Creixomil nos rumos da memória
É esta estranha simpatia pelos calções da memória. Nos solavancos de um VW Carocha, entre dizeres que já não se dizem, conversas de antigamente e os olhos nas margens da estrada. No muito que elas têm para contar desse tempo. Por isso, antes de travar a fundo nas recordações, uma derradeira guinada para os sucateiros, depósitos preciosos das bermas, onde apetecia mexer, mirar e remirar, continuar a sonhar.
Nesses vagares o mundo era mais igual. Mais ajardinado ou mais bovino. A estrada corria descontraída e sobreviviam ainda os gaios e os milheirais das jornadas de Camilo.
E, finalmente, o prenúncio da cidade. Ainda não era cidade mas não tardaria a ser. A estrada comprimia-se no casario de um lado e outro. Transformara-se numa rua de portas abertas em esgares de vinhos e moelas.Tudo no recomendável granito, parecia então, com picos de inusitada altitude, era Creixomil, no advento de Guimarães.
Depois a nova estrada trouxe o ostracismo. Não fora o surrubeco dos calções da memória... Voltar a Creixomil foi quase uma missão de mensurador. Os prédio estão lá, rijos, azuleijados, em pedra bem trabalhada, e ainda enormes. Sem outros maiores. Mas de varandas rasgadas para uns dias que lhes partiram os vidros e trocaram as cutelarias por umas conveniências quaisquer. Rasgando-nos no coração uma imensa hesitação entre o silêncio apaziguante e a dor do esquecimento em que Creixomil é ou não é.