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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Caminhos da escrita sem mapa

João-Afonso Machado, 31.08.15

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As Primeiras impressões de um sobrevivente de ontem foram, há já quase uma década e meia, as minhas memórias - escritas no correr da pena - de um ano diferente, um ano em que foi preciso aprender a viver outra vez. Eu sei a quem a sua leitura seria insuportável, mas às vezes vou lá (de cabeça erguida, pois), passo os olhos por uma aleatória meia dúzia de páginas, e é como se reencarnasse o Tempo, em tudo o que conserva de revolta, dor e ternura, de ináudito e de resignação ou força. Assim aquelas Primeiras impressões se imortalizaram em mim mesmo, triplicadas à cautela em ficheiros e pastas, se bem utilizo a linguagem informática. Que na minha simplesmente conservo a resistência mãe da minha sobrevivência...

Depois houve mais papelada. Mormente em alturas de caça e viagens. A lembrança das coisas que vemos e sentimos e nos perfuram a alma como bagos de chumbo.

Ainda agora retoco o meu "diário de bordo" por terras de Sua Magestade Britânica. Porquê? Para quê? Eis a questão.

Porquê, já o disse. Porque as emoções precisam de um traço na sebenta, um contorno convenientemente desenhado, e tanta tinta lá dentro quanto elas mereçam pelo seu colorido. Não sei como melhor me expressar, é só esta necessidade de encontrar as palavras que me definam. E partir em busca de mais.

Para quê, ao certo não sei. Provavelmente para nada. Títulos editados já os tenho em quantidade bastante. Coisinhas pequenas, continuo a espalhá-las por aí. O resto? O meu mundo só meu? Talvez a derradeira demonstração de que eu sou eu esteja em levar esses escritos em cinzas com as minhas cinzas soltas na Eternidade. O "talvez" é muito do meu mundo, é na verdade um "enquanto". E talvez um dia saiba explicar as explicações que por enquanto me impeço de dar.

 

 

 

Nas rotas do menos fácil

João-Afonso Machado, 30.08.15

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Porque não a estrada, mesmo serpenteando ao sol despida de arvoredo, calçada em alcatrão, mãos dele atiradas a caras afogueadas e sedentas? Horas de estrada e calvário? Porque não?

Foi testemunho, testamento, romagem, cirurgia. Foi o que não podia deixar de ter sido. Uma vida, o retorno ao seu início, o grito de quem tem ainda muito para gritar ao mundo. Foram as pedras, soltas ou em escadinha, os quelhos e as silveiras e quem se achou capaz de entender e acompanhar. 

Seis quilómetros suados até à raiva. A vertigem da memória numa linear escalada sempre sob o risco da imperceptibilidade. Em cada tropeção outro porquê e um porra! exclamado e erguido em renovada vontade de prosseguir.

E lá no topo a aldeia em pose de quem toma o mundo por formigas discreteando tão longe, tão nos antípodas da persistência e do gozo do triunfo. Foi por isso. Afinal havia um sentido. E muita força no corpo e na alma.

 

 

Costa às cegas no Observador

João-Afonso Machado, 30.08.15

O planeta acordou com um artigo de opinião de António Costa no Observador. Espantosa cedência daquele valhacouto de «direitolas», como tanto se asneira por aí!...

Espantosamente também, Costa não aproveitou a oportunidade e por isso nada pôs no papel. Deixou-o vazio de ideias úteis e marcado apenas por algumas banalidades auto-incriminatórias e a crença pagã num documento (mais um), fruto da reflexão da «família socialista europeia» - Novo Impulso à Convergência de Portugal e Espanha, assim se denomina o fabuloso postulado.

Tudo porque, só agora descobriu Costa, - «europeísta convicto» - «as uniões monetárias não aceleram a convergência, antes acentuam as assimetrias entre as diversas economias».

Demorou a perceber, sem dúvida. E pasma-se quando Costa, num assomo patriótico, invoca «Portugal ganhou sempre que soube ser proativo e estar no centro do aprofundamento do projecto europeu. Claro que isso exige um esforço acrescido relativamente aos "grandes", aos "não periféricos", aos "ricos"»!

