Seguro & Silva
Na convergência de estilos que, cada vez mais, assemelha os mundos da política e do futebol, é como se um qualquer congresso sportinguista acertasse a punhalada em pleno coração do coach Marco Silva. Essa a dimensão humana do episódio "Jorge Jesus", um contratado para a vitória total. Como no caso do malogrado Seguro também.
Era o primeiro ano de trabalho de Marco Silva. Do enunciado das suas obrigações profissionais não constava a galardão da I Liga. Marco Silva não conseguiu ir além da Taça de Portugal, um triunfo menor, quase sem direito a businadelas e entupimento do Marquês. Uma maioria relativa, digamos assim. Insuficiente para aplacar a fome e a sede do leão.
Com Jesus (o da Amadora) disponível deu-se o golpe palaciano. Leia-se: do balneário. E porque Marco Silva não resignasse de sua livre vontade, foi despedido com justa causa, ao jeito da conspirata estaliniana. Rectius: partidária.
Jesus da Amadora é o António Costa da alegoria. Aliás, caríssimo também, um pesado encargo. E não é de todo certo este despesismo dos clubes - e dos partidos - produza os resultados almejados. Muito pelo contrário. Na improvável vantagem sobre os seus rivais históricos - o Benfica e o Porto - como se explicará a si mesma a nação sportinguista? O que buscará a seguir? Será capaz de voltar atrás e reconhecer os direitos indemnizatórios de Marco Silva? Haverá dó e piedade?
O futebol criou um círculo vicioso de onde os "grandes" cada vez são menos capazes de saír. Um ciclo... ou um circo à boa maneira da Roma antiga e sedenta de sangue. Proliferam os gladiadores, os mercenários. Vale tudo para vencer, como nos senados da nossa política. Há algo mais sádio nas terras pequenas e na II Liga, dita a Liga de Honra, e a verdadeiramente competitiva.