Sócrates - a tragédia
Estava-se mesmo a ver. Até sobre o assunto se pode escrever em cima do joelho. Sócrates recusa a pulseira e obriga o Procurador a escorregar na casca da banana que, inadvertidamente, atirou ao chão. Sobrou para o Juiz Carlos Alexandre.
Entre a jaula e a trela, até hoje não houve quem não optasse pela segunda. Mas a generalidade das pessoas não têm ambições políticas por aí além e são - mesmo os mais teimosos - de teimosia comedida. Sócrates não é assim. E a oportunidade do melodrama surgiu enfim.
Surgiu na forma de um homem que se imola na defesa dos direitos dos cidadãos. Que agora corporiza a resistência dos injustiçados. Sejamos realistas: de um homem que sabe que toda a persecutoriedade (designadamente para com a Imprensa) que caracterizou os seus tempos áureos já foi esquecida.
Surgiu - e esta é a principal questão - na forma de um homem que espalha papeis por toda a parte, chorando o que diz ser o seu julgamento (e condenação) na praça pública. Quando é ele que traz para essa mesma praça pública a audiência onde pretende ser absolvido pelo eleitorado.
Os sonhos de chefia de Sócrates ainda não cessaram. Sócrates desconhece, aliás, o que não seja isso, a política. De outro modo convir-lhe-ia mais o recato, o esquecimento. Como um Duarte Lima, um Dias Loureiro quaisquer.