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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O dono disto tudo

João-Afonso Machado, 08.12.15

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Roubou-me uma tecla do computador. E o isqueiro, o meu lápis de anotar livros. Acorda-me todos os dias à chicotada na cara, com uma cauda imensa de símio amazónico; pelas seis da manhã, muito pontual e exigente com o seu pequeno-almoço. E eu levanto-me e sirvo-o, obediente.

Escala os mais elevados cumes da casa. Partiu a perna do meu elefantinho de loiça pirosa, da feira de há quarenta anos: empurrou-o da última prateleira da estante para o abismo. Ataca as flores dos vasos, espalha as suas folhas pelos tapetes. Trepa para a mesa de jantar e olha frontalmente, fixamente como a serpente, nos olhos dos seus súbditos. Dorme na cama, como se calculará, mas faz noitadas de jogo com as maçãs e tangerinas da cozinha. Tem atitudes ora de suricata, ora de furão.

Abre gavetas e armários, infiltra-se. Coscuvilha à janela, debruçado. Espreita guloso o canário. Come e está gordo como uma lontra. Rebola-se no chão jamais duvidando de massagem que o espera.

É um estafermo. O ídolo da dona, o seu Teco. Simplesmente gato, como uma novela radiofónica, talvez por isso infinito, indutor de sonhos, omnipresente, impossivel de esganar. Assim nunca lhe pus as mãos a não ser para coçar as orelhas, como ele gosta, o diabo do gato. E ainda me esforço por lhe arranjar companhia, cavaqueira, um perdigueirito cachorro, um parceiro para o dominó.