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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Foi (e é) assim...

João-Afonso Machado, 31.08.14

Essa imagem conta tudo. É vê-los!, todos com o ticket na mão, mas ainda assim atropelando-se na ânsia de chegar primeiro. E a República, muito mandriona, liberal nos costumes, chama-os a todos sem pudor. A picar-lhes os instintos sem olhar a idades. Arriaga já lhe roça a coxa, António José de Almeida tenta içar-se ante o ar alucinado, invejoso, de Teófilo; já Brito Camacho parece protestar  de alguma pisadela no pé, resmungão como sempre foi; e Costa?, onde está o Afonso Costa?; alguns democratas mais ameaçam mergulhar sobre o busto tentador, parece ser de Relvas o braço tão no ar e Bernardino, em primeiro plano, aponta lubricamente o caminho.

Atenção, forças da ordem, todos os patamares das escadarias da Câmara dos deputados foram já vencidos pela turbamulta! Por isso ela se chama hoje Assembleia da República.

 

 

Honroso encontro em expressões sentidas

João-Afonso Machado, 29.08.14

Em 1934 Hipólito Raposo chamou-lhe A Praia Brinquedo, no seu Pátria Morena, e assim casualmente nos encontrámos em palavras já vindas de então, no aconselhar do Mestre, quem for a S. Martinho do Porto «não se esqueça do sobretudo forrado de peles, nem das luvas polares, porque o inverno tem o capricho de vir aqui passar o verão, e não faz cerimónia com o calendário gregoriano». Sorrimos ambos dos dizeres que as muitas décadas e gerações ainda repetem e calámos a presença entre o burburinho estival, observando. Mesmo pela adversidade a modas, suponho comum, e porque subindo ao «Morro do Facho, cada qual fica senhor da terra ou do mar, à sua vontade», se calhar anonimamente... 

Assim foi o gozo daquela lua cheia inusitada e o descontrolo da maré esvaziando a concha, na ameaçadora antevisão de um futuro possível. Ouviu-se o eco fantasma da vizinha lagoa imensa, inumada pelo Tempo e pelas areias em várzeas férteis de cultivo. E ouviu-se, acima de tudo, o coração em sangue de saudade - não há quem as não tenha de quem jamais pode ser esquecido. 

 

 

O Estado, a Nação e o Rei

João-Afonso Machado, 27.08.14

Consta que, interpelado pelo presidente americano Theodore Roosevelt sobre o papel que desempenhava, o Imperador Francisco José, da Austria-Hungria, terá respondido - a minha missão como rei é defender o meu povo dos seus Governos.

Eis como se diz tudo. E cem anos depois, estas palavras, com estes propósitos não podem ser mais actuais.

Em monarquia, o Rei é o Chefe de Estado apenas por inerência das suas funções essenciais, as de representante da Nação - da nossa História, da nossa entidade cultural, da nossa independência, da nossa projecção num futuro sem termo.

A índole política da chefia estatal tem um alcance meramente instrumental no contexto do significado nacional do Rei e da Família Real.

O que tudo é tão mais verdade quanto é certo, em marés de Positivismo, a lei passou a - citando António Sardinha - determinar a sociedade, em vez de unicamente a exprimir. Quer dizer, nos tempos correntes em que o Estado, inchando sempre, desenfreadamente voraz, passou a alimentar-se à custa dos cidadãos.

Paradoxo dos paradoxos, a saúde das gentes recomenda hoje, mais do que nunca, uma anarquia sã, pelo enaltecimento do municipalismo; e um regime estável, apenas alcançável pela aplicação do Princípio Dinástico. Pela Monarquia, enfim.

 

 

A tentação de ficar

João-Afonso Machado, 26.08.14

Seria talvez necessário aguardar o próximo Inverno e experimentar os seus efeitos sobre a pele de um meridional. Causam sempre estranheza esses meses a fio em que os dias são quase só carregados de noite. Diz quem sabe, requerem muita resignação, presença de espírito, até por não se tratar apenas do sol fujão, mas do frio impiedoso também.

No mais, a Noruega ganhou.

