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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O brinde da segunda conta bancária

João-Afonso Machado, 29.06.15

TINTIN - RASTAPAPOULOS.JPG

O Grande Pai Tsipras (GPT) conseguiu, assim, além da significativa substituição da Troyka pelas Instituições, uma Grécia de bancos encerrados e o dinheiro a conta-gotas, supostamente até ao referendo da próxima semana. Na hora da verdade, sentiu a sua legitimidade democrática fugir-lhe debaixo dos pés e escondeu-se atrás da dita consulta popular. Agora apela ao «não» - a quê não se sabe exactamente, o enunciado referendando ainda não foi formulado -  e persiste num complicado jogo de piscares de olho, ora virado para dentro, ora virado para fora.

Enquanto o mundo inteiro segue apaixonadamente a tragédia grega e os costumeiros donos da Democracia invectivam as Instituições, talvez seja pertinente, cálculos financeiros à parte, pensar a seguinte questão: à diária de 60,00€ atribuida a cada grego, acresce mais um tanto aos felizardos que tenham outra conta bancária aberta no estrangeiro!

Obviamente, não serão esses os gregos mais pobres... Do ponto de vista meramente humano - vá lá, socialista - não era expectável que quem possuisse conta noutro país mandasse vir de lá a massa?

Por onde andará o rigor distributivo do GPT? Perdido em alguma das suas muitas viagens ao mundo capitalista? Vendido a qualquer potentado neoliberal? Roubado por Maria Luís Albuquerque?

 

 

Não tenho para a troca

João-Afonso Machado, 28.06.15

VARANDA.JPGNo espraiar dos anos, uma fúria de ruídos e cimento e alumínio dispersa a minha colecção de varandas. A que nunca subi, mas é como se nelas me debruçasse sobre as memórias da Vila. Gozando tardes soalheiras de acontecimentos insignifcantes, o mais agitado dos quais o pendular, enfarinhado, aviamento da Padaria Varela. Ou a deslumbrante visão de alguma princesa de lá, nela também reparou o automóvel vindo do sul, o terceiro ou o quarto em meia hora. Os claxons são menos frequentes do que as gaivotas em terra, não houve quem não voltasse a cara. Aonde irá, sempre assotainado, o Sr. Arcipreste?

É isso a minha colecção de varandas. Sob dísticos ou nesgas de ruina, portais entaipados, a saudade dos desconhecidos, um telhado anónimo, a imaginação ao ritmo dos relógios de bolso e colarinhos engomados. Acertando o passo, tango castigador, até ao Ateneu de outrora, varanda  em ocasiões de baile por descobrir. 

Aqui e acolá, nos espaços menos cavalgados pela cidade.

 

 

Sim ou não - pagamos?

João-Afonso Machado, 27.06.15

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Temos então, o Syriza foi eleito por uma assinalável maioria que o mandatou para informar os credores da Grécia -  os gregos só pagavam a sua divida quando e como o entendessem.

A sua soberania não pode ser posta em causa, disseram. E Tsipras e Varoufakis partiram para a Europa, no desempenho das suas funções - Não pagamos! - E digo mais, não pagamos! - A coisa arrastou-se por uns lautos meses, transfigurou-se na novela preferida sobretudo da Esquerda ibérica, para, afinal, se tornar ao ponto de partida. A dívida é mesmo para pagar, caso contrário não vem mais dinheiro.

A dupla democraticamente eleita - para não esquecer este adverbio, o quindim da Esquerda - regressou do seu passeio de quase meio ano e convocou um referendo para daqui a uma semana. Sim ou não pagamos?

Já todos perceberam, o assunto é da maior seriedade. O povo grego não estará nas melhores condições psicológicas para decidir ponderadamente. O futuro tortuoso que o aguarda é inocultável. E o da UE, em geral, e dos países menos abonados (como Portugal), em particular, há unanimidade de parecer - é imprevisivel, incalculável.

