Para quem ainda não tenha percebido, a abdicação do Rei Juan Carlos está servindo ao jacobinismo republicano (o indígena, ainda mal refeito do fracasso em que redundaram as comemorações do famigerado Centenário) como uma oportunidade ímpar de tentar demonstrar afinal a sucessão na chefia do Estado, nos regimes monárquicos, não é assim pacífica e serena, logo vantajosa. Nem, já agora, a Instituição Real será o tal elemento agregador, sob cuja égide as diferenciações regionais se reconhecem numa única e coesa Nação.

Daí o alerta geral, demagogicamente chamando à liça a Comunicação Social, os ilustres pensadores da (nossa) Situação. Confundindo as coisas, olvidando a verdade - se os independentistas (agora designados com pompa «nacionalistas», à boa maneira franquista) preferem em Espanha a República, tal resulta, precisamente, de apenas na bagunça presidencial lograrem o seu desiderato - a independência basca ou catalã...

E o Facebook e quejandos ajudarão a multiplicar o eco de algumas dezenas de milhar de manifestantes bradando. Apenas porque a Monarquia espanhola é democrática, como não o é a República chinesa, sem qualquer escrúpulo a silenciar a efeméride dos 25 anos de Tiannamen.

Não restem ilusões: as próximas semanas, os próximos meses, serão de grande agitação nas ruas. Provavelmente contando com a pacóvia solidariedade da nossa Esquerda modernaça. A tanto chega a parolice cá no nosso quintal...

É claro, Filipe VI será entronizado. Por muito que muito poucos queiram parecer muitos contra. Ainda assim, o referendo de regime era recomendável. Ver-se-ia então, sendo certo que mesmo a abstenção traduziria, na mais pessimista hipótese, um sinal de assentimento - um "nada a opor" - à Monarquia.

E se a maioria dos espanhois se pronunciasse favorável à República? Ora! Os Reis fizeram-se para servir o Povo e a Nação - enorme descanso o seu se o Povo os dispensasse desse serviço: a Nação jamais lhes poderia assacar responsabilidades.

Mas irremediavelmente comprometido estaria, desta feita, o futuro de Espanha. E, pior ainda, por arrasto, o nosso também.