Baiona fora dos postais
Procuro, velho amigo, as ruas do teu exílio de há tantos anos. Como se tornasse a um silêncio que te soava apenas a ausência, e por isso a série imensa de postais teus ainda guardados no sotão. É uma caixa de sapatos inteira contando o cais, o regresso das traineiras, as tardes todas de espera do entardecer, o momento decerto de algum sentido da solidão.
Assim me encontrei na multidão que aposto não enfrentavas. Numa corrida de imagens onde jamais conseguiria igualar, velho amigo, o outro lado das tuas letras de vontade de regresso. Desculpa a incompreensão, a minha ligeireza ante os teus males vagabundos. Mas esses retratos não são meus e parece todas as traineiras foram embora, a vinda do pescado também, mesmo as gaivotas nem se dá por elas. Uma tremenda desilusão de tardes sem sentimentos chamada marina.
Fico-me apenas pelos teus postais, velho amigo. Pelos teus filosofados garatujos. E faço minhas as tuas dores de exilado, tão longe me encontro também do lugar onde devia estar no Tempo. É isso, cheguei quarenta anos atrasado. Sem sequer poder ir, calles fora, até um petisco qualquer, desses que, contavas nos postais, te consolavam então.