Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Mais papista que o Papa

João-Afonso Machado, 31.01.15

MUMIA.JPG

Todos se lembram da senhora - todos os dias fazendo-se notar dentro do templo com os atavios e o espavento costumeiros. A lançar um olhar ávido em busca da pia da água benta, a benzer, persignar-se, voltar a benzer, um beijo na ponta dos dedos, uma carícia em imagem próxima, o ror de jaculatórias bichanadas, os suspiros e uma lágrimazita pia, a esmolinha mais a vela acesa, a voz do sacerdote um som de fundo apenas... E aquele generalizado pensamento mauzinho dos fieis, na altura da comunhão: lá vai ela, tão lampeira, a laber-se toda para papar a hóstia. Restava a benção final, e a senhora sempre contricta, prostrada, tudo saíra já ainda os seus ímpetos se lançavam sobre uma das capelas laterais.

Jamais alguém quis saber se as suas virtudes eram apenas públicas. Havia muito mais em que ocupar o tempo. A maldade da ironia não ia além do adro e somente porque a beata se punha debaixo do pálio. 

Com os seus botões - e com os botões de quem lhe desse azo - a senhora enfiava meio mundo no inferno e a outra metade num incomodíssimo purgatório onde, assegurava, o frio era polar e não havia lenha. O céu estava-lhe reservado, em exclusiva companhia do falecido senhor prior.

Cristãmente a deixavam na sua rezinguice, todos se lembram. Os mais velhos lembram também vê-la murmurar de través face à sucessão dos papas mais recentes. Ainda há pouco a ouviram - acerca do Papa Francisco - casquinar um eheheh! e acrescentar, reticente, ah!, esse... Todos se lembram e todos se escandalizaram.

Porque se perdeu a contagem dos anos da senhora. Talvez porque ela seja de sempre. Tão cumpridora, tão respeitadora, tão conhecedora, tão capaz de ser só no conclave e pôr em causa a autoridade do representante de Cristo na Terra.

Uma Terra um bocadinho maior do que a sua sala, decorada a estampas e gravuras votivas onde se embrulha em orações e vê a telenovela às escondidas. Convencida de que lá no Céu não a topam...

A senhora teve artes de aceder ainda à Internet. Ela e as mais senhoras iguais espalhadas pelo mundo. Há por aí um número incontável de Igrejas Católicas Apostólicas Romanas. E são todas e cada uma a única verdadeira. Há qualquer coisa que me escapa na natureza humana, realmente.

 

 

 

"Deixou-nos, o Sr. João"

João-Afonso Machado, 30.01.15

MATRIZ VELHA.JPG

A notícia estava numa parede qualquer, informando já sobre o 7º dia. Que triste surpresa! O Sr. João (ignorava fosse conhecido por Barãozinho) morreu na respeitável idade de cem anos. Não vai muito tempo, recordei-o neste bocado de escrita, alimentando ainda a esperança de o visitar na sua residência da Rua Direita e conversar um pouco, registar memórias, trechos do passado famalicense. Tudo quanto o estonteante ritmo de hoje calca e abafa e impede ocupem o seu lugar na História.

O Sr. João, era eu garoto, tinha a sua barbearia junto à Matriz velha. Havia uma frutaria magrinha, um pronto-a-vestir com laivos de modernidade nas montras, uma porta onde permanecia de sentinela, a manhã toda, um senhor já idoso, sempre enchapelado e engravatado, de sobretudo e sorriso estático, percebia-se-lhe um olhar atentíssimo por trás dos pesados óculos de massa maciça à moda da época; e logo a seguir o estabelecimento – venerando, revestido a espelhos, com um farto cabide na parede sobre a mesa de pau e as duas cadeiras, tudo em tinta esverdeada, para os clientes à espera, e outras duas, giratórias – girando pesadamente em ferro forjado – onde se desenrolava a arte do Sr. João. Era no tempo do Zé da Praça, da Confeitaria Vieira de Castro, do A. de Sousa Lopes e de tantos mais ecos dos anais do comércio na Rua de Santo António. Em cujo rodopio toda a gente conhecia toda a gente.

