Do que se percebe em República e não se aceita em Monarquia
Fala-se pouco em Vítor Crespo, o escolhido chefe do Governo da AD após a demissão de Balsemão, em 1983, recusado pelo Presidente Eanes, não obstante a maioria parlamentar que o suportava e somente porque os seus mentores políticos - Melo Antunes, exactamente - assim manobraram.
Nunca se falou muito da desdita da coligação maioritária PSD/CDS, após Santana Lopes e a convocação de eleições pelo Presidente Sampaio, episódio marcante da milagreira ética republicana.
Fala-se e brada-se contra o Presidente Cavaco e a sua falta de pressa em chamar António Costa a Belém.
Falemos claro: Cavaco aguarda o, no seu entender, probabilíssimo desentendimento entre socialistas, comunistas e bloquistas para esgrimir o argumento da instabilidade e da fragilidade da solução arquitectada por Costa, e deixar as coisas andar a ver no que dão. Não é diferente dos seus antecessores - apenas está no lado oposto.
(E, do meu ponto de vista, comete outro erro cujo resultado será um cimento mais forte à esquerda, uma governação que, afinal, perdurará muito além do desejável. Quando bem poderia ir ao fundo já na discussão do Orçamento para 2016).
Mas tudo isto é natural e próprio dum Regime republicano, semipresidencialista e partidocrata. Ao aceitá-lo (este Regime) não podíamos querer diferente.
Há dias, entretanto, SAR o Senhor D. Duarte disse em entrevista daria pernas a um Executivo de Costa. Logo o ultramontanismo se indignou e invocou D. Miguel e Salazar. Compaginando o Rei e o ditador... Como que ignorando confrangedoramente a Monarquia actual só pode ser de base parlamentar, competindo ao Trono - não apenas cortar fitas, à moda de Américo Tomaz - manter um contacto permanente com as forças vivas da Nação de quem é o símbolo vivo. Porque a Nação o aceita como tal na exacta medida em que se mantém equidistante das querelas partidárias.
Ou alguém estranhou Juan Carlos de Espanha tenha empossado Felipe Gonzalez e Zapatero à frente de governos socialistas?
Em boa verdade, não são apenas os radicais islâmicos a operar maravilhas através das redes sociais: a Maçonaria (descredibilizando a Dinastia) também consegue amputações cada vez mais irreversíveis.