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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Os planos presidenciais do Prof.

João-Afonso Machado, 29.03.15

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São tremendamente instrutivos os nossos semanários. Densos, multiplicados em cadernos, carregados de política e cultura. Mais de uns tantos brindes para serem comprados.

Foi neste quadro informativo, por causa do trabalho (grátis) de Martin Gilbert sobre a II Guerra Mundial, que me achei de Expresso em punho a saber novidades interessantíssimas do mundo distante da Capital. Uma delas, a já indisfarçável candidatura do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa (doravante "o Prof.", à maneira dos repórteres/entrevistadores de marca) à Presidência da República. Somando exitos numa cavalgada culinária onde foi visto, a última vez, jantando, beijocando e sofrendo abraços em Viseu.

Que o Prof. está remoçado, está. Uma dessas noites apareceu num pulpito qualquer, viu-se na televisão, de tweed excelente, uma camisa porreira e gravata a condizer. Olhando para ali e para acolá, a mão no bolso, muito natural, a desmontar os intentos vendilhões de António Costa. Isso é bom, fica-lhe bem, patrioticamente cumpridor. Mas daí a Presidente da República?! Para quê???

A vida do Prof. é preenchidíssima. O Prof. lecciona, faz conferências, participa em colóquios, em programas televisivos, lê que se farta, sabe de tudo, é adepto do Braga, membro dos seus orgãos sociais, tem casa em Celorico de Basto, por isso mesmo o Prof. é até capaz de ter a sua costela minhota, e que não tivesse, o Prof. conhece a Lisboa política, a Lisboa da melhor sociedade e possui argumentos para debater a da pior, assim como, no intervalo das suas tostas mistas, para dissertar sobre toda a casta de enchidos transmontanos, beirões ou alentejanos. E depois de tantas artes e ofícios e de ter passado pela política partidária, o Prof. ainda quer ser Presidente da República. Porquê???

O Prof., sério como é, não nos vai querer enganar com a cantilena do serviço público.Isso é a lengalenga do escalão inferior, o dos deputados e ministeriáveis. Em boa verdade, o Prof. reconhecerá, move-o um misto de alguns impulsos pouco edificantes: a política é um vício, uma vaidade, um diletantismo. Talvez um capricho, esta vida tanto de pareceres dados torna-se enfadonha. Nada como uma boa intrigalhada palaciana e Belém lá está, à medida e à espera do Prof., para lhe dar colorido e muita pica.

Na Presidência da República, nos jardins de Belém semeando factos políticos, é onde o Prof. mais provavelmente acabará mordendo o beiço, intoxicando-se com o seu próprio veneno. Essa pequena fraqueza sempre apontada ao Prof. A coisa promete!

 

 

 

"Sempre na Oposição"

João-Afonso Machado, 27.03.15

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Estávamos a meia dúzia de meses da Revolução. Na sala de aulas, de carteira em carteira, de mão para mão, corria um papelinho rectangular manuscrito - «abaixo o fascismo! Viva a democracia!» - a caneta de feltro. Até que o professor o interceptou e leu também.

O professor era um homem bom, ali não havia bufaria. – Rasga isso rapaz! E deita fora! – exclamou autoritário, quiçá assustado, mas não intimidatório. E o assunto morreu seguidamente. Na parte que me toca, apenas ficaram a memória e algumas interrogações fuziladas logo no recreio seguinte e renascidas justamente quando, a 25 de Abril de 1974, o fascismo e a democracia se transformaram em duas vírgula cinco palavras em cada três proferidas pelos portugueses.

Vem esta nota a propósito de uma publicação recente – Os Democratas de Braga (Testemunhos e Evocações) - que me foi oferecida, com simpatiquíssima dedicatória, por um dos compiladores, o meu Amigo Dr. Artur Sá da Costa. Aquilo não foi uma leitura, foi um foguete. Com o máximo aproveitamento como deleite e lição histórica.

Trata-se de uma recolha de depoimentos de muitos opositores à ditadura da II República, vulgo “Estado Novo”. Testemunhos de quem ainda está entre nós ou já partiu. Em qualquer caso, sempre escritos na exaltada paixão dos que viveram esses perturbadores e dolorosos anos de “uma opinião só”, contra a qual se empenharam em luta e sacrifício. Deixando escapar, aqui e ali, a malandrice de tentar apartar o dito Estado Novo da desditosa República, como se, de repente, nos píncaros da actividade oposicionista não estivessem as candidaturas de Norton de Matos ou de Humberto Delgado à Presidência da mesma… Distracções!