Só pode ser por isso o F. C. Famalicão (outra vez em alta, felizmente, desde que voltou a chegar aos quartos-de-final na Taça) tivesse decerto mais adeptos e sócios, nesses idos em que a bola era mais redonda e a equipa local saltitava normalmente a meio da tabela da II Divisão (Zona Norte), com esporádicas investidas à I; e uma defesa compenetradíssima impedindo sempre as suas redes fossem violadas pela vergonha da descida à III. Toda esta problemática era minuciosamente dissecada, analisada, discutida, enquanto a navalha escanhoava ou as tesouras trique-tricavam as cabeleiras. Fora isso, havia os jornais da terra e quase nada de política; e entre nascimentos, casamentos, aniversários e óbitos, sobeja margem para entretenimento, acrescida em grosso caudal acontecendo algum acidente. Isso então era conferência para o dia todo, tantos os conferencistas convidados, alguns de fora, dos passantes na rua.

Mas acaso sobreviessem alguns segundos ausentes de tema, logo o Sr. João, as tesouras em riste, chasqueando, prontas a cair sobra a cabeça do paciente – logo o Sr. João, resignado, reticente, exclamava – É assim a vida!...

Era assim a vida. Animada de coisas pequeninas e intervalos em que se ouviam as moscas. Com vagar para distinguir e gozar o sol e os dias chuvosos. E coleccionar amigos, reencontros no regresso, sempre um abraço, nem as minhas alvas barbas dissuadiram alguma vez o Sr. João de continuar a tratar-me pelo diminutivo dos longínquos e imberbes anos dessas idas à tosquia.

Trago comigo um lugar especial para estes famalicenses antigos que o Tempo foi levando. Eles estão na Eternidade do Além, mas nada como eternizar-lhes também a memória cá em baixo. Imaginem, nascido em 1914, os acontecimentos históricos testemunhados pelo Sr. João! Mas, insisto, não é só – há um conceito de vida, de relações humanas, há um assobiar o quotidiano em que havemos de, entre a multidão e os horários, caminhar vagarosos, no vagar desses afectos de então.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem in Cidade Hoje de 19.JAN.2015)

 

 

 

O Bolhão num breve traço de justiça

João-Afonso Machado, 29.01.15

VISTA DE CIMA.JPG

Foi ou é, um dia será talvez. Novamente o velho mercado do Bolhão. Liberto das discussões políticas, somente colorido e pujante. O Passado tem marcas mais pesadas do que os anos. Marca! Assinala a diferença. E reclama.

O Bolhão foi tudo isso. A alegria, o símbolo, a vida, o quotidiano. Agora sustenta-se escorado em promessas e esperanças. Com ele, muita gente se aguenta sob a ameaça do fim.

Permanece um olhar de amanhã. E alguma fidelidade, a dos clientes mais inconformados. A vida aguarda por "quadros de apoio", "fundos comunitários".

(E a toutinegra, a pata atrofiada pela ratoeira, saltitava na ínfima gaiola. Trazida por tuta e meia para um mundo maior onde, ainda assim, não reaprendeu a ser canora, mas voltou a voar em cantinhos esconsos, memória verdejante das húmidas cameleiras do seu ninho).

Há imagens mais antigas, velhas de 40 ou 50 anos. Há realidades incontestáveis - seria tolice ignorar o turismo. Dizem os estabelecidos, não fora ela, era a «desgraça».

E persiste uma identidade à margem dos shoppings ou das lojas gourmet. O Porto, paredes meias com o Minho, representa quase o seu oposto. Mas, tantas as décadas, são-lhe sempre devidas a homenagem e a solidariedade.

 

 

 

A pândega

João-Afonso Machado, 27.01.15

Há alguns senhores que se intitulam "nacionalistas" e vivem na extrema-direita do espectro político português. Têm imensas ideias salvíficas, incluindo a ressurreição de Salazar e o abandono da União Europeia. Não são imensos, na liguagem gráfica uns zero vírgula qualquer coisa entre o eleitorado não abstencionista.

Pensemos. Sopesemos a euforia do nosso paroquial esquerdismo se, por conveniência, o PSD ou o CDS optassem por uma coligação governamental com os referidos cavalheiros.

