O chinezinho Li
Peter Hessler (China - Uma Viagem entre o Passado e o Presente) fez questão de ser fiel ao que viu e ouviu. Estava-se no final do transacto milénio e emergia a possibilidade de uma viagem mais profunda pela China. Ficam registos inesquecíveis. Como o seguinte:
Li, chinezinho residente na Aldeia Dez de um qualquer distrito também numerado, é pai de três filhos. Orgulhosamente nomina-os Li Mao, Li Ze e Li Dong. E quando no campo onde capinava os chamava: - Mao, Ze, Dong! Venham já aqui! - era como se louvasse o amor, clamasse a presença do grande condutor das massas populares. Nem mais do que Mao Zedong, também dito Mao Tse Tung.
O problema, inesperado, residiu em idêntica devoção dos mais aldeões. Em maré de "sessões de luta", incompreenderam-no, julgaram-no herege. Invocava o nome do santo presidente em vão. Foi condenado: suspenso pelos pulsos e obrigado a «beber urina de uma latrina pública».
A História oscila, realmente, entre o anedótico, o bizarro e o dramático. Tudo dependendo, a maior parte das vezes, do nosso posicionamento político. Esse estranho local que nos impede de ver os factos, na sua absoluta verdade. Ainda assim, acredito a Direita - a verdadeira Direita - se saiba demarcar destes excessos latrinários e, mais coisa, menos coisa, siga um caminho de verdade e humanismo. Escrevo estas linhas porque, ultimamente, tenho lido coisas de pôr os cabelos em pé a qualquer ser um bocadinho dotado de pensamento.