Creio-me capaz de sustentar a tese de uma II República durando o tempo bastante para esquecer as vicissitudes da I; e de uma III perdurando o necessário exactamente para ultrapassar também os malefícios da II. O que virá a seguir não calculo, nem este é o lugar próprio para elucubrações de tal índole. Esta será, apenas, uma forma mais rebuscada de vislumbrar os Democratas de Braga, com tenacidade e ideal, à frente ou fora do seu tempo. E agindo organizadamente, com quaisquer laivos de institucionalização, uma sigla, algo que os transporte como um todo para a História do Distrito?

Julgo que não. O depoimento do já falecido barcelense Tinoco de Faria assim o dá a entender na sua abrangência. E a obra não o refere, mas subjaz a tantos oposicionistas uma fractura filosófica e ideológica decerto insanável. Precisamente a que contrapunha os defensores dos direitos individuais e da justiça social aos crentes no determinismo histórico da luta de classes. O que é de sobeja importância quando se especula acerca de como seria se…

… Como seria se nós, os da nossa idade, tivéssemos em 1974 mais uns anitos e já soubéssemos o significado da palavra “fascismo”? E já quiséssemos decidir da nossa vida e manifestar as nossas opiniões e sentíssemos a Guerra colonial a bater-nos à porta e achássemos um disparate e um intolerável abuso a PIDE a bater (à porta e não só) também? Como seria?

Seria uma vaga imensa de Oposição. Já não seria o Estado Novo, como nem chegou a ser mais, entretanto. Falando de mim, seria uma dupla oposição: à ditadura, pelo lado do respeito que o ser humano merece, em todas as vertentes da sua natureza e existência; e ao Regime republicano a que nunca pertenci. Tal qual muitos monárquicos desse tempo da minha meninice tomaram outrossim posições similares. A verdade é que nasci na Oposição, e decerto na Oposição hei-de morrer. Felizmente sem ter sofrido perseguições nem o cárcere, honra seja feita a esta actual República e à liberdade em que me consente escrever estas linhas.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 26.MAR.2015)

 

 

 

Contra os monopólios

João-Afonso Machado, 25.03.15

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A outorgante apanhou toda a gente desprevenida logo após a escritura, e já com o cheque sumido o decote abaixo - de manhã fora aos serviços da água e à EDP e cancelara o fornecimento. Dispensara os contadores. A partir do dia seguinte... a seco e às escuras!

Uma imbecilidade a corrigir. O mais provável seriam facilidades por parte da EDP, empresa moderna, eficiente, toda ela voltada para o cliente. Uma cópia certificada da escritura bastaria para assegurar a sucessão...

Mas não. Uma menina gorducha asseverou, a ordem seria mantida, o corte era já para hoje. Mas, mas... - Mas nada, nada podia ser alterado. 

Desabaram os argumentos, as acusações. Então esta é a verdadeira cara da EDP da publicidade enganosa do Outono passado, um mar chão de rapidez e comodidade?

É. A EDP constitui apenas um fenomenal monopólio, um monopólio labirintico, uma cascata de serviços subcontratados, uma máquina de cobrar taxas e de criar pretextos para as cobrar em total baralhação dos consumidores. Sobretudo agora que deitou as garras à energia eléctrica e ao gás. E sempre escondida atrás do "sistema" (- quem manda são os computadores - filosofava um técnico) e de umas tantas meninas treinadas para ouvir pachorrentamente os protestos ou desabafos das vítimas e repetir até à exaustão as mesmas explicações capazes apenas de explicar o óbvio. Tudo o que ficou dito.

Enquanto tal, os serviços municipais de água, mesmo já no fecho do expediente, atenderam, entenderam, emendaram. Sempre de par com uma conversa afável. Outra coisa. 

O "sistema" é estruturado sabe-se lá onde - se na China, se na imaginação de Isabel dos Santos. Mas, agora este, depois aquele, não há quem escape à factura espoliadora, ao corte injustificado, à invasão dos inspectores ávidos de avarias e inseguranças para passarem a mama aos sequentes da cadeia, a rapaziada dos buracos na parede. Com todas as semanas de desconfortáveis privações pela frente, sempre reverencialmente, sem que alguém saiba ainda como obstar à tirania dos computadores da EDP. 

(Numa União Europeia prenhe de legislação contra os monopólios, os abusos de publicidade e outras papagaiadas. Num país de submissos - salvo em chinfrim sindical - como Portugal.)

 

 

Henrique Neto

João-Afonso Machado, 24.03.15

A notícia da candidatura de Henrique Neto às Presidenciais não é má. Trata-se de um homem decerto pouco conhecido da generalidade das pessoas, sinal excelente de uma carreira pouco política (terá sido deputado e membro de um governo de Guterres...). Mas do seu curriculo consta o empreendedorismo, o hábito do trabalho, as suas empresas bem nutridas, produzindo para a economia, assim legitimamente se perguntando se e porque será socialista.

