Sons remotos do leite
À luz ténue do lampião esguicham memórias em calções: era o rematar de um dia de trabalho, a ordenha. O banco de pau, gente de volta, um balde de latão e os cuidados devidos aos pernões das mais impacientes. Uma prudência de início chamada medo em face do medo maior da troça dos mais velhos, já tão batidos naquele ritual.
E tudo, afinal, muito simplesmente as tetas da vaca comprimidas pela raiz entre dois dedos que as pressionavam até à ponta. Ouvia-se, não se via, o jacto ecoando no fundo do recipiente e depois a cantar com uma bica apontada ao fontenário. O mais era o peso do balde, asa de madeira, e uns quaisquer braços assisados a vertê-lo em uma, duas, três bilhas, o pão ganho em mais uma jorna. Por junto com a arte adquirida de esquivar ao coice.
Entre caseiros, rapazes do campo, o pessoal da lavoura. Gado galego, torino, as charolesas vieram depois. Anoiteceres de antigamente, tão presentes quão salutarmente o leite ajudava a crescer.