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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O grande Siga

João-Afonso Machado, 30.11.14

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O Siga é famoso no Porto. Um percurso de vida ímpar e um sonho ainda não cumprido. Muito rapidamente:

Aos onze anos, o Siga roubou o seu primeiro automóvel. Deu umas voltas, foi detido, o carro voltou para o dono e o Siga voltou para casa: estava a cinco primaveras da imputabilidade.

Mas, a partir de então, não mais parou. Especializou-se no roubo de Fiats Uno, cujas portas era perito em arrombar. Foram dezenas deles. Pelo caminho, semeava a pânico sempre que se aproximava de qualquer escola secundária com os seus sequazes e o seu comerciozinho de droga. Volante excepcionalmente dotado, aos quinze anos voava pelas ruas da Foz perseguido pelos carros da polícia. Uns meses mais, resmoneavam os agentes, cansados do prende e solta - uns meses mais e poderá ser presente aos tribunais. 

Nado no Bairro da Pasteleira, o Siga tornou-se uma celebridade em toda a vastidão do planeta tripeiro. Deu entrevistas. E confessou então a sua grande ambição: roubar, desviar, um avião!

Hoje o Siga apagou já as trinta velinhas. Na pildra, naturalmente. Parece que, desde a sua imputabilidade para cá, tem conseguido viver alguns momentos de liberdade, ciosamente ocupados no tráfico de droga, na destruição de caixas multibanco, no assalto a velhinhas, etc, etc. A transacta semana foi notícia dos jornais, outra vez capturado em flagrante delito. Tornou, por isso, ao seu habitat.

Não sei que pensar disto tudo. A segurança das pessoas é fundamental, mas talvez se pudesse abrir uma excepção e deixar o Siga concretizar o seu anseio de sempre. É cerrar os olhos e ele que fuja com um avião. De  alguma companhias low-cost, uma dessas onde a minha velha mochila na cabe nas bagageiras.

Afinal de contas, há por aí tanta gente sem necessidade de aspirar a tanto, com obrigação de fazer por menos e realizar tanto mais... Falo de malfeitores, é claro.

 

 

 

A "justiça democrática" ou a justiça socrática?

João-Afonso Machado, 27.11.14

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Sócrates falou - ditou ao telefone - e o "comunicado" já chegou à Imprensa. E é mesmo ele, o Sócrates tentacular, quem fala, no disparar à toa de acusações e ameaças. Com o costumeiro remate vitimizante e heróico da reza. A coisa promete.

Que se trata de uma afronta, um ataque, uma conspiração do Ministério Público... Mas - esqueceu esclarecer - do M.P. enquanto Magistratura, no todo da Instituição? De algum Magistrado em especial? Querendo isto dizer que esses malandros estiveram de tocaia, aguardando a cessação de funções do Procurado-Geral, o amigo Pinto Monteiro? E o Juiz Carlos Alexandre abençoou a cabala, embelezou-a com a prisão preventiva?

E só agora o escândalo da violação do segredo de justiça, da coscuvilhice dos jornais e das televisões, da manipulação da opinião pública? E durante o seu consulado?, questionará Manuela Moura Guedes...

A coisa promete, ficou dito acima. Sobretudo, urge decifrar a sua enigmática expressão - «este caso resolve-se com a justiça democrática». Exactamente porque a Justiça se limita a ser justa. Apodá-la de «democrática» só pode subentender a política imiscuir-se no desempenho do Poder Judicial. Com o camarada Pedroso também foi assim.

 

 

Fala-se pouco de amor

João-Afonso Machado, 27.11.14

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Dois súbitos tiros e nem uma voz. Um latido sequer. Apenas o acordar da urze entre as penedias e um correr empenhado, soltos os músculos como se as estátuas ganhassem vida. Esvoaçam penas além, levadas pelo vento...

