquer obstáculo a qualquer propósito. Por isso a radicalização de agora. Por isso, também, o PS haja deitado fora a sua voz principal na Assembleia Constituinte da III República.