Na Grécia, não obstante, o Syriza em coisa de uma hora coligou-se com os parentes helénicos dos nacionalistas portugueses, até anteontem rotulados de neonazis e apontados como detentores - falo de deputados - de um curriculo criminal diversificado; hoje baixaram, porém, à inócua condição de "nacionalistas" e de "militantes da Direita". Nos jornais da nossa malta.

Temos, pois, os "nacionalistas" e os - quê: "extremistas", "esquerdistas"? - do Syriza unidos no propósito de derrubar a Troika. Para o que apresentam esta arma infalível - negociar com a dita Troika. Mais: vangloriam-se de imposições imediatas - à Troika; e pedem tempo - para concretizar a dita negociação.

O suave "nacionalismo" do Axel, entretanto, já explicou opor-se à imigração e ao "multiculturalismo", do mesmo passo que reclama uma reforma do sistema educacional fundamentado na ortodoxia cristã. Muito concordantemente, Tsipras recusou prestar juramento sobre a Bíblia (algo inédito na Grécia) na tomada de posse como chefe do Governo.

Vai ser uma pândega...

 

 

Um espectáculo a perder

João-Afonso Machado, 26.01.15

São sempre catitas os gritos da revolta. E as frases atiradas do cimo do palanque: «A Grécia vira uma página, deixa para trás a austeridade, o medo e cinco anos de humilhação»!!! A euforia é de Tsipras, o Grande.

A Grécia está, pois, salva da austeridade. E não só: festeja o triunfo da «Europa da solidariedade», erguendo o punho ao som dos hinos guerreiros da Internacional Socialista. Comentário de um destes novos cruzados, apanhado pela imprensa: «primeiro tomámos Atenas, depois será Madrid e a seguir Lisboa»...

Em suma: a odienta Troika tem os dias contados. A Troika é já cadáver (a gente também embala nisto dos slogans, na tolice dos comícios) e a Grécia conhece novamente a primazia no mundo mediterrânico.

Somente nos escapa o alcança desta longa, enigmática, profecia de Tsipras o Grande: «o novo governo grego estará preparado para negociar e cooperar com os nossos sócios de forma a encontrar uma solução justa para que a Grécia saia do endividamento e volte à coesão nacional».

Então o novo governo grego ainda não está preparado para negociar?

E dispõe-se a negociar com quem? Com a Troika? Mas a Troika é maligna, não negoceia, rouba e assassina! Dr. Louçã, sempre vai encabeçar o próximo Executivo? Não? Nem de mão dada com o Dr. Costa?

Provavelmente alguns mais distraídos não repararam ser este filme um remake do Pasok, o Libertador, com outros efeitos especiais; foi um desastre de bilheteira em França, mesmo intitulado Hollande, o Grego; e se não nos pomos a pau a odisseia chega cá, mais hard core do que nunca.

 

 

Em tudo um sinal

João-Afonso Machado, 25.01.15

BOCA.JPG

Ia já o texto no fim quando o bloco caiu no regato. Traduzindo em linguagem do presente, terá sido o inadvertido pisar da tecla CTRL essa incontrolável escorregadela em margens tão empasteladas pela chuva. De tudo resultando um bucolismo encharcado, preso entre pedras muito adiante, deixasse-o secar, garantiram, e haveria retorno, ao menos uma base para rascunho.

Foram, porém, os minutos em que tudo mudou, riscada a écloga e esboçada a tragicomédia. Mesmo não deixando de ser verdade que este era o regato de todos os seus dias entre as margens e os dilemas que lhe dividiam a vida. Algo mais complicado no rigor dos invernos em que os anos somam e pesam e não ganham impulso. A ideia era a perpétua necessidade de optar; ficou na recorrente de recomeçar. De qualquer modo, sempre com muito a ver connosco.

