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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O centro de negócios PS

João-Afonso Machado, 30.11.15

Em duas palavras - nada mudou. Apenas se tornou mais clara a percepção de que o Centro ideológico não existe e o Centro ponto de convergência democrática também não. O Centro é um lugar de negócios, uma plataforma para o Poder, e assim o PS nele se instalou sem vergonha e sem travões. No melhor estilo republicano-maçónico.

E a partir desse Centro de negócios o PS vem logrando comprar o Poder, coligando-se sequencialmente com o CDS, com o PSD e agora com a Esquerda unida. Sempre tudo correu mal, com os seus parceiros a virarem-lhe as costas a meio das respectivas legislaturas. Quando, de permeio, governou sozinho foi o pântano de Guterres e o repentino e escandaloso enriquecimento de Sócrates, o auto-proclamado desempregado. E foi também o tempo da bancarrota portuguesa.

Agora não será diferente. Como bem lembrou Marques Mendes, no seu habitual comentário da SIC, o Governo socialista realizará semanalmente dois conselhos de ministros: às terças-feiras em S. Bento, com Carlos César e os seus acólitos tentando demover os "ministros" do PCP e do BE e conseguir o seu agreement para as medidas a tomar pelo das quintas, presidido por António Costa.

É nesta lógica que deveremos esperar sentados o natal do Orçamento de Estado. De olho fito em eleições que Costa tentará promover na altura mais favorável, outro esquema que com Tsipras também funcionou.

 

É isso!

João-Afonso Machado, 29.11.15

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Este silêncio de manhãs dominicais, um silêncio quente e ignorante, vesgo, o silêncio das horas que não sairam cedo para o campo e dormem rodeadas de paredes...; preguiçoso, em corpo de gato, estendido na cama, perdido em ideias num feriado de estrofes ou perigando em convulsões de desenhos políticos, tão contraditório silêncio; ainda em jejum, salvo o choramingar de cachorros, espingarda adiada, vida que se pergunta - silêncio, quem és tu?; e busca a caneta, a mesma de há muito, as outras como nos museus, só em dias de desfile, esta de plantão no tempo infrene do silêncio agora dividido - porquê aqui?, porque não ali?; (ali, no sítio dos domingos, algures no frio dos montes, que badaladas já de onde?)...

Porque no silêncio dos campanários revigora o meu cuco cucando sem tino meias-noites pela manhã, há anos a cucar sem acerto, nem de outro modo seria silêncio; e o silêncio é muito mais, foi um pedaço da Ode Marítima no despertar, Álvaro de Campos no cais, o mar, o mundo, a cabeça nem sempre... no tal corpo de gato estendido (em cima da barriga) na cama. Só pode ser isso!

 

 

Machado, Fm

João-Afonso Machado, 27.11.15

Entre tantas e tantas versões escolhi esta. Acabam todas no longo e fabuloso Slowhand de 1977, mas nenhuma outra tem este final parecendo levado - desde o Live on Tour 2001 - no vento ou na dança ou numa noite sem fim. No Wonderful Tonigth do melhor guitarrista do mundo: Eric Clapton. Como se continuassemos todos rapazinhos e rapariguinhas.

 

Ontem, quando tudo corria bem...

João-Afonso Machado, 27.11.15

Diga-se de passagem, a Direita defendeu-se sempre desajeitadamente ante a triunfal cavalgada de Costa. Insistindo em brandir a "tradição", quando já a revolução desprezava argumentos, e invocando a "legitimidade" como quem faz uma vénia à "democracia", tendo por interlocutor apenas a ganância do poder. Esquecendo, enfim, que fomos e somos  o País da "maioria silenciosa".

Entretanto, ontem mesmo a Esquerda Unida desentendia-se no Parlamento. O motivo: a eliminação dos cortes salariais na Função Pública, da sobretaxa do IRS e da Contribuição Extraordinária de Solidariedade. As pressas do PCP, o compasso do PS.

E estavam nisto - e estariam - quando se deu a intromissão da bancada da Oposição, apontando a verdade verdadeiríssima da instabilidade à vista, das inocultáveis divergências da "Maioria", etc, etc. Mas...

O resultado foi a súbita re-união dos socialistas, comunistas e bloquistas. A discussão entre eles ia gira... mas cessou: a questão será discutida apenas na especialidade - em privado, digamos assim - e só então votada. Com Costa pelo meio, decerto, em mais um passe contorcionista qualquer.

