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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Boas remadas!

João-Afonso Machado, 31.12.15

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No dia de todas as quimeras há ovelhas e carneirinhos no mar em terra e uma balsa com rombos por onde a chuva a sustenta à superfície.

A proximidade do lago demasiadamente quieto seria uma explicação de mesquinhos propósitos. O espírito anseia sempre a liberdade, conquanto se baste com a mansidão do gado pastando. Mas a irrazoabilidade das imagens desafia a imaginação. São outras as tempestades, o vento das palavras bátegas de impressões que inundam o desejado porvir.

Um ano mais, um ano cheio de coração e cor a devolver à balsa em paga das águas do seu evidente deslizar, ruína esquecida aos pés de um penedo qualquer.

Sejamos todos, meus Amigos, calafates de obra reconhecida, diploma de mestres. 

 

 

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 30.12.15

O baterista (Mick Fleetwood) dava o nome à banda e parecia capitanear com a sua batida esta cavalgada. Em 1977 o lema era de certeza esse: «Don´t stop thinking about tomorrow» porque «yesterday's gone» e estavamos quase com um pé na Faculdade. Nas festas em casa de amigos discutiamos isso e muito mais. Vinha aí a maioridade, o voto, a carta de condução para os mais abonados. Os Fleetwood Mac empolgavam a dança, o futuro parecia um oceano inteiro e os requebros de Stevie Nicks deviam andar no ar, tudo aquilo excitava e pedia mais. 

Na realidade, yesterday is not gone. Está presente na forma de saudade e reconhecimento. E no eterno Don't stop.

 

 

Tino! Tino! Tino!

João-Afonso Machado, 28.12.15

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O espantoso argumento, posto a correr, de Marcelo há anos em campanha eleitoral, por via dos seus semanais comentários na TV, esse raivoso queixume da inimitável Esquerda, é bem demonstrativo do que se irá passar já em Janeiro: um coro de cinco ou seis vozes candidatas, aproveitando os respectivos tempos de antena para, em uníssono, deitar abaixo o seu adversário, à partida o favorito - esse mesmo que, para eles, personifica a Direita. O mal a abater.

A questão não é excessivamente importante. Constituiria um puro exercício académico conjecturar qual a diferença entre Marcelo e, por exemplo, Sócrates, caso a vida tivesse corrido a contento deste último e, após tantos e tão corrosivos domingos de palco televisivo, concorresse às Presidenciais também. Mas que ela sobrexistiria, essa diferença, sobrexistiria sim.

Importante será constatar que a República é isto: um regime cuja chefia de Estado divide uma fatia de eleitores contra outra fatia dos mesmos, algo mais delgada.

Neste sentido, nem sequer pelas suas linhas programáticas (???), mas antes pelo seu resultado nas urnas, a única candidatura que serve a Portugal é a do Tino de Rans.

 

(Fotografia tirada de uma estrada calcetada de Rans, Penafiel).

 

 

 

Trocando impressões

João-Afonso Machado, 27.12.15

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As manhãs seguintes são de um imenso mutismo e não se sabe para onde foram todos. Ficaram cadernos, palavras, imagens. Um olhar fixo, tão demorado como os papeis antigos ainda por decifrar. E lá fora um galo que canta, quase um souvenir de loja citadina. A caneta acabou de escrever sozinha há aspectos muito positivos na tristeza. E não resistiu a acrescentar não tarda monta-se aí um passeio como manda a regra.

Assenti. A tristeza é apenas um silêncio ainda mais calado e sereno. Talvez o mais proveitoso momento dos livros. E ela calou-se num azul de quem já percebeu não valiam a pena os cuidados e adivinha próximos lugares para desenhar.

 

 

Mensagem de António Costa aos seus

João-Afonso Machado, 26.12.15

António Costa, em pose de incontornável comicidade, pendurado numa árvore de Natal, veio à televisão falar do seu menino-jesus, o Governo.

Augurou tempos difíceis, em que certamente terá de contar com a benevolência do PSD para não cair do poleiro, empurrado pelos seus aliados. E jurou-se confiante, rogou por confiança. Sendo para Costa a verdade um conceito puramente instrumental, a gente não acredita. Em nada. E não fia. Nada também.

Por fim, apelou ao regresso dos nossos emigrantes, apelo este de efeitos práticos inquestionáveis, quiçá orçamentáveis. E - ou-ou-ou-ou!!! - prometeu presentes para os festejos dos 40 anos da Constituição, dos 30 da adesão à CEE e dos 20 da criação da CPLP. Assim como quem mais não lhe ocorre - até lá pode ser que a miudagem esqueça, e depois logo se vê.

 

 

"Cantinho de Natal"

João-Afonso Machado, 24.12.15

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Os preparativos na cozinha, quase ultimados, seguiam o ritual de muitos anos. O rumo de todas aquelas travessas era o da mesa da sala. Nada fora esquecido e, numa onda crescente, instalava-se um ambiente de suavidade e ternura acalorado como um abraço. Talvez o descanso depois da azáfama, dos derradeiros votos de Feliz Natal! espalhados com o coração na imprevista descida à mercearia, por uma garrafa de Porto, um sortido mais de frutos secos.

Eram os dois, o casal, já em maré de cada dia uma vida. Tinham decorrido muitas décadas desde que o filho mais velho sucumbira numa emboscada em Angola. A rapariga, depois, casara e partira para França, não a bafejara a sorte: telefonava, escrevia de quando em vez, o regresso definitivamente estava posto de lado. Tudo doera, doía, muito. Tinham-se um ao outro, eram gente estimada, não faltava quem lhes valesse com provas diárias de dedicação. Consistia nisso a sua família.