 

 

 

Filhos de pais incógnitos

João-Afonso Machado, 23.01.15

À quarta ainda não foi de vez. Mesmo sendo irritante o discurso da heroicidade, há a dizer umas quantas crianças mais foram poupadas. Assim a quinta e a sexta tentativa, e as sequentes, falhassem também, mas tal não sucederá. Com a vitória certa da Esquerda nas Legislativas deste ano a alteração legislativa da adopção por casais gay é uma certeza. - Oh mãe, o pai tem mamas! - Ou - Oh pai, a mãe tem barba!

O que alimenta o motor PS nestas mudanças da rota da natureza pertence a um domínio que não cabe em tão curto espaço. Importante será, acima de tudo, pensar no "supremo interesse dos menores". Em relação ao qual urge desmontar o argumento dos males provenientes da violência familiar; e é imperioso estudar - deixando o tempo correr - o comportamento e a estabilidade nos casamentos homossexuais.

Daí a pergunta de sempre, sempre tentando manter um posicionamento fora das convicções pessoais - porquê tanta pressa? Porquê esta vontade de uma mundividência laboratorial?

Olhando para trás, já se vêem os degraus da escada subida: o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a co-adopção, a plena adopção, enfim. Em nome de quê?

O casamento é um contrato, civilmente falando. Querem-no entre pessoas do mesmo sexo? Fiquem lá com a imagem do postiço ridículo, por muito que um certo provincianismo diga sim e vá comentar e gozar depois, nos fins de tarde à mesa do café. Algo a que todos os dias se assiste... 

Já brincar com seres indefesos merece nos empenhemos contra. Há hipocrisia nas palavras da lésbica que ensaiou um bébé dentro de si num hospital qualquer e agora quer um pai mulher para preencher o seu BI. Devia antes preocupar-se com os filhos de pais incógnitos. Estes sim, trazem consigo o estigma de uma filiação incompleta e ávida da sua plenitude. E as suas mães, se procuram os pais, seguramente não o fazem a pensar em si ou nos seus cãezinhos de estimação...

 

 

À distância?

João-Afonso Machado, 22.01.15

Entre a comédia e a tragédia possivelmente  os portugueses passam adiante e nem olham para a sua equivalente Grécia. Mesmo no avizinhar da suas eleições.

O panorama é mais ou menos este: o Syriza (recorde-se - o acrónimo da Coligação da Esquerda Radical), com um score eleitoral em 2013 de 26,8%, apresenta-se como o virtual vencedor no próximo escrutínio. Sem maioria absoluta e contra o putativo segundo lugar (o Nova Democracia, do assim chamado "centro-direita"), enquanto a medalha de bronze dizem caber aos "neo-nazis" da Aurora Dourada.

E agora?

Marine Le Pen já se pronunciou, agradada com a vitória do Syriza. O retorno ao dracma está na ordem do dia. É certo, a Grécia vive sob medo e muitos não se atrevem a exprimir o seu pensamento; as ruas foram tomadas pela violência, um palco exposto de supostos anarquistas. Tudo pode acontecer.

Encurtando razões: aliança Syriza/Nova Democracia? Ou aliança extrema-esquerda/extrema-direita? Ou o quê?

À distância, a situação pode merecer as delícias dos politologos. Até de todos - a novidade é sempre uma boa fonte de aprendizagem, assim produza frutos. Mas a distância deve ser encurtada pela própria realidade portuguesa. Principalmente pensando que a Espanha distancia muito pouco, o lugar imaginário de uma fronteira.

 

 

"Questões residenciais"