Mas Portugal ganhou o quê? E quando? Graças a que «esforço acrescido»? De quem? É de dinheiros comunitários que Costa fala?
Ou dos governos de Guterres e de Sócrates? Ou do fujão Barroso?

Em definitivo António Costa tem de seu apenas a vontade do Poder. Acontece, aos que se viciam na Política. Veremos como manobrará os seus trinta e pouco por cento de votos em Outubro.

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 28.08.15

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Sei da História o bastante para apontar o dedo mar adentro e falar do sangue deixado em terras outras perdidas no Tempo. No inimaginável azul da lagoa, velame e cordas que ainda me amarram.

 

Costa e a "identidade" dos seus "pontos de vista"

João-Afonso Machado, 27.08.15

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Nuno Melo foi pesquisar - confesso, aguardei sossegadamente alguém o fizesse - e, em crónica ("O Canto da Sereia") de hoje no JN, transcreveu algumas excertos da boa retórica do líder da bancada socialista no Parlamento em 2002. Era ele António Costa e a visada a então ministra de Estado e das Finanças, Manuela Ferreira Leite.

Discutia-se uma alteração ao Orçamento e, conforme se verá de seguida, era (e ainda deve ser, claro) manifesta a «identidade de pontos de vista muito significativa». Assim expressa:

- «Com protestos da minha consideração pessoal, sabemos que a senhora é a legítima testamenteira da arrogância cavaquista neste Governo. A senhora não tem competência política, a senhora não tem credibilidade, a senhora não tem autoridade para dirigir-se à nossa bancada nos termos em que o fez.

A senhora não tem autoridade para falar em rigor. A senhora não tem credibilidade política depois de tudo o que disse quando estava na oposição. A senhora não tem competência política. A senhora pôs a Educação a ferro e fogo, teve de pôr a Polícia de choque nas ruas e nem à bastonada conseguiu resolver um único problema na Educação.

A Srª Ministra é o verdadeiro oposto do rei Midas: onde toca, estraga!

Com o orçamento rectificativo que nos apresenta, a senhora continua a não ter autoridade nem credibilidade».

 Isto posto:

Antecipando eventuais comentários alusivos a um qualquer medo da reacção de Manuela Ferreira Leite face ao piscar de olho de António Costa - medo porquê, se o problema passa ao lado dos apartidários? - concluirei dizendo apenas que, às tantas, Costa falou verdade. Por isso mesmo se impõe a rejeição dos seus «pontos de vista» sobre os quais ele mesmo se pronunciou nestes termos.

 

 

 

 

O mundo é desumano

João-Afonso Machado, 26.08.15

Vão lá uns meses eram notícia de segunda monta quando naufragavam a meio da travessia do Mediterrâneo. Depois transformaram-se em pretexto no auge demagógico do Syriza. E de repente batiam, aos milhares, à porta da Grã-Bretanha.

Oriundos da Síria, do Iraque, do Afeganistão, da África islamita, fogem simplesmente à destruição sobre a qual o mundo restante mantém um silêncio prudente. Ninguém quer um atentado em casa e esta nova multidão - a que já chamam «os migrantes» - faz-se diariamente da convergência de sobreviventes.

Já cá estão e continuarão a vir mais. A Grécia (que não tem para si, quanto mais para os outros) é apenas o ponto de desembarque. A Macedónia o passo seguinte. A fronteira de ambas ficou mais calma quando se percebeu a rota da Sérvia, Bulgária e Hungria. Porque não enviesar logo para a Rússia? É muito longo o percurso até a Alemanha, o Reino Unido, a Escandinávia.

Mas vão em busca dos Estados ricos, os únicos onde poderão garantir a sua subsistência. Com ressalva do império de Putin, outro planeta, outras maneiras...

E os ditos países ricos fazem o que podem: criam hot-spots, tentam preferir os refugiados de guerra aos que apenas procuram melhores condições económicas. Poderão fazer mais? Há quem diga que podem e devem fazer tudo, mas esses são os "solidários" que costumam fazer nada.