Famalicão crescera muito. Longe iam as noites em que o motor de um automóvel, na Rua Adriano, riscava um percurso misterioso de faróis povoando de interrogações a escuridão. Viviam agora a desafogada simplicidade das suas rotinas de reformados. A constância do movimento no lado ignoto da janela da sala era absolutamente alheia ao seu Natal.

Nenhum deles se esquecera de uma pequena lembrança – mais do que uma surpresa, um desejo adivinhado, sorrisos rasgados de gratidão – embrulhos aguardando a sua hora aos pés do pinheirito decorado conforme os usos da quadra. Sem quaisquer artifícios electrónicos…

Ela dispensara-o dos arranjos finais, de modo a consentir-lhe acompanhar as notícias televisivas, um olhar arrepiado e protegido sobre quantos desmandos assolavam o mundo. Impensavelmente nessa noite! E depois foram cear – o que todos adivinham, o bacalhau cozido, pesadas garfadas de couves, a batata e o ovo a deslizar no melhor azeite duriense. Uma vez não são vezes e os doces natalícios, ele conhecia-lhe os hábitos, eram incontornáveis e enorme seria o seu desgosto se algum ficasse por provar – as rabanadas, os mexidos, a aletria, o bolo-rei… E um cálice de vinho fino a ajudar a digestão.

O brinde foi erguido no silêncio eloquente de quem diz tudo e tudo reciprocamente deseja de bom, então como sempre. Depois seria um nadinha de televisão como outrora fora o fado da telefonia, no fundo meros pretextos para um conforto que se instalara para não mais ir embora. Não demoraria a meia-noite mágica e a clara visão da Paz chegando consigo.

Lá fora, os enfeites natalícios vindo da Íris até ao cruzamento com a Rua Santo António, alguns longínquos foguetes, recordaram-lhes as boas almas vizinhas, como elas gozariam também as suas Festas. E as suas demoradas vidas de justos, consciências libertas, vencedoras dos desgostos, triunfantes sobre o sofrimento, agraciadas pela Fé. Regradas pelo carinho. – Feliz Natal! - desejaram-se ambos, uma vez mais, antes de fecharem as luzes para o repouso até amanhã.

 

(In Cidade Hoje de 23.DEZ.2015)

 

 

 

Contagem a decrescer

João-Afonso Machado, 23.12.15

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Há calor nas ruas e só pode ser do movimento. Há muita cor no cinzento já Inverno. E há amabilidade, lojistas satisfeitos, um infinito entra-e-sai de gente, o derradeiro folego de compras. Assim é o dia de hoje na Vila, agora pomposamente elevada a "Centro" da cidade em que entretanto se transmutou. A correr, alegremente em correria.

O dia de hoje, pois, o dia maior cá fora. Amanhã será mais na cozinha, mesmo à porta da noite mágica. Os minutos fogem, escapam-se qual gatinhos assustados. É como se já lá estivessemos, já tivesse sido.

(Aquando o último Natal vagaroso, segurado firme nas mãos do coração?).

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 21.12.15

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Foi uma precipitação a fuga. Aquietado entre a vegetação, o dinossauro só podia ser herbívoro, ruminando sem cérebro e sem pressas o pastar dos séculos. Para a próxima havemos de nos aproximar e sentir-lhe os palmos todos do pescoço. 

 

 

O "Jogo das Culpas" vai no Banif

João-Afonso Machado, 21.12.15

Do que se sabe agora, a venda voluntária do Banif foi inviabilizada, havendo o Governo de recorrer ao mecanismo da resolução. Somas feitas, a "operação Banif" custará cerca de 4 mil milhões de euros e o inevitável impacto no défice orçamental e no bolso dos contribuintes.

Afinal, um remake do "caso BES".

Sucede, no jogo de culpas que é a política, o nobre PS já atribuiu responsabilidades ao anterior Executivo e proclamou urbi et orbi a solução encontrada é a mais adequada à tutela dos interesses dos «depositantes, famílias e empresas»; também, por acréscimo, que não belisca as contas do défice.

Ouve-se, entretanto, a voz furacão de Mariana Mortágua imputando «crimes» a Passos e Portas, necessariamente os culpados seja do que for no descalabro do Banif. É a genética do saque da Torre Bela, está-lhe no olhar, na fala, nos gestos.

Talvez por tudo isto, a Esquerda ainda não se lembrou que preside à Administração do Banif Luís Amado (creio, aliás, uma pessoa de bem), por acaso um antigo ministro do Governo de Sócrates, alguém decerto oriundo dessas bandas de lá...

 

 

Coreografia

João-Afonso Machado, 19.12.15

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Sempre em volta do mote - simplicidade, o mundo avantaja-se nas estreitas ruas dos nossos olhos e ouvidos. Vai cada um pelo seu pé no vagar que mais lhe convenha. Num ponto final, decididamente inofensivo, à propriedade privada, por quantos sons e tons quem queira não consiga a sua reclusão.

Não é política, são pernas afeitas a andar; não são hectares, é uma máquina fotográfica; não se trata de lamentos mas dum instante da caneta. E de uma navalha afiada, um corte só: há arbustos de ramagens vermelhas sanguíneas, belas chibatinhas, junto ao lago do parque - assim como quem colhe uma flor ou descobre um adereço para a sua história nova.

 

 

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