Bandeirantes do jamais
Com alguma frequência, lêem-se e ouvem-se por aí apreciações façanhudas sobre as raízes históricas, a duração das nossas atribulações, o infernal futuro que nos aguarda se não regressarmos a um passado aliás muito mal interpretado. São apreciações em que a invocação do Maligno é sobejamente utilizada na avaliação do "estado da Nação". São, afinal, as apreciações dos tremendos "nacionalismos".
E neles impera uma rigidez de conceitos que se pretendem os paladinos da verdadeira liberdade - uma liberdade feita de heróicos sacrifícios pela Pátria e pelas suas antigas glórias. Com imensas louvaminhas às tradições, às hierarquias e a usual postura: quem não é como nós é contra nós.
É o mito, a retórica, o populismo, a subversão da História e toda a agressividade à flor da pele, logo que ao segundo argumento esbarram com a impossibilidade de responder. É a intransigência, o dogmatismo e a auto-legitimação para o castigo da excomunhão - da classe política em geral, e de outras figuras de segundo plano - o Papa, o Rei - em particular.
Assim tais patriotas se vão excluindo uns aos outros, sentados à epopeia dos seus computadores, brandindo espadas de cruzados e imaginando novos cismas, novas dinastias. Recuados aos tempos da hecatombe dos comunistas. Incapazes, em suma, de entenderem a essencialidade da liberdade individual e a importância das entidades de referência por eles amesquinhadas.
Tudo exactamente ao contrário do sentido da rotação da nossa vida. Danificando letalmente o porvir.