Não tenho para a troca
No espraiar dos anos, uma fúria de ruídos e cimento e alumínio dispersa a minha colecção de varandas. A que nunca subi, mas é como se nelas me debruçasse sobre as memórias da Vila. Gozando tardes soalheiras de acontecimentos insignifcantes, o mais agitado dos quais o pendular, enfarinhado, aviamento da Padaria Varela. Ou a deslumbrante visão de alguma princesa de lá, nela também reparou o automóvel vindo do sul, o terceiro ou o quarto em meia hora. Os claxons são menos frequentes do que as gaivotas em terra, não houve quem não voltasse a cara. Aonde irá, sempre assotainado, o Sr. Arcipreste?
É isso a minha colecção de varandas. Sob dísticos ou nesgas de ruina, portais entaipados, a saudade dos desconhecidos, um telhado anónimo, a imaginação ao ritmo dos relógios de bolso e colarinhos engomados. Acertando o passo, tango castigador, até ao Ateneu de outrora, varanda em ocasiões de baile por descobrir.
Aqui e acolá, nos espaços menos cavalgados pela cidade.