A avalanche não há de ter fim. É o desassossego perpetuado nas fronteiras e vias de comunicação por mar e terra. O mundo está completamente desregulado, incapacitado para atender a todos os dramas pessoas, à dor de cada um. Até quando os migrantes? Onde continuar a dar-lhes acolhimento?

(Com o Governo português de malas aviadas, vergado ao peso das suas culpas neoliberais, resta a esperança na solidariedade socialista. Um lar, um emprego... Assim eles acreditem nas promessas de Costa e me desculpem parecer brincar com os seus males).  

 

                     

In memoriam do "povo" de Vilarinho das Furnas

João-Afonso Machado, 25.08.15

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A força dos homens trancou as águas e deixou-as a espreitar pela fechadura num esguicho de raiva e espuma silvando lá em baixo. Construiu um lago crescendo da espinha dorsal dos montes até muito além das necessidades dos monstros de sangue frio. Mas não há profundidade capaz, às vezes, de ocultar a memória. Correram muitas décadas entre as pedras soerguidas em certos verões, os vestígios da aldeia perdida. Por onde se espalharam os bocados sofridos do dilema?

Qual seja ele - porquê o sacrificio de quem? 
Se até mesmo Noé construiu a arca na firme esperança de um dia, com os seus, regressar a casa... Rodeado dos animais e da flora que o Criador destinara ao seu recanto...

 

 

Em nome da perfeição

João-Afonso Machado, 24.08.15

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Entre todas as cores impossiveis da água pura escolho a escuridão de uma partida injusta. Cá de cima, onde ainda não percebi como a vida flui, ocorrem-me também chuvas e caudais. Foi assim. Com saudade, num abraço, e a certeza da correnteza.

Sabendo apenas no fim dos fins o estuário é de todos nós. E o mais é o indecifrável caminho do Tempo rumo à morte de Cronos, o tirano. (Como será o espaço do tempo que falta?...). Uma contagem sempre a descontar, os olhos na erosão da pedra e dos ossos, essa ilusão que a Vontade há de vencer.

 

 

A extinção do gado bravo

João-Afonso Machado, 22.08.15

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A tourada, em recente formulação dos "contra", é apenas "tradição". O que, devido ao sofrimento do touro, bastará para a proibir.

Ora a tourada não é, evidentemente, "tradição". É, goste-se ou não, em si mesma espectáculo: a arte equestre - a atitude do cavalo, a perícia do cavaleiro - a destreza, a coragem e o apego dos forcados, o sangue-frio e a postura dos matadores e novilheiros. A tourada é, sobretudo, as praças de touros invariavelmente cheias, o ponto de encontro de todas as proveniências sociais por muito que a demagogia reduza o fenómeno ao inefável "marialvismo". E, não fora assim, não se manteria a tourada a pé firme nas emissões televisivas.

Isto posto, os touros: o gado que vagueia na lezíria. Terminantemente não leiteiro, vagamente para carne de consumo. Pastando e ruminando por ali em resultado de um valor económico que é só seu - o do gado bravo.

Sem a tourada, a lezíria necessitaria procurar outros moradores. Não há, em Portugal, espaço campesino que se possa dar ao luxo de não ser rentável. Para isso já basta o Interior desertificado.

De modo que, sem a tourada, seria o fim das ganaderias e de uma raça exclusivamente ibérica: a do dito gado bravo.

E sobre o seu sofrimento: é, em vida, muito menor do que o da população aviária e de outras espécies que adquirimos depois nos supermercados. E, na morte, menos atroz do que do porco, esfaqueado goelas adentro, sangrado e retalhado. 

Não é a tradição que mantém a tourada, mas sim a adesão popular ao espectáculo. As coisas são o que são, por muito que elas possam servir para falsas causas políticas. Quanto a estas, aí vai um facto, uma motivação - o abandono de cães e gatos "de estimação" pelo fútil motivo de férias ou quejandos.

Dá menos nas vistas mas é mais premente. 

 

 

 

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