E tudo porquê? Necessariamente porque o Syriza onde devia ter lido "interesse nacional" (grego), leu "revolução de massas". E utilizando, embora, a linguagem das democracias de agora tentou erguer bandeiras do passado maoista. Principalmente a ver se a moda alastrava a outros Estados e internacionalizava o conflito que é obvio quer manter com o antes designado "mundo capitalista", hoje "neoliberalismo".

Até ao fim, a Esquerda não modificará uma vírgula ao seu discurso. Mesmo porque é preciso apaguemos da memória, a "austeridade" que nos impõem as circunstâncias é consequência da falta da austeridade no modo de vida em que tanto a Esquerda gosta de se refastelar.

 

 

Feiras Medievais

João-Afonso Machado, 25.06.15

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Tomaram conta do País,as Feiras Medievais. De norte a sul e não apenas nas sedes de concelho, mas em rajadas de freguesias. Partindo da sombra dos castelos, monumentos e ambiente, lugares propícios ao conhecimento e à imaginação, até um qualquer jardim público, assustado e desenquadrado.

Dá que pensar. Porquê as Feiras Medievais e o seu mais que duvidoso rigor histórico? Talvez pela acessibilidade dos custos com que se recriam as chagas leprosas ou o desfile das condenadas à fogueira. Bruxas! As Feiras Medievais começaram por ser o fascinio e mesmo os temores da nossa infância. Com direito a uma voltinha no dromedário e a um combate entre cristãos e sarracenos - pedagógicamente terminando em abraços fraternos... Mas depois tornaram-se repetitivas.

São sempre de ver, é certo, as rapinácias empoleiradas e adormecidas ou entediadas. O mesmo quanto ao seu show, a cetraria é-nos invarivelmente distante. E ao emborcar de um pichel de vinho e um pedaço de toucinho. Mas a nossa Idade Média enferma de um pequeno problema: naquilo em que foi grandiosa, a imagem não chega lá, são irreproduziveis as vivências, os saberes, as estruturas. E o mais são as trevas...

Já as feiras festivas, as feiras anuais, mantém viva a nossa alma, hoje possivelmente um pouco desviada por paquistaneses brinquedos cheios de luzinhas. Ou por girafas quase em tamanho natural, esculpidas na madeira e vendidas por africanos. Somos mais do género da concertina e das desgarradas. E das cores garridas dos lenços e dos trajes das moçoilas de Viana. Somos, isto é, fomos e continuamos a ser. Talvez o caminho vá mais por aí, por nos salvaguardarmos.

 

 

 

 

Fim de tarde

João-Afonso Machado, 24.06.15

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Há quanto ficou já para trás o fato de treino? Ou mesmo o calção e as sapatilhas? O parque entardece numa volta prolongada de dedo em gancho a segurar o casaco às costas. E de sapatos de camurça. Quando, descansando um pouco, o casaco se amarfanhou debaixo do braço, era manifesto: faltava ali o palhinhas, um vasto lenço branco para a vermelhidão da cara. O parque erguia-se na crista da onda, passada mantida, com o sol a furar à cotovelada, repórter de flash em riste, por entre os renques das árvores.

As flores eram cores, mais do que nomes, o piar das aves sim, ouve-se e baptiza-se. Ficaria bem no quadro a toalha estendida, o cesto de vime e o lanche já nas derradeiras migalhas da sandwich. Somente... o parque não dispensa a companhia sobretudo agora, tão sereno e transparente corre o rio. Seria ali mesmo, junto do pequeno açude. Onde aparecesse a sombrinha a emparelhar com o palhinhas.

Porque o parque são as mais díspares, as mais recônditas e desvairadas ideias. Passada firme mantida, o fato de treino muito lá para trás.

 

 

 

Vizinha

João-Afonso Machado, 22.06.15

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Gosto de a ver assim, de manhã, do outro lado da rua, rodeada de verde, já sentada à varanda.

Invariavelmente quieta, as janelas sem expressão, o jardim frontal ainda e sempre à espera do barbeiro. Com todo o seu volume desafiando os anos, no ar uma impressão de história madura, pronta a ser contada. E uma multiplicidade de ângulos, o goniómetro inteiro, a cada momento torrentes de novos ângulos sugerindo exercícios fotográficos, mais daqui, mais dali, será desta?... A geometria das ideias e dos sentidos tendendo para o infinito.

