Os planos presidenciais do Prof.
São tremendamente instrutivos os nossos semanários. Densos, multiplicados em cadernos, carregados de política e cultura. Mais de uns tantos brindes para serem comprados.
Foi neste quadro informativo, por causa do trabalho (grátis) de Martin Gilbert sobre a II Guerra Mundial, que me achei de Expresso em punho a saber novidades interessantíssimas do mundo distante da Capital. Uma delas, a já indisfarçável candidatura do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa (doravante "o Prof.", à maneira dos repórteres/entrevistadores de marca) à Presidência da República. Somando exitos numa cavalgada culinária onde foi visto, a última vez, jantando, beijocando e sofrendo abraços em Viseu.
Que o Prof. está remoçado, está. Uma dessas noites apareceu num pulpito qualquer, viu-se na televisão, de tweed excelente, uma camisa porreira e gravata a condizer. Olhando para ali e para acolá, a mão no bolso, muito natural, a desmontar os intentos vendilhões de António Costa. Isso é bom, fica-lhe bem, patrioticamente cumpridor. Mas daí a Presidente da República?! Para quê???
A vida do Prof. é preenchidíssima. O Prof. lecciona, faz conferências, participa em colóquios, em programas televisivos, lê que se farta, sabe de tudo, é adepto do Braga, membro dos seus orgãos sociais, tem casa em Celorico de Basto, por isso mesmo o Prof. é até capaz de ter a sua costela minhota, e que não tivesse, o Prof. conhece a Lisboa política, a Lisboa da melhor sociedade e possui argumentos para debater a da pior, assim como, no intervalo das suas tostas mistas, para dissertar sobre toda a casta de enchidos transmontanos, beirões ou alentejanos. E depois de tantas artes e ofícios e de ter passado pela política partidária, o Prof. ainda quer ser Presidente da República. Porquê???
O Prof., sério como é, não nos vai querer enganar com a cantilena do serviço público.Isso é a lengalenga do escalão inferior, o dos deputados e ministeriáveis. Em boa verdade, o Prof. reconhecerá, move-o um misto de alguns impulsos pouco edificantes: a política é um vício, uma vaidade, um diletantismo. Talvez um capricho, esta vida tanto de pareceres dados torna-se enfadonha. Nada como uma boa intrigalhada palaciana e Belém lá está, à medida e à espera do Prof., para lhe dar colorido e muita pica.
Na Presidência da República, nos jardins de Belém semeando factos políticos, é onde o Prof. mais provavelmente acabará mordendo o beiço, intoxicando-se com o seu próprio veneno. Essa pequena fraqueza sempre apontada ao Prof. A coisa promete!