Challenger
Não tarda, o trânsito automóvel entupirá o funil. As auto-estradas são muito esse logro, nas horas que todos conhecem, e os juizes deram agora em ser pontuais, exigindo pontualidade. Para muitos, muitíssimos, é como se a gasolina brotasse da torneira da cozinha, e a incógnita persiste sempre: o que demora mais - chegar ou estacionar?
Em meia hora de boa marcha a pé está-se lá, na estação. A manhã quase implora pela caminhada. E a pontualidade dos combóios pede meças à dos juizes de hoje. Aqui para estes lados tudo é harmonia de horários. As carruagens seguem cheias: de ouvintes de música, leitores de jornais, conversadores inveterados, algumas cabeças tombando de sono. Será coisa de três quartos de hora e os derradeiros vestígios da Provincia, antes dos primeiros nacos do estranho mundo dos arrabaldes citadinos: um sistema solar com planetas como a Travagem, Ermesinde, Rio Tinto, Contumil e vestígios dos rios de antes da chuva de meteoritos e codornizes de ontem à noite, ainda nas montras das churrasqueiras. Mais uns quantos salões, ora de cabeleireiras, ora de seitas religiosas. Ou o chalé brasileiro abandonado, ali a dois passos de um inusitado "arranha-céus" onde amarelecem papeis oferecendo o arrendamento das suas galerias inferiores.
A vida faz-se muito destes contrastes e mal é não atentar neles. Sem pressas, o julgamento está marcado para as 9.30, e viajar assim, no espaço sideral, não custa mais do que as portagens. Poupa-se no combustivel e ganha-se em inimagináveis visões. Sem perturbar a camada de ozono.