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Começo a descer a Rua – que é a Adriano Pinto Basto – contando o desalentado desabafo de um senhor alemão, expositor na derradeira Feira do Artesanato, sob o brado implacável do altifalante: ele gostava de Schubert, não da música pimba com que se depararia nos três dias seguintes da sua existência… Pois era altura do dito cavalheiro voltar a Famalicão e redimir-se das suas impressões: o disco jokey é outro e ouve-se Natal, como se cheira Natal e se caminha pachorrentamente o Natal.
Talvez mesmo sem a eterna tentação das recordações do Passado. Às vezes vale a pena pensar sobretudo o Presente e mesmo o fascínio de um Futuro feito de novas realidades, tão novas quanto na realidade sejamos capazes de nos renovar. Assim como se andássemos já no cruzamento da Íris e sempre mais nítida a visão do que ocorre lá em baixo, na Rua de Santo António.
A música continua a surgir de algures, no volume certo e em boa escolha ainda. Nesta deambulação, é difícil optar entre uma manhã ensolarada e um final de tarde com as cameleiras a abrirem em cores e luzes natalícias trepando por elas acima. E o mesmo na Avenida e na Alves Roçadas e na Ernesto Carvalho e em quantas mais artérias. Aí está, ainda, como o Presente fica a ganhar para o Passado onde se arrumaram as pesadas armações pisca-pisca, quase cangas a estreitar pescoços em que é suposto circularem automóveis, pessoas, boa vontade e melhor disposição. O Natal todo, enfim. Pacificamente, paulatinamente, coloquialmente. Ao dobrar da esquina, ziguezagueando de passeio para passeio, há novidades na Praça 9 de Abril, o que será?, perdi-me um pouco num abraço qualquer, em farta dose de saudações. – E continuação de um boa dia – disse, pelo que o passeio é matinal, concluo, enquanto ajeito o cachecol em volta das orelhas e reponho o boné na cabeça. Gozando então o quente frio do Natal, em espessas baforadas expiradas para cima das montras. Que novidades não guardarão elas?, segreda-nos a curiosidade, a tal que matou o gato mas mantém vivos os espíritos.
Perdi-me. Talvez divague agora na Avenida. Talvez esteja para entrar em órbita nisto que foi a “Vila” e hoje é o “Centro”. A música não pára de amornar as horas, as árvores de natal pirilampam porta sim, porta sim, porque tudo são lojas e intenções e tentações, lembranças em suma.
Vivam o Natal. Descubram-no nas ruas, entre amigos e vizinhos e outra gente de bem. Longe de fantasmas e tormentos e – no intervalo de uma semana – de cargas fiscais. Apenas com a saúde que Deus nos der e a companhia de quem nos quer…
Um santo Natal para todos!
(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 18.DEZ.2014)