Cadernos da alma
Gosto do rumor da folhagem de onde emerge o incansável agitar das pedras na História. Na sua aparente imobilidade que é o acrescento dos anos e das gerações, argamassa de sangue e do génio passado do futuro.
E talvez mais não faça: ir por essas pedras atrás da História. Nem tanto na mira dos factos, antes no sondar dos sentidos. A tentar sempre traduzi-los em palavras.
Assim aprendi a respeitar o meu caderno, a poupá-lo a impaciências como os cães também preferem. Talvez não seja este o momento para falar na caneta, parte integrante do trajar de todos os dias. Mas ela é da História, é outra história, dispensando o teclado dos computadores, a escrita sai assim, entre os dedos, para esse caderno onde não há páginas rasgadas, apenas escrita, escrita e mais escrita. Insondáveis tentativas de escrita.
Em qualquer erguer dos olhos para o Tempo, a caneta é um contínuo passar da mão pela memória. O caderno o lugar de alguns riscos, sucessivas precisões. Disto organizei vida: tentando todos os dias conhecer melhor as palavras, o que elas falam aos sentidos. Entre o rumor da folhagem, ouvindo o emergir das pedras e das emoções, o sangue por que sou o meu coração.