E depois o retrocesso. A alegria da entrega e um demorado enganchar da perdiz, sorriso contra sorriso. O beijo agradecido, uns ditos murmurantes só para quem os entende, as mãos deslizando naquelas orelhas que assim permaneceriam o resto dos dias, uma lambidela grata. Por isso a sua expressão, pedinte de mais, feliz do desempenho, generosa de tanta disponibilidade.

Cartuchos trocados, a caminhada prossegue uma manhã ainda por fazer. O monte doi, o corpo geme, mas o espírito quer. No retomado silêncio do frio invernoso, uma outra paragem entre as carrasqueiras e o seu olhar novamente. Sempre sorriso contra sorriso. Fará depois conforme o seu instinto e a sua arte. O amor fala assim, por muito que as palavras se poupem.

 

 

 

"Operação Marquês"

João-Afonso Machado, 25.11.14

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Enganei-me. A medida de coacção aplicada foi a mais grave: Sócrates está em prisão preventiva. E a Esquerda de cabeça perdida. Tudo conforme a noite televisiva de ontem.

Depois lembrei-me - «Operação Marquês»... Com acento circunflexo, logo não era «Marques», um Marques qualquer. Ocorreu-me, salvaguardadas as devidas distâncias, também o Marquês de Pombal, logo após a morte d'El-Rei D. José, se viu desterrado para os seus domínios, longe da Côrte onde durante décadas impusera a sua vontade e aonde jamais regressou. Exercera, até à subida ao trono de D. Maria I, o cargo de Secretário do Reino. Foi o 1º Ministro de então.

É claro, nos 16 anos da I República multiplicaram-se os casos de ministros e chefes de Ministérios a passarem pelos calabouços. Mas isso era fruto das sucessivas revoluções, não de processos judiciais nem da prática de algum ilícito em concreto. Não, o caso de Sócrates é diferente e não parece a República da corrupção se assuma inspirada na República da vandalização.

Sócrates protagoniza uma situação histórica ímpar, portanto. (Mesmo porque nem se aproxima do grande estadista que o Marquês foi - PPP's para auto-estradas competindo com a reconstrução de Lisboa?). Politicamente, Sócrates é um fantasma; um"careto", personagem de que ele ainda não estará esquecido.

Nada disto é importante, salvo a prisão de um ex-1º Ministro num país dito civilizado, europeu. Também parece óbvio que a pregação da não interferência nas decisões do Tribunal Constitucional não se aplicará ao juiz Carlos Alexandre. A rapaziada é assim. Nesta altura, o fundamental é a Direita saber comportar-se...

 

 

 

Quem tramou Sócrates...

João-Afonso Machado, 23.11.14

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De acordo com a célebre entrevista ao Expresso, há treze meses, o que tramou Sócrates foi a morte do cãozinho da sua mãe, e o facto de a senhora, em consequência, ter comprado um apartamento na Rua Braamcamp a uma off-shore para não ficar sozinha. Mas parece que as sucessivas recargas, por outrém, da sua modesta (e única) conta bancária na CGD com avultadas quantias também não ajudou... E os três milhões, preço da sua residência en Paris, outrossim terão embasbacado, mais ainda, a Justiça. Decerto acabrunhada pela determinação do Presidente do STJ referente à destruição total da gravação das famosas escutas.

O "caso José Sócrates" é uma realidade, são já duas noites dormidas na cela. Nada indica aqui excesso de zelo da PJ. Muito provavelmente, findos os interrogatórios, Sócrates, constituido arguido, prestará substancial caução (a família ajuda...) e não poderá ausentar-se do País. E, a não se dar o milagre do Mapa Judiciário de Paula Teixeira da Cruz ser mesmo eficaz, o processo arrastar-se-á por toda a próxima década. Para concluir em qualquer coisinha muito consentânea com o esquecimento e a apatia dos portugueses.

Em síntese, o Poder Judicial (um Poder sem cara mas com muitas cabeças), aparentemente, resolveu lavar o Regime por dentro. Sucedem-se os "casos" no mundo dos poderosos.

