Vizinha
Gosto de a ver assim, de manhã, do outro lado da rua, rodeada de verde, já sentada à varanda.
Invariavelmente quieta, as janelas sem expressão, o jardim frontal ainda e sempre à espera do barbeiro. Com todo o seu volume desafiando os anos, no ar uma impressão de história madura, pronta a ser contada. E uma multiplicidade de ângulos, o goniómetro inteiro, a cada momento torrentes de novos ângulos sugerindo exercícios fotográficos, mais daqui, mais dali, será desta?... A geometria das ideias e dos sentidos tendendo para o infinito.
E a palmeira e o pachorrento Serra vagueando entre os canteiros, guardião dos tempos, ladrar silencioso como uma memória que prefiro apenas imaginar.
Do outro lado da rua, todos os dias, todas as horas, do outro lado dos olhares, todo o sempre possivel.