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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Os franceses emendarão a mão; nós não podemos

João-Afonso Machado, 10.12.15

Com a abstenção quase nos 50%, a França corre o risco de assistir à vitória do extremismo da Frente Nacional, à "primeira volta" das eleições regionais alcançando perto de 30% dos votos. A Europa tremeu ao conhecer o resultado! Muito mais do que quando o Syriza subiu ao Poder na Grécia, aliás coligado com outra formação do radicalismo dito de direita. Por preconceito, por facciosismo "modernista" e, sobretudo, porque a França é a França e a Grécia é a Grécia: os fenómenos periféricos geralmente não são de grande importância.

Ignoro - acresce -  se os apoiantes da FN usam também o estilo halterofilista cabeça rapada do nosso micro-PNR. Seja como for, os milhões de votos em Marine Le Pen decerto pertencem, na sua maioria, a cidadãos comuns alarmados com os atentados de Paris e dispostos a castigar as falsas promessas e a inoperância de Hollande - o Costa de lá.

Ninguém pretende, suponho, uma governação de caceteiros e arruaceiros. Felizmente para os franceses, a sua Constituição permite-lhes emendar a mão já no próximo domingo. (A nossa Comunicação Social aguarda em silêncio tudo se resuma apenas a um pesadelo...). Daí os apelos "dramáticos" ao bom senso dos abstencionistas. Assim a República - o orgulho deles, franceses, a República - dê voltas à cabeça e descubra alguém de jeito, entretanto, para 2017...

Já por cá as coisas são diferentes. Uma amostra recente do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica conclui 52% dos portugueses consideram Passos Coelho devia ser o 1º Ministro (contra 37% favoráveis a Costa). Mas teremos de esperar frutifique a incoerência socialista, a sua zanga com os leninistas e trotskistas. Ou 2019. Sempre com o pescoço sob uma espada chamada "segundo resgate".

 

 

"O mais antigo estabelecimento vivo"

João-Afonso Machado, 10.12.15

CHAPELARIA - ENTRADA.JPG

Ainda não há muitos anos, em curtas estadias na terra, frequentemente me decidia, manhãs de sábado, por umas compras em Famalicão. Assim com a satisfação de quem partia antigamente para os caramelos de Vigo. E descia a pé, de S. Tiago da Cruz à “Vila”, regressando a casa no mesmo modo. Comprava uns canivetes, uns anzois, e invariavelmente passava na Chapelaria Oliveira, ora porque o sol queimasse, ora porque a chuva surgira sem se fazer anunciar, e trazia mais um boné. Foi como juntei, e continuo a usar, uma colecção deles.

Ao balcão era habitual atender-me um antigo colega de liceu, o Amândio Oliveira, um pouco mais velho, nessa altura o dono do estabelecimento. Mas a minha curiosidade de então nunca chegou ao ponto de lhe perguntar que voltas do mundo o tinham levado ali. Só agora, definitivamente regressado, mais bisbilhoteiro, me interessei por saber a história da Chapelaria. Sendo que entretanto, em 2011, o Amândio partiu para Deus e é o seu filho, Tiago Oliveira, arquitecto de formação, quem a dirige e mantém o negócio.

Em visita mais recente não deixei de notar, logo na fachada, na montra, quaisquer alterações onde parecia obvia a inspiração académica do proprietário. Comparações assentes em imagens já atenuadas pelo tempo… Mas quero crer que o gozo da vitrina dispensou o toldo de outrora, não há vento nem caprichos do céu que o perturbem para lá dos pilares da entrada. E também o interior foi modernizado, o balcão recuou, há ali estilo, chapéus, e um piano e algumas cartolas a invocar a sua antiguidade.

Porque a Chapelaria Oliveira é o decana dos estabelecimentos comerciais famalicenses. Nascida a 2 de Fevereiro de 1902, hoje já na provecta idade de 113 anos e 10 meses. De excelente saúde, nada desmemoriada e sempre bem humorada. Parece que o segredo da sua longevidade está em vender…

O seu fundador chamou-se António Gonçalves de Oliveira. A Chapelaria era então oficina também, fabricava os seus próprios artefactos e empregava cinco costureiras. E ia à feira, do outro lado da rua, à velha feira do Campo Mouzinho, é preciso ser das colheitas já com cinco décadas e meia, ao menos, para haver lembrança dela. A Chapelaria Oliveira tinha lá assento cativo e compreende-se, era uma época em que, de garruço voltado abaixo àquelas chaminés para as mais solenes cerimónias, não sobrava uma tola a descoberto. São essas, aliás, as mais antigas imagens do meu Avô e dos da sua geração – sempre de chapéu de cabeça quando saíam de casa. E no eterno regresso ao ponto de partida que é a moda, vê-se por aí, o acessório está de volta, quer ao jeito catitinha, quer em abas de cowboy, eles integram já os cumes da multidão.

Deste modo o negócio foi prosperando e, nos Anos 30 do transacto século, passou de pai a filho, de seu nome Amândio Gonçalves de Oliveira, a quem sucedeu este outro Amândio, o meu colega, já nos 70’s do pós-liceu. De tudo resultando a soma de quatro gerações, em que a Chapelaria se mantém na mesma Família, e um tema para o qual o espaço escasseia aqui: o da valia de uma actividade profissional assim transmitida e continuada, sempre atenta às exigências da actualidade, no contexto de uma sociedade humana e humanista que é o que a Província supostamente melhor preserva. Por isso os meus votos de muitas felicidades e muito futuro da Chapelaria Oliveira.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 10.DEZ.2015)