Deixem-nos. Não una a Direita o que desunido nasceu à esquerda.

 

 

"O Alentejo aqui ao lado"

João-Afonso Machado, 26.11.15

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Foi no andar de uma conversa qualquer que despontou a novidade de um restaurante alentejano para as bandas das Caldinhas, um pouco adiante. Contada no tom viajado de quem acabara de chegar de Marrocos com o papinho cheio de comidas exóticas. Não é que eu vá ao Alentejo todos os dias, mas enfim… a minha Avó materna era de Borba e muito me aprouve saber da vinda do Alentejo cá acima. O almoço ficou logo planeado para o sábado seguinte.

Coordenadas: Areias, Santo Tirso, virar à direita logo após a igreja paroquial. Se o GPS se engasgar, é perguntar pelo “O Cansêras”. Ou, simplesmente, pelo “restaurante alentejano”.

O pátio da entrada condiz, as cores também, o cenário está montado a preceito. Os escritos todos no dialecto deles. A ementa variada e a sala tranquila como a sombra de um chaparro. No demorar da conversa fui confirmando não se tratar apenas de uma ideia patusca: encontrava-me mesmo, quase na hora da sesta, na embaixada do Alentejo no Minho.

Assim as excelentes migas com supremos de porco, precedidas de queijinho curado de Serpa e regadas em branco da terra da minha Avó, foram ainda acompanhadas por um interminável passeio no mundo transtagano. A medir longitudes por mim alcançadas, quer à caça, quer em simples passeios. Explicando um pouco melhor:

O Chefe Vieira da Silva – o proprietário – provém da região de Beja, trouxe-o o seu casamento com uma senhora de Areias. A brincar, a brincar, vão lá treze anos abriu o estaminé e a gente nada sabendo! A gente… As paredes de “O Cansêras” estão repletas de fotografias encaixilhadas de conhecidos e até alguns amigos. Então e nós?... Um intricado enigma que desisti de perceber…

Mas, dizia eu, aquela quase metade de Portugal não me é de todo estranha. De modo que andámos de ali para acolá como se em curvas derrapadas no mapa. Invocámos os nortes da Amieira e de Niza, a beleza de Castelo de Vide e do Marvão, as minhas raízes no Crato e a capital Portalegre; de Évora, o santuário gastronómico do “Fialho”, a raia de Barrancos, Santo Aleixo da Restauração, o grande lago do Alqueva; as castelanias de Montemor, Monforte, Estremoz, do Redondo; tantas herdades onde andei de espingarda na mão: Vale Manantio, a Mingorra, o Vau, Vale do Gaio; a beleza do Guadiana, o Pulo do Lobo, Serpa numa margem, Mértola na outra; as planuras da Cuba, Ferreira do Alentejo, Beja; … e um silêncio envergonhado sobre o litoral entre Sines e o Cabo de S. Vicente, para mim ignotas paragens.

Salpicos do muito em que os famalicenses deviam meditar. Um naco enorme de Portugal hospitaleiro até mais não, aprimorado na cozinha, conservado na arquitectura, nos costumes, na História. Ou a negação da penosa imagem de umas travessinhas mal ataviadas em Canal Caveira nos idos recuados de peregrinação ao Algarve.

Porque, em suma, “O Cansêras” também é isso: uma espécie de documentário sobre o Alentejo e a sua anatomia. Na certeza de que, ao fim de treze anos de “cansêras”, os alentejanos identicamente gostam destas bandas de cá. «Sem stress» - acrescentaria o Chefe Vieira da Silva!...

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 26.NOV.2015)

 

 

Momentos do quase ouvir

João-Afonso Machado, 25.11.15

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Entre a hora do dia e a da noite o palpável dos espelhos, as imagens da alma. Podíamos falar, talvez fosse mesmo aconselhável, mas de mim ficou sempre tudo dito. Fundamentalmente os pilares, como vês tão fundo cravados.

Depois resta somente o silêncio e a força dos remansos. Da sua quietude. É neles que atento e conto os minutos todos do fim da tarde como se fosse verão e amanhã chegasse mais cedo entre as árvores carregadas de frutos e promessas. E de certezas também.