Mas tem pela frente a fortaleza maçónica. Assim a novela Sócrates não tenha o mesmo desfecho que teve a de Paulo Pedroso...

Resta aguardar. E gozar o brinde: logo à noite, a RTP não transmitirá a costumeira vergonha paga por todos nós.

 

(Fotografia tirada na manifestação anti-Governo Sócrates em 14.MAR.2011).

 

 

 

 

Falta de educação ou reumático intelectual

João-Afonso Machado, 21.11.14

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Comentando a morte recente do representante de uma ilustre e histórica família portuguesa, constava dessa autêntica universidade que é o Facebook, um dito (acompanhado da fotografia do defunto) mais ou menos como isto: «Para quem gosta de circo, foi realmente uma grande perda»!!!

Com algum alívio, creio ter percebido que o iluminado autor desta boutade não é nacional. Fica assim no ar a probabilidade de, cá na nossa terra, a memória dos que partiram ser ainda merecedora de todo o respeito. Mesmo a memória de pessoas que em vida foram, por alguma razão, controversas. Ou, simplesmente, se atreveram a pensar diferente de alguma omnisciência indignada.

É a hodienta questão do fanatismo e do radicalismo. Da rigidez do espírito ou da total incapacidade para compreender o mundo, aliás feito ou desfeito por nós e pelos nossos próximos.

Transpondo ainda para o universo político - porque é lá que vamos sempre dar - percebe-se claramente como Portugal não consegue equilibrar os pratos da balança. De um lado o império da partidocracia. Da corrupção, numa palavra. Do outro, o salazarento resmonear dos incapazes de sararem feridas esquecidas há século e meio. Dos que se afirmam detentores da panaceia miraculosa, a "ressurreição" da Pátria, mas se limitam à maldicência entre o grupo dos sempre mesmos amigos. Os tais para quem a "salvação" reside na extinção dos partidos - sem se aperceberem, eles próprios os criadores do Partido Contra os Partidos. Um PCP como outro qualquer...

RIP, Portugal!...

 

 

 

"Antigos Alunos do Liceu"

João-Afonso Machado, 20.11.14

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Era ainda a Vila e os estudantes somente umas centenas. Os invernos gelados, pintados de geada aqueles meses todos, e os colegas a maioria acordando de madrugada em quantas freguesias se decompõe o concelho, correndo para não perderem a carreira ou o comboio que os trariam às aulas. No Largo Tinoco de Sousa, meia dúzia de automóveis, invariavelmente os Dyane, os Corolla (o do Prof. Vilaça era vermelho…), os Mini, os carochas, com uma ou outra máquina mais vistosa pelo meio, tudo pertença dos s’tores, eles mesmo fazendo vaquinha na gasolina, os que vinham (e eram muitos) do Porto.

Mas orgulhosamente se chamava já Liceu Nacional de V. N. de Famalicão. Emancipação recente do Sá de Miranda bracarense, de que nascera “secção”, como se inscrevia naqueles cadernos diários verdes comprados na secretaria, logo no início do ano lectivo. Lembram-se? O Liceu, depois crismado Escola Secundária, porque modernizar também é complicar, o Liceu, dizia, tem a nossa idade, melhor escrevendo, pertence à nossa geração, e fartou-se de discutir política no mesmo empenho com que jogava  futebol ou tomava partido contra ou a favor do Benfica. Talvez sem perceber - falo eu com os meus botões - o azul-e-branco será sempre a cor do amanhã e, de qualquer modo, na mira costumeira do verde pano dos contados bilhares de então. Onde a dita política dava a vez à concentração e à perícia ou a animados colóquios (uma delícia estes tiros às aulas…) sobre as colegas mais giras e bem postas, ninguém esquece as turmas não eram mistas, e elas no recreio todas no seu canto, como chegar lá e desapartar a eleita?