João-Afonso Machado, 21.01.15

R. DIREITA AO CIMO.JPG

O retrato que um dia apanhei de um estimadíssimo Opel dos Anos 50 estacionado frente ao Garantia – encheu-me as medidas vê-lo exposto no quadro do Flash Urbe apresentada a semana transacta na Casa das Artes. Estava ali quase uma bem buzinada viagem ao Passado, sem qualquer ponta – acrescente-se – de saudosismo. Somente pela beleza da máquina e pela recordação de um hotel com vida, na pacatez de uma vila viva e esperta, tão movimentada.
Não obstante, nesses idos muitos alertavam já para a carência de habitação em Famalicão. A propriedade horizontal era muito escassa, o estacionamento não constituía qualquer problema e a Vila não crescia. Demoraria ainda, até despontarem as torres, os galardões de cidade e uma periferia cada vez mais alargada. No “centro” – isto é, no perímetro urbano da nossa infância – pouco mudou, a não ser o fado lastimoso de uma mão bem cheia de edifícios abandonados.
É uma pena! Algo, creio, a não passar despercebido aos responsáveis autárquicos e daí, por exemplo, a referida iniciativa do Flash Urbe – um concurso levando os participantes à caça do que urge poupar ao flagelo da degradação.
Depois a gente deita o olhar às angariações das agências imobiliárias e, entre propostas “no centro”, “ao centro” e “quase no centro” deambulamos já por freguesias onde o gado ainda pasta… Verdadeiramente nas redondezas. Não há oferta, em bom rigor, para quem queira habitar a Vila, o dito “centro”. Nem lugar para deixar o carro sem ser ao relento. E, no entanto, Santo António, Alves Roçadas, Adriano Pinto Basto e tantas outras são artérias pejadas de velhas construções – velhas e enormes – defuntas, comidas pelas décadas, não mais do que desarticulados montões de ossos.
Provavelmente, a maioria prefere zonas mais afastadas – quiçá próximas das grandes superfícies. Provavelmente os preços rentáveis do “centro” não cabem nos remediados bolsos da fatia substancial da procura. Provavelmente esta sofre ainda os constrangedores efeitos da “crise”.
Ainda assim, é legítimo perguntar se algo pode ser feito. A pôr fim ao depressivo efeito da visão da ruína. E também para satisfazer o gostinho de quem não esquece os recantos e encantos da “vila velha”. Onde o pomar e a tabacaria, ou o pronto-a-vestir, estão logo ali, e a sapataria aussi, no descer das escadas. O comércio local seria o primeiro a ganhar, certamente, e o trânsito automóvel abrandaria em força, poluiria, cansaria, muito menos.
Resta apenas aguardar o futuro. Olhando as sobras do passado: uma bela fachada oitocentista, cheia de varandins em ferro forjado e janelas de guilhotina (de vidros escaqueirados) pode rapidamente transformar-se na porta de entrada para uns tantos apartamentos. E em qualquer canto da sua imensidão se abre uma rampa para as respectivas garagens. Aqui mesmo declaro: estou comprador (desde que não me pisem os calos, é obvio).

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 15.JAN.2015)

 

 

 

Queremos os mesmos direitos do Velho

João-Afonso Machado, 20.01.15

ORA BOLAS!.jpgUma coisa sabemos não poder dizer: o Velho pisou a bandeira da sua República numa estadia em Inglaterra. Refira-se, já agora, podemos dizer que o Velho correu mundo à nossa custa apenas porque o pudor ou a vergonha nunca atrapalharam o pensamento comicieiro e a sua vida não foi muito mais do que isso. Aqui ou em outros quaisquer pitorescos lugares. E continua a ser, nesta sua constante arenga escrita.

Igualmente ignoramos se Cavaco Silva foi - ou é - um «salazarista convicto». Quantos salazaristas convictos não se converteram ao credo democrático e andam ainda por aí, todos pimpões? Que nos importa isso, quatro décadas depois? O Velho - é necessária esta linguagem codificada, para evitar o abuso de liberdade de expressão - nada desconhece, em nada se lhe tolda a consciência e as ideias. Nem mesmo quando alude ao Chefe de Estado da sua República. É manifestamente com intuitos insultuosos que escreve o que escreve sob o manto desculpante da idade. Enquanto os seus apaniguados se mantém debaixo do capote do "politicamente correcto" e o deixam debitar ataques pessoais reles de tão mal intencionados.

Não vem a propósito, mas Ricardo Costa comentou no Expresso que Mário Soares foi o político mais importante da segunda metade do século XX. Tem toda a razão. E se tivesse dito que a marca identificativa desse tempo e do actual é a corrupção continuava ainda a ter a razão toda.

(Escrito desta maneira, talvez não me aconteça o azar daquela estudante na Aula Magna da Universidade de Lisboa, quando interpelou o Velho sobre as pisadelas na bandeira...)

 

 

 

Pág. 1/3