E a palmeira e o pachorrento Serra vagueando entre os canteiros, guardião dos tempos, ladrar silencioso como uma memória que prefiro apenas imaginar.

Do outro lado da rua, todos os dias, todas as horas, do outro lado dos olhares, todo o sempre possivel.

 

 

 

Nada de novo para amanhã

João-Afonso Machado, 21.06.15

O futuro da Grécia está nas mãos de Merkel -  descarta-se Varoufakis de braços cruzados. E pronto!, amanhã que se amanhem... os gregos. De concreto e concretizado, pelo seu Governo, apenas aproximações e acordos com a Rússia.

E a UE com medo. Sem saber bem de quê, desconhece os efeitos da eventual saída grega da Zona Euro. E sem ter pela frente, efectivamente, gente adulta - quer dizer: séria e responsável - com quem negociar.

Parece que a UE ainda não percebeu o óbvio. A fiabilíssima aparência do promotor imobilário Tsypras e Varoufakis, petulante e bem motorizado, não se passeiam por aí em nome do interesse do seu povo. Inacreditavelmente já houve quem lhes chamasse "heróis"!!! E essa é sua motivação. Puramente ideológica e política - acordar a Esquerda europeia do seu sono, e encolerizá-la de novo contra o reapelidado jugo do mundo capitalista. Enquanto as manifestações e os jovens partidos, os dirigentes de "rabo de cavalo", proliferarem o circo prosseguirá.

É a revolução possivel. Até ver. O renascer do socialismo sob o pretexto da salvação grega, a qual os seus governantes desprezam em absoluto.

Nada acontecerá amanhã, em suma. Senão mais ameaças. - Deixem-nos sonhar! - continuarão os do costume a reclamar. Sonhem à vontade. Aproveitem enquanto não chegam os pesadelos.

 

 

A "ética republicana" no seu melhor

João-Afonso Machado, 19.06.15

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São assuntos menores, eleitoralmente falando. Mas depois de ter cavalgado o monárquico MPT para alcançar o Parlamento Europeu, o iluminado Marinho - e - Pinto, saltou abaixo, vergastou a montada para longe e acreditou-se num phaeton: o partido posto por si, qual galinha dos ovos de ouro, o Partido Democrático Republicano (PDR).

Convidou personalidades. Convenceu-se do bom sucesso do projecto. Parece ter convencido outros também.

Eurico de Figueiredo, médico, ex-PS transmontano, sobre o qual nada existe em desfavor, nem sequer um poucochinho de corrupção, embarcou com o caudilho no comboio prá Régua. E levou agora reguada. O que se terá passado, eles lá sabem. Mas, afirma o Dr. Figueiredo, o PDR é já um «partido caudilhista»; e caminha a passos largos para um «partido fascista»!

Riposta o Dr. Marinho - e - Pinto: o Dr. Figueiredo vem desde a primeira hora praticando os «actos tresloucados» em cuja prática persevera. Mas se assim é, porque não o mandou embora mais cedo?

O Dr. Figueiredo se conhecesse um pouco mais de História não esqueceria uma figura do passado, criada muito perto das suas bandas, que deu pelo nome de José Maria de Alpoim. Corpulento, dono de um forte vozeirão, dúplice e maníaco. Alguém dificil de descrever, navegando um oceano inteiro entre o Rotativismo e a quase certa cumplicidade no Regicídio... Ninguém duvide: a História é a mestra da vida...

 

 

 

"Sobre rodas"

João-Afonso Machado, 18.06.15

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Famalicão tem-se fartado, ultimamente, de rolar. Quer no vagar das memórias históricas, quer na audácia, no improviso e na boa disposição da gente mais nova. Passo a dar exemplos.