 

 

Soares com Sócrates, Costa sem Soares

João-Afonso Machado, 24.11.15

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Entre a inesquecível apoteótica recepção a Paulo Pedroso na AR e os almoços e jantares públicos em que Sócrates é protagonista, sobreleva unicamente a ética socialista (ou republicana, como quiserem). Com imensa vantagem para o sentido crítico dos portugueses.

Tal como Pedroso, também Sócrates morreu já para a política. O desfecho judicial é de somenos importância na avaliação da sua conduta. Sócrates poderá até ser inocentado dos crimes de corrupção de que será acusado. Mas o facto permanece - a sua riqueza, acumulada durante a sua governação, a mentira de quem se afirmou pobre e desempregado, a apetência pelo luxo enquanto a maioria dos seus concidadãos lutava pela subsistência.

Por isso, juntar 400 apoiantes ou comprar a si mesmo 30.000 exemplares de um livro da sua autoria dá em igual - na demonstração de uma patologia megalómana. Ou num imenso ruído produzido para silenciar a verdade.

De interessante, apenas um ponto a registar - a presença de Mário Soares neste último almoço de desagravo em Lisboa. A natural debilidade da saúde do patriarca socialista poderia explicar o seu silêncio face às peripécias de António Costa, no assalto ao Poder a que vimos assistindo. Mas, afinal, não explica!

 

 

 

O fantasma de uma noite sempre

João-Afonso Machado, 23.11.15

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Nunca mais voltará a ser um local simplesmente bonito. Tal a força de um momento e da desgraça. A velha ponte está lá, sempre presente, sempre cravada no Tempo, como se ainda agora vivessem esses minutos inimagináveis de escuridão e terror num regresso inocente e castigado pela morte.

A 4 de Março de 2001. Uma excursão inteira tragada pelas águas imparáveis do Douro, o autocarro descoberto umas centenas de metros adiante. Mais dois carros, outras vidas desaparecidas no precipício aberto no tabuleiro da ponte.

Corpos de que não se soube onde. Outros devolvidos aos seus. Sobrou a memória, o anjo rendido, tão alto e tão impotente, por maiores que fossem as suas asas Deus assim quis.

A História guardou o que podia guardar, um nome e um arrepio - a tragédia da ponte de Entre-os-Rios. Talvez o inconformismo das familias das vítimas. A História tende muito para a Estatística e para as romagens. Não sei se será como eu, buscando ainda agora captar os dizeres dos padecentes, o pavor dos últimos instantes, todas as minhas palavras tentadas sem efeito.

Nos vestígios areados de um pilar da ponte atraiçoada, traiçoeira, morta, imortalizada, ouvem-se ecos indecifráveis, olhares que eu imagino olhar. Há um monumento, fotografias, invocações, umas escadinhas e as águas em dias sim e dias não. O anjo nunca mais levanta a cabeça porque o fantasma surge com dezenas de vozes e sem distinção de idades. 

 

 

Caprichos de menino rico

João-Afonso Machado, 22.11.15

Percebe-se o desempenho de Cavaco: quis ouvir gente, como quem diz, quis que Costa ouvisse o que a gente pensa dele ou (no caso da CGTP) se propõe fazer com ele. A audição dos economistas (de Salgueiro a Teixeira dos Santos) foi elucidativa, exemplar e talvez escape à tradicional amnésia dos portugueses.

Nada que obstaculize a "entronização" de Costa, o pobre menino rico. Virá depois a discussão do Orçamento para 2016 e outras balbúrdias, contando até o congresso do PS. E a oposição dos partidos da Coligação, a quem Costa desavergonhadamente acabará por se encostar, apelando ao "sentido patriótico" da Direita.

Costa é isso mesmo: incoerente como um rapazote instalado com prosápias de idealismos esquerdistas que, na hora do aperto, ante a ameaça da polícia e da cadeia, telefona ao pai a pedir uma cunha ao ministro. Pior ainda do que Mário Soares, no seu soit disant exílio nos boulevards de Paris.

 

 

 

"Cinzento"

João-Afonso Machado, 20.11.15

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É já o tempo das árvores despidas,

o tempo da noite

e das madrugadas incontidas.

 

Um tempo sem cor,

horas errando, desgovernadas,

nos ecos azuis

do calor

 

e nos passos em que possuis

formas regradas, instantes escassos

 

onde caminhas o outono sem rumo,

mas dono

das minhas palavras.

 

 

 

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