Assim foi, vão lá três, quatro décadas. O reencontro é sempre um momento de emoção, senão mesmo um novo carimbo no passaporte da vida, ou aquele minuto complicado em que falha a memória, como era o teu nome?, tudo está diferente, foi-se o cabelo, veio a barriga, Santo Deus!, como te chamas?, em que ano, em que turma?, eu lembro-me de ti!

Acaba-se-me o espaço para a escrita. Talvez seja já o bastante para entenderem estes convívios periódicos dos antigos alunos do Liceu. Ou da tal Escola Secundária, creio que Camilo Castelo Branco nomeada. De quando eu já partira para outras andanças. Mas regressando aos do meu tempo, agora os do 7º ano, os mais velhos, já não o são, somos todos uma época só, uma vida vivida, há avós entre nós, milionários que se saiba não, uns mais afortunados, outros menos, histórias contadas à mesa. Tanto trabalho, tantas alegrias, tantas desilusões depois.

O nosso colega Joaquim Vilarinho pertence já à toponímia deste enredo. Ele tem sido o grande promotor dos encontros de antigos alunos, decerto auxiliado (aí está uma disciplina onde já chumbei por faltas…) por outros heróis e beneméritos. Oxalá não esmoreça. Oxalá todos continuemos por muitos anos estes almoços e jantares onde há abraços, recordações confusas, espanto e exclamações e bailarico empenhado. Com música dessas eras e sem “banhos de assento”, entre o Rock the Boat e o If You Need Me. The Hues Corporation e Wilson Picket, para os mais esquecidos ou mais novos, caso queiram procurar no You Tube e analisar a coisa.

E tudo porque merecemos. Fomos felizes no Liceu, é justo revivamos, tanto tempo depois, essa felicidade.

 

(Da crónica De Torna Viagem, em Cidade Hoje de 20.NOV.2014)

 

 

 

 

O résvés das notas...

João-Afonso Machado, 19.11.14

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Suponho, um recorde: dois ministros do actual Executivo meus antigos professores. Às vezes arrependo-me de não ter sido bom aluno...

Rui Machete, em Direito Administrativo, presenteou-me com o maior "baile" alguma vez dançado nas minhas provas orais. Lá passei... Enfim, está bem conservado, creio a vida coxeia-lhe menos do que a mim.

Anabela Rodrigues, a nova Ministra do Interior, é um caso diferente. Contas feitas, ainda não ultrapassava a idade dos 30 quando leccionou Processo Penal na minha Faculdade. Namorava então com galhardia e apertou-me também (salvo seja!) no exame final. Parece, o Prof. Costa Andrade enalteceu agora a sua «Firmeza». Eu que o diga! E a pauta das notas também... Lá passei...

Não sei se Machete merece a remodelação por tantos preconizada. Na dúvida, dou-lhe a notazinha do desenrascanso. A Anabela Rodrigues, nesta aula de apresentação, só lhe posso desejar boa sorte. Tanto mais que, não sendo discutida à esquerda, as suas responsabilidades são redobradas. A nota que me deu, há trinta e tal anos, com a inflacção equivale a chumbo certo...

(Só para terminar: o Regime tem coisas únicas! Sem argumentos para criticar a escolha - Anabela Rodrigues - de Passos Coelho, caiu em cima do Governo por não se remodelar mais amplamente!)

 

 

 

Há tolice para todos os gostos

João-Afonso Machado, 18.11.14

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Era uma presença diária na Faculdade, vão lá tantos anos. Chamava-se Luís e, invariavelmente, vestia um fato impecável, calça, casaco e colete, gravata lustrosa, a pasta "à diplomata" na mão e lugar cativo numa mesa do bar. Não havia assunto em que não manifestasse doutíssima opinião e era a imagem bem acabada de um assistente. Previa invariavelmente o fim do mundo, tal a nojeira dos costumes, e os mais incautos tratavam-no por "Sr. Dr.".