Ganhou em simpatia, limpeza, organização, beleza, descontracção... Em saúdinha! Ganhou em tudo. Sem uma buzinadela no trânsito, sequer, a sujar a pintura. E votada ainda por quantos espanhois, italianos, africanos...

Particularmente Bergen, a segunda cidade, merece destaque no triunfo do prémio da montanha, fosse de bicicleta, para os autóctones, fosse no funicular, mais ao jeito dos turistas; e nas portas abertas ao roteiro dos fiords ou nesse corredor, Património da Humanidade, madeira rangente e tão sólida, que é Muelle Bryggen, debruçado sobre o cais.

Mas Bergen é sobretudo os seus pardais, as gralhas cinzentas ou os pombos, vindo comer à mão da criançada, e os apaziguantes passeios junto de Lille Lungegarde, manhãs inteiras de tranquilidade, o Verão a principiar o declínio e a terra de encontro ao seu habitual sossego. Fica uma saudade imensa , como nenhuma outra descoberta sentiu. Toda ela devida ao silêncio das almas naquelas paragens onde o stress não tem o passaporte validado.

 

 

"Soneto da Noruega"

João-Afonso Machado, 25.08.14

O  sonho a medo se fez elmo alado

E as águas do céu de marés e vento

Pousaram em espírito, então chegado,

Sulcando rumores e ondas, alento!

 

Cantam gumes, cavername ajustado

Sobre eternas sagas do movimento

No dragão à proa, negro, enevoado.

Dizem-no matador, pai do tormento,

 

Quando afinal, coração, se fez sol

E chuva e amor, madeiras seculares

Embarcando ravinas, vasta prole

 

De hirtos abetos e aves nos ares:

Apenas outro mundo num rompante

Boreal, esguio remar do instante.

 

 

 

Sábias palavras

João-Afonso Machado, 24.08.14

Frei Fernando Ventura, teólogo e biblista, referindo-se à missão do Papa Francisco em crónica no Sol de 22 de Agosto p.p.: «Este é o Papa das sandálias que tocam o chão sujo da história, que convida os "operários da messe" a não ter medo de serem autênticos, que os desafia a não serem títeres ou marionetas às ordens dos poderes instituídos, das lógicas maçónico-mafiosas que governam o mundo da finança e da política, mas a serem agentes promotores da revolução dos afectos que o mundo espera, sinais de um Deus que não é nem nunca foi de um céu distante, mas que sempre se apresentou como um Deus da relação, um Deus de Tu; nunca um Deus de um céu distante, mas sempre um Deus do pó, da estrada e do vento. Um Deus daqui!».

Pois é. Assim descomplicadamente é que se fala. O mundo é feito de gente, de homens e mulheres parecendo às vezes incapacitados de olharem uns para os outros. Cada qual agindo como se ignorando o seu semelhante. Porquê o ponto a que chegámos? Por via do triunfo da mentalidade - «das lógicas» - «maçonico-mafiosas». Um "vírus" terrivel com origens históricas precisas - adiante... - e circunstâncias actuais concretas e bem visiveis. Encapotado na dialéctica Estado Social/neo-liberalismo, como se os rótulos ideológicos remediassem a felicidade de alguém, e sugando-nos o corpo e a alma à mesa dos negócios e da promiscuidade dos políticos.

E afinal para quê? Um dia virá, todos compareceremos diante de Deus com igual quantidade de dinheiro e haveres no bolso...

 

 

 

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 23.08.14

Torget e a Praça do Mercado, em Bergen, Noruega. Onde, diz-se, se falam 24 idiomas e, por isso, o turista não terá dificuldades em escolher uma ementa de peixe, marisco, ali cozinhados e comidos. Em banca ampla, protegidos de plástico até ao pescoço, três ou quatro artistas desse mester. Sem dúvida meridionais. E logo à primeira pergunta uma resposta no sempre saudoso português. O almoço, no mesmo instante, ficou ajustado para o dia seguinte.

