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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 16.12.15

Esse Verão de 1972 tinha o seu momento alto nas soirées do Parque de Santa Marta, na Ericeira, assim que soavam os primeiros acordes do American Pie. Eramos muito pequenos, espreitávamos cá de baixo o palco onde ele dançava todo ao ritmo. Já não lembro o seu nome mas tenho a figura muito presente: alto, escanzelado, cheio de poupas no cabelo, as calças de boca-de-sino e a camisa justa, aberta até ao umbigo, colarinhos de borboleta. Não fixei a figura da garina. Mas ele controlava, isso controlava! E atirava-lhe os olhos no compassado refrão, quando Don McLean soltava as sílabas como o arranque de uma locomotiva - «So bye, bye, Miss American Pie/Drove my Chevy to the devee but the devee was dry» - e assim, no seu invejadíssimo Chevrolet, parecia chegar a caminhos desiludidos - «But something touch me deep inside/The day the music die»...

Enfim, ele controlava, e de que maneira controlava, ante a natural admiração minha e dos primos. Exponencialmente aumentada quando uma noite passou lá em casa, montado na sua BSA 500 e nos levou a uma volta, cada um à vez, na boleia daquela bizarma.

E para sempre ficou no ouvido esse estranho hino, um «book of love», uma ânsia - «And can you teach me how to dance real slow?». Até o reencontrar erguendo multidões no Green Hill de S. Martinho. Em 1986. Tinham corrido 14 anos! De então para cá, mais trinta galoparam!... Mas... «A long, long time ago/I can still remember how that music used to make me a smile»...

(Longa, longa escrita. «I can´t remember if I cried». Ponto).