A mostra e o desfile de viaturas antigas de bombeiros promovidas (em segunda edição) pelos “de baixo” constituíram, para mim, um dos mais grandiosos espectáculos a que me foi dado assistir aqui na terra. Gosto particularmente de carros do passado. Mas o impacto daquelas oitenta e tal relíquias alcançou um significado transcendente. Talvez Portugal, neste domínio seja um país privilegiado – um país à margem da destruição que afectou a Europa restante nas duas guerras mundiais, onde se deitou a mão a quantos máquinas e motores ajudassem ao transporte, na vida e na morte, nos acesos combates que a arrasaram.

Aqui neste nosso cantinho, “à beira-mar plantado”, o que choramos perdido no lixo apenas se deve à incúria e imprevidência tão costumeiras entre nós. A um misto de ignorância e falta de meios que se nos refastelou no espírito e no bolso. Sob o mote, aliviado, do que é velho é para deitar fora. Salvou-se muito, ainda assim. E mais há esperando. É só vaguear um pouco pelo Interior e o que digo ressalta aos olhos. Assim não nos demoremos e esse património de chapa ao léu não abandone o território nacional onde ouviu gemidos e súplicas e fez história…

Em suma, foi um gosto. E foi uma honra. Foi a maior mostra europeia de viaturas anciãs de bombeiros. Foi uma organização da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de V. N. de Famalicão (de seu nome completo – não lhe apaguem o “Real”, por favor, essa distinção, à época, de calibre maior). Uma alegria e uma emoção…

… Um desses momentos que nos transporta no Tempo até aos limites da imaginação ou, pelo menos, da nossa consciência. De uma estranha noção dos bombeiros sempre presentes nos momentos de aflição ou de tristeza. Ora quando os matos ardiam, e solavancavam os rígidos Land Rover’s sobre pedras até à última gota de água do seu transporte, ora nos féretros em cada freguesia, às costas do velho “carro da bomba”, nessas horas de dor paradoxalmente engalanados de coroas de flores… Como não viver, até ao mais primitivo episódio, o memorial dos bombeiros voluntários?

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E uns dias volvidos, a “Mais Louca Descida” da “rampa” dos Caminhos de Santiago, organizada pela Associação Recreativa e Popular de Antas (ARCA). Na qual me foi solicitado – tive esse privilégio – realizasse a cobertura fotográfica da brincadeira.

Lá fui escolhendo os lugares onde me pareciam mais prováveis os desejados instantes de surpresa e espectularidade. Foram umas tantas descidas no arrojo das trikes e na graça, no engenho ou na imprevisibilidade, mesmo na velocidade dos carros artesanais. De competição, cronometrada ao segundo, e de entretenimento se ilustrou um dia inteiro.

Quanto a este último capítulo, espero a ARCA tenha gostado dos retratos. Fez-se o melhor que se pode. (No catálogo das viaturas dos bombeiros também…). Julgo que são registos, razoáveis ou nem isso conseguidos, de uma Famalicão cheia de boas ideias e criatividade. De muita acção. Com direito a múltiplas reportagens televisivas para o País todo…

 

(Da rúbrica De Torna Viagem in Cidade Hoje de 18.JUN.2015)

 

 

A carta-profecia de Antero

João-Afonso Machado, 17.06.15

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Tardes em que a se pesquisa, estuda, escreve. E a grande carta, a imortal carta premonitória, invariavelmente ante o olhar, neste livro, naqueloutro. Contando tanto, em tão pouco espaço, convidando sempre a reproduzi-la. Actualíssima, como se a actualidade fosse um infindo plano inclinado. É de Antero do Quental. O Santo - e profético - Antero. Para o seu amigo João Lobo de Moura, em 1873:

«Creio que teremos República em Portugal, mais ano menos ano; mas, francamente, não a desejo, a não ser dum ponto de vista todo pessoal, como espectáculo e ensino. Então é que havemos de ver o que é atufar-se uma nação em lama e asneira. (...) Os briosos portugueses estão destinados a dar ao mundo um espectáculo republicano ainda mais curioso: se a República espanhola é de doidos, a nossa será de garotos».

Sim, a República Portuguesa é uma marosca de putos, um carnavalzinho de bairro a que dá algum gozo assistir da varanda. Se não é ... - seria, não ocorresse um preocupante crescente de bullying por quantos becos da República. Garotos!

 

 

 

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