Breve esquisso do Luís-jardineiro
O Luís-jardineiro é alto, esguio, não se lhe conhecem origens nem a idade. Há um coração onde ele vive sempre, uma memória imortal, um andar perpétuo sob o verde folhame das cameleiras. Assobia como qualquer toutinegra, maneja a navalha com artes de escultor. E planta rosas em destreza igual à das suas façanhas nas esperas às ginetas.
É um personagem, o Luís-jardineiro. As voltas de um romance. Apetece anunciá-lo, reverente, dedicado, amigo, os olhos molhados das lágrimas ou o cigarrinho por ele enrolado e fumado até ao último fiapo de tabaco. Sem distinguir no trato o avô do neto, guardados os modos próprios de cada geração.
Como ninguém atravessa os pinhais à noite, sem luz e sem se perder. Arma o laço aos coelhos e casquina uma risota se lhe foge alguma anedota brejeira.
Ganha vida, o Luís-jardineiro. Decerto nunca a perdeu. Talvez por mais não ser senão saudade, o inconformismo da alma e a mordaça cuspida pela razão.