Pobre Portugal!
Por fatal infelicidade, é provável a maioria dos portugueses não se tenha apercebido do profundo significado da campanha eleitoral a que ultimamente assistiram - a das ditas "primárias" do PS.
Ela conteve todos os condimentos: a travessia do País, as bandeiras e os hinos, o apoio dos dinossauros, os comícios e os discursos e a maledicência. Ligando a televisão, sem antes nem depois, era como se estivessemos em plena pugna pela chefia do Governo entre partidos e - supostamente - programas diversos. Afinal, tratava-se apenas de uma questão interna dos socialistas; mas ninguém diga amanhã não sucederá o mesmo com outro partido qualquer: um precedente é sempre consequente. Ao que parece, Morais Sarmento já afirmou publicamente dever ser assim...
(Entrementes: Seguro foi apunhalado nas costas por Costa. O mundo redutor da partidocracia em que sempre viveu obrigou-o a fugir para a frente, à míngua de condições pessoais para bater a porta e mandar a outra parte, menos limpa, os vilões que o atraiçoaram. Esquecendo não serem os elegíveis a perseguirem os eleitores, mas o contrário. O resultado foi uma derrota contundente, uma humilhação, a premiar semanas de pose estadista e retórica triunfalista. Com óculos, como Constâncio...).
E no dia da contagem dos votos, Costa apresentou um quartel-general hoteleiro, sondagens, manifestações cá fora e o discurso do vencedor. Tal qual ganhasse umas Legislativas quaisquer.
Ganhou apenas as "primárias". Quer dizer, o passo inicial para se abalançar às "secundárias": a governação do País.
Doravante será assim: os partidocratas guerrear-se-ão entre si, dentro de si, antes de partirem para o combate final com os seus congéneres das demais facções. Dirá a modernidade - à boa maneira americana...
Se isto não significar o fim da sua hegemonia, a emersão das candidaturas locais, é caso para dizer definitivamente: pobre Portugal!