E, no entanto, sequer era aluno. Ou estudante em outro lugar qualquer. Nada. A sua vida era aquilo: o fato, a presença constante no bar da Faculdade e uma pasta cheia de papeis amarrotados sem, ao menos, o ar severo de documentos, dossiers.

Mais assegurava ser de uma família da maior nobreza, primo chegado do Rei de Espanha, um dos possiveis herdeiros do Trono espanhol.

De tudo ficou-lhe uma alcunha: o Rei de Espanha. Assim a modos do Imperador Smith do Lucky Luke.

Não foi além do bar da Faculdade. Nada mais soube dele, três décadas é muito tempo, talvez não tenha sido internado no lugar próprio para cuidar de tais megalomanias. E a inexistência de redes sociais, então, tolheu-lhe a projecção de que tanto gostaria.

O Luís, se ainda vive o mesmo culto de si mesmo, há-de decerto andar hoje pelo Facebook. Isto a avaliar pela muita loucura que lá grassa. Pelos muitos reizinhos que povoam aquelas páginas e grupos, completamente à solta a tolice e a imaginação. E, o que é bastante mais grave, a maldicência e a total ausência de educação.

Entenda-se: não é o Facebook que está em causa; o mal reside em os imensos excêntricos que pululam de volta dos computadores desconhecerem como se comportam os seus congéneres britânicos no Speakers Corner.

O mais é apenas uma questão de tolerância e caridade. Coitados!

 

 

Uma desilusão!

João-Afonso Machado, 16.11.14

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É certo, em carta de 12 de Junho de 1888, Eça recomendava a Oliveira Martins folheasse apenas Os Maias, «coisa extensa e sobregarregada, em dois grossos volumes»; que lesse «As cem primeiras páginas; certa ida a Sintra; o desafio; a cena no jornal A Tarde e, sobretudo, o sarau literário».

João Botelho há-de ter seguido o conselho, mas folheou Os Maias com pressa excessiva e o seu filme saiu uma bodega. Ou então concebeu-o propositadamente assim, isto dos estilos e das tendências fala sempre mais alto do que a razoablidade.

Mas estavam todos péssimos, com uma palavra abonatória para Craft e Cruges. Ega, o meu amigo Ega, de algum modo transformado em personagem principal no enredo - galardão que Eça não lhe atribuiu - esgasgou o filme inteiro, confundindo a sua histórica verve com uma vulgar histeria. Dâmaso não era aquilo, perdeu - esse sim - irrequietude e a bochecha corada de todos os roliços. A barba de Carlos recortava-se noutro rigor, bem como a sua atitude de príncipe renascentista, Afonso da Maia só no fim deixou os ombros cair, Alencar... pobre Alencar, tão mal desenhado!,  e quer a Gouvarinho quer Maria Eduarda, tudo lhes faltou, «a carnação eburnia», o ardor, «o frou-frou das saias»...

Acrescem pormenores até hoje ignotos: Garrett afinal fazia parte da galeria de antepassados do Ramalhete, Craft era aparentado com Gomes Freire, a avaliar pela heráldica dos reposteiros da sua casa, e o Conde de Gouvarinho nada mais do que Par do Reino!... A tela desculpa-se, não seria exigivel mandar parar o trânsito no Chiado ou na Rua do Alecrim para filmar, nem a "crise" proporciona orçamento para cenários e figurantes.

Mas o pior ficaria ainda reservado para o fim. Para o regresso de Carlos, dez anos depois. Quando «isso» da politica «tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como uma filoxera» - bradava Ega - num reencontro que faz a história nova, o paradoxo da imutabilidade dentro da novidade. Era já o tempo da Avenida da Liberdade, do desaparecimento de tantos, mesmo das ironias do Destino. Aquele passeio final, antes do jantar no Braganza, não podia ter perdido o pio, falhou o crayon, o Turf nascera já e as saudades por narrar despontavam aqui e ali, muito antes do americano passar - coitadas, coitadinhas, coitadíssimas...

 

 

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