Henrique Neto não é socialista. Pelo menos não é um socialista como estes a que estamos habituados, de verbo afiadíssimo e gostos requintados, dificeis de satisfazer. Se não deputados, se não detentores de cargos administrativos - gestores públicos. Totalmente inuteis, em suma. A vida de Henrique Neto não lhe terá consentido o vagar bastante para uma reflexão política inevitavelmente a afastá-lo da farsa partidária ou da clubite extravasando o seu lugar próprio, o futebol. Só por isso o "seu" PS, afinal a colectividade onde, por confusão de nomenclatura, achou se devia acolher nas suas preocupações de natureza social.

Soares e Sócrates já estiveram na mira das suas críticas. Sem dó nem piedade. Se Henrique Neto se disponibiliza para discutir o acesso à chefia do Estado republicano é porque tenciona fazê-lo. Não atingirá o seu objectivo, evidentemente, a não ser que esse objectivo consista apenas em aproveitar o palco e a ampliação de som para qualquer coisa que só poderá ser benéfica à Nação.

 

 

Em nome da História

João-Afonso Machado, 21.03.15

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Não, Sr. Prof., a «cínica Inglaterra, a bebeda impundente» de Guerra Junqueiro era, afinal, duas décadas depois, a «secular e fiel aliada» de Afonso Costa. Foi, na realidade, o argumento de ataque à Monarquia, Sr. Prof., e o seguro do Partido Republicano no Poder, quando a este conveio. Quando conveio aos "Democráticos" mandar os portugueses para uma guerra que não era deles, e nela morrerem, em vez de por cá, entre revoltas e tumultos, desassossegarem a República. É notável, Sr. Prof., como ainda agora uma conferência de História se pode confundir com uma sessão de esclarecimento político. Que foi o que o Sr. Prof. fez.

Porque nada se passou como disse, Sr. Prof. Tudo, ou quase tudo, saiu como Afonso Costa planeou: «isto entrará nos eixos se o Camacho aceitar o meu programa mínimo: ida para a guerra, defesa enérgica da República e eleições próximas». Apenas, Sr. Prof., Brito Camacho não aceitou o dito «programa mínimo» (de que jaez seria o máximo?) e o seu Partido Unionista também não, e o Ministério da União Sagrada saiu uma falácia democrático-evolucionista. E, Sr. Prof., esqueça a pretensa generosidade do Racha-sindicalistas concedendo a sua presidência a António José de Almeida. Isso foi apenas política da mais rasteira, Sr. Prof., uma mera cautela para um trambolhão eventualmente irremediável. A esperteza satânica de Costa, Sr. Prof., deixava-o já antever movimentações militares contra o seu governo, o descontentamento popular nas ruas privadas de quanto necessário à subsistência das famílias em casa. E mesmo, decerto, algo avassalador como o triunfo de Sidónio.

Deu para entender, Sr. Prof. Uma vez mais, depois do famigerado «Centenário da República», teremos de recorrer à arma da escrita. E lutar pela emergência da Verdade e pela História. Pelo Futuro, Sr. Prof., se é que os Srs. não o roubaram e ele ainda existe.

Essa a única homenagem devida, Sr. Prof. aos combatentes portugueses, vítimas da República, nos campos de batalha da I Guerra Mundial.

 

 

 

 

O eclipse

João-Afonso Machado, 20.03.15

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A televisão acordou cedo. - Alô, Faro?! - Sim, no Algarve o eclipse era também perceptível. E algures, nos arredores de Lisboa, foi uma romaria, os meninos todos da escola, protegidos com óculos de marciano, a não verem o sol, o ministro Crato entre eles, gozando a negritude momentânea, explicando, convivendo. Cenas semelhando outras, de uma autocracia passada... - Alô Açores?! - Sim, sim, aqui sim, há eclipse para dar e vender!

Manhã sombria. Nuvens e eclipse do sol, por junto, é muita coisa. Mais a mais, com aquelas a ocultar os efeitos da prodigiosa ousadia da Lua cavadora de trincheiras contra a magnificência do astro-rei.

Foi tudo muito rápido. Entre as nove e as dez. Uma manhã ratada. E, pareceu-me ouvir, desta marca, outra vez, só daqui a onze anos. Entre as nove e as dez igual a mais onze!... O melhor é continuarmos a formigar cá por baixo, razoavelmente à superfície, sem nos obsecarmos com essas infinitos complicados do Tempo e do Espaço.