O Joel Pereira é de Fátima e o Jorge Maciel de Barroselas, Viana do Castelo. (É mais impressionante a bigodaça do nortenho). Ambos estudaram nas Caldas da Rainha - aquele «Cerâmica», este «Artes Plásticas». Depois, serão de tirar as conclusões do costume - o que fazer?, perguntaram inevitavelmente no termo dos seus cursos.

Rumou à Noruega o Joel, ocupou-se em Bergen, não se terá dado mal. Isto em 2009. E chamou, entretanto, o Jorge, seu amigo, que aparece somente na "época alta", uns quatro meses, de Maio a Agosto, regressando depois à Pátria até ao ano seguinte, com o bastante para se aguentar no "defeso".

Seguimos o conselho deles: espetadas de salmão e tamboril, salada de alface e uma perna de caranguejo real, tipicamente norueguês. Uma delícia!

O vento soprava em prenúncios quase de tempestade. Havia cachecois e gorros de lã por toda a parte. Agosto, aqui, já não é propriamente um mês de veraneio. Ao despedirmo-nos de ambos diziamos também adeus ao "calor" nórdico. Como verdadeiros portugueses, esta realidade entranhara-se já nos seus hábitos. Até que dias  melhores surjam mais cá por baixo...

 

 

Primeiras impressões

João-Afonso Machado, 22.08.14

Houve um clamor de silêncio e céu pardo a que até o ferry se vergou. Durante os muitos quilómetros do lago e de uma profundidade sem história conhecida, quase no tecto da Europa. Ninguém soube dizer se era Verão, nem mesmo o calendário. Somente a luz difusa em celestiais paragens teimava em não perder altitude. E os abetos constituiam o resto da imensidão. 

Chegaram assim esparsas, mas carregadas de natureza, as primeiras notícias do Reino da Noruega.

 

 

Leituras na areia

João-Afonso Machado, 16.08.14

O Partido Livre, o Fórum Manifesto e o Bloco são micro-realidades com o louvável efeito de produzirem algum cantarolar na monotonia da nossa vida política, exactamente quando planeiam e programam a revolução e apostrofam o «neo-liberalismo». Férias significa isso mesmo - o lugar da fantasia, um areal quanto possivel bastante para lutas entre os bons e os maus, com a previsivel vitória do Estado Social, perdão, do Zorro, sobre o eternamente gordo e egoísta Sargento Garcia.

Quanto sonham, enfim, quanto confabulam. E enquanto se vão subdividindo - o Sargento Garcia, ridiculamente, nunca conseguiu congregar tropas - persistem em alcançar o mando. Por isso, em entrevista ao Sol, Rui Tavares antevê a eleição de deputados seus nas próximas legislativas.

Um ponto a merecer alguma atenção, a dita entrevista. O fenómeno "Marinho Pinto" não ocorre todos os dias, muito menos em perfis como o de Rui Tavares. Portanto, ali anda projecto de aliança. Com o PS a ser deslocado para o «centro-esquerda», em marés onde o PSD e o CDS já se rotulam (e aceitam o rótulo) de «centro-direita».

Esta geminação ao «centro» é perigosa. Promíscua. Há-de persistir, de resto, uma servidão de vistas ampla e não há notícia de título extintivo da mesma. Com todo o respeito por toda a gente, mantenhamos a indispensável privacidade. É de esperar que o PS mantenha a sua umbilical ambiguidade. A de um partido sem ideologia, encosta aqui, encosta ali, tal qual qualquer agremiação maçónica, porque essa sim, é a sua essência.

 

 

Boa viagem

João-Afonso Machado, 13.08.14

O nome é um desejo. Uma recomendação, porventura no tom aflito do derradeiro adeus, já a poeira do caminho tudo cobre. Mais do que a profundidade do mar, conhece-se a sua altitude. Quando ele braveja lá em baixo e lentamente tosa os rochedos pela força insistente das suas águas. É a espuma, o fragor das ondas, o medo cismando devagar pelos estradões cascalhentos, quase a resvalar de gritos alarmados.

 

O fim da tormenta depois de dobrado o Cabo Mondego. E muitos e muitos quilómetros adiante, o mesmo desejo, a mesma recomendação, o pontiagudo cuidado já longínquo da Serra da Boa Viagem.

 

 

 

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