Dias onde se sentem os anos
Faltam já uns quantos amigos. Partiram ou em casa ficaram, não vieram. Tanta coisa é outra, as nossas pernas, o peso em cima delas. E as costas, essa recordação chamada agilidade... Os nossos parceiros, os nossos cães, vão agora na geração dos bisnetos. Mas é a alma ainda quem manda. Haverá muitos outros primeiros dias, ilusões e desilusões, tiros a despertar o alvorecer, a inquietar as manhãs, e qualquer peçazita para pendurar no cinturão.
E sobretudo não findará o momento inexcedível das estátuas. O vagar olimpico do alerta. O disparo, o cobro, a gratidão do pai. A conversa com os filhos, mesmo com a medrosa colada aos calcanhares, de mãos apoiadas na cartucheira a pedir protecção, uma festa na cabeça. A ganir. Enquanto a outra se desunha a trabalhar. Arquejante, imparável.
Ao meio-dia todos assamos já sob o sol. Quatro codornizes, quatro proezas da pequena. Está feliz, fez-me igual, a assustadiça retoma a sua vocação, já brinca. E a gente tem fé: a este ano seguir-se-á o próximo.