 

 

Esta é só antes da próxima

João-Afonso Machado, 18.03.15

Provavelmente a "lista dos contribuintes VIP" existe. Provavelmente é velha mas muito renovada. Provavelmente é um bem que tudo assim seja.

Só os grandes remédios obstam aos grandes males. E o Estado - essa meretriz! - é o maior dos males nacionais. Na exacta medida em que foi piscando o olho enquanto metia a mão no bolso dos cidadãos; e falou coisas meigas e encantatórias enquanto lhes apontava o punhal às costas. O Estado dito "social" que esmifra em impostos e se vangloria de fornecer serviços gratuitos (gratuitos???) de saúde e outras aldrabices congéneres.

O Estado - essa meretriz! - vende-se caro. Faz-se pagar bem. Não é para todos nem é de todos. Persegue os cidadãos, esmaga-os tributariamente, condiciona a sua defesa judicial (com muito mais clareza quando se trata de justiça fiscal) e, no fim, vive na maior opulência. Ora, toda a gente sabe, o dinheiro não nasce em árvores; e  - ou mas - só a uns tantos é consentido abanar a "árvore das patacas".

Entre a realidade e a imagem, a certeza e a dúvida, o incisivo e o retórico, os parvenus da política (e da sociedade...) já cá andam há tempo bastante para que a sua presença não se torne especialmente notada. A "lista dos contribuintes VIP" decerto será apenas o caso da quinzena. Outros se sucederão, com a mesma gente, a mesma momentânea revolta, a mesma sequente desmemória.

 

 

Entre tribunais e eleições

João-Afonso Machado, 16.03.15

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Ele e sempre ele. Sócrates. Nem antes nem depois. Durante Sócrates. Uma marca que marca. E que está para ficar. O caso "Casa Pia" será longamente ultrapassado no tempo. Vamos ainda nos pequenos reencontros de milícias nas fronteiras. Onde se fala mais do que se combate. Vai «tomar banho porque cheira mal!» - exclama a soldadesca; «Desampare-me a loja!» - em voz de sargento; «Esta gajada mete-me nojo» - rosnam os oficiais. Ainda ninguém passou o vau, em suma.

O Conselheiro Santos Cabral assumiu decidir. O cartapácio processual é profícuo em medidas por onde atacar a sua atitude. Ver-se-á no que tal dará, se mais não for, assim ataque a cavalaria pesada.

Tudo para dizer (agora que já se cognomizou quem será o mais influente advogado em Portugal), é longo o caminho judicial no "caso Marquês". (Recordem, a propósito, a intervenção do Dr. Rodrigo Santiago, enquanto não deixou de ser mandatário do arguido Ritto). Longo e prenhe de política. Provavelmente, daqui a meses, ainda no limbo do por demasiado óbvio, slogan de campanha eleitoral.

Assim como se os republicanos de agora quisessem fazer de conta que a República dos tribunais plenários não era República. O costume.

 

 

Do eremitério

João-Afonso Machado, 14.03.15

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Bufa, assusta, enoja, inspira lendas, até pode morder... Mas não mente (descobriu-se agora, não foi ela a indutora do Mal, no Eden), nada promete nem faz política ou lida com dinheiros públicos. É menos visivel do que um candidato eleitoral e definitivamente é mais rara. Nos países e pelas gentes civilizadas, mesmo as inoculadoras de veneno, são protegidas. As serpentes. Ou cobras, em linguagem mais corriqueira.

Dá para pensar: nos perigos realmente reais e na essência da Civilização. E nos lugares desta já que, por quaisquer razões, todos nos dizemos no deserto.

 

 

 

 

Um habeas corpus com água no bico

João-Afonso Machado, 13.03.15

Desta vez a tolice não é rematada. Nem munição desperdiçada. O habeas corpus na quelha versa matéria que não merece o consenso dos juristas. E, sobretudo, vai ser apreciado por um Conselheiro demitido, quando director da PJ, pelo interessado, o então nosso duce Sócrates.

Tanto este como aquele podiam suscitar o incidente da suspeição. Ambos não quiseram. Quanto ao magistrado, saber-se-á porquê. As razões de Sócrates são limpidas: se o habeas corpus for rejeitado, a razão é só uma: revanche. Se o pretenso revanchista julgar condicionado por esse inevitável anátema político, acabará deferindo o pedido. Em qualquer caso, Sócrates marca pontos, algures entre o totobola e o euromilhões.

Mais a mais, uma Esquerda ensurdecedora fará calar o óbvio e ampliar o ruído de um Estado afinal não de Direito. Pois não é: e só assim Sócrates consegue esconder-se atrás do seu cargo de 1º Ministro para calar cassetes e escutas e todas as evidências para as quais, de outro modo, não tem explicação plausível.

 

 

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