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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Estupidamente

João-Afonso Machado, 30.06.14

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E, de súbito, a obrigatoriedade do voto tomou voz. Quero dizer, a República viu-se nua. Sem eleitores, sentindo-se tremelicar nas pernas da sua legitimidade. A República é tão-só o legislador, e sabe que isso - que é pouco - para si é tudo. Preparemo-nos, pois, para a próxima novidade do DR -  termos todos de ajoelhar aos pés da (eleitoral) urna. Quer queiramos, quer não.

Abreviando, o problema não será de maior monta: assim como os portugueses sempre souberam dar resposta condigna à ditadura tributária, também alcançarão meios de sustar este psicadélico propósito de intervenção cívica. 

E, afinal, temos, ou não, o dever de votar? Seguramente - não!, do ponto de vista jurídico; provavelmente - sim, em nome da cidadania. Mas a liberdade individual não poderá vez alguma ser posta em causa, pelo que a questão é moral, jamais do domínio do Direito Positivo.

Em suma, o abstencionismo não contende com a democracia, nem com o sistema parlamentar, nem com a ordem pública. Apenas com o Regime. Com a República portuguesa e com os seus próceres - com o seu total descrédito. Os quais, estupidamente, querem fazer-se passar pela vergonha de, na contabilidade dos votos, colocarem os brancos e os nulos à frente do colorido espectro partidário.

 

 

 

 

Costa seguro

João-Afonso Machado, 29.06.14

Os Antónios vieram passar o S. João ao Porto. O Tozé a convite da organização local do PS, o Tony por gentileza do edil Rui Moreira. O primeiro intentando cativar os socialistas nortenhos, o segundo já em pré-campanha para as Legislativas do próximo ano. Essa a grande diferença: a que o olhar de cada um tão bem patenteia. Onde Tozé clama contra a traição de que foi vítima, Tony alardeia tranquilidade e disponibiliza-se generosamente para servir os altos designios da Pátria.

Era bom - sobretudo para ele próprio -  António José Seguro percebesse a sua total falta de hipóteses contra António Costa. Há muito tempo, de resto. Este aguardava apenas o momento oportuno de lhe roubar o partido, deixando-o esgotar-se em pequenas, insiginificantes, vitórias eleitorais. Que assim é prova-o o mais fiável de todos os barómetros - a precipitada mudança de rumo efectuada por todos os lacõezinhos à tona socialista.

Tudo muito feio, obviamente. Mas a política faz-se assim, pelo menos em Portugal. E, sendo o lado perdedor sempre o mais cativante para quem vê esse mundo do exterior, Seguro até conseguiria conquistar alguma simpatia, não fora o caso de despejar as suas frustrações em inopinados ataques à Direita. Talvez por incontrolável pavor ante o espectro do desemprego. No auge da sua crise, porém, servir-lhe-ia de paliativo a invocação de Santo António (Guterres). Quem sabe, comprovada a sua bondade, não alcançasse também um cargo de prestígio e distância da porcaria? 

 

 

Chegou a vez do futebol

João-Afonso Machado, 27.06.14

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Enfim em paz! Já sem essa maldita necessidade de nos desculparmos culpando os outros. Ou de, no términus de um dia de trabalho, descarregarmos a nossa bílis sobre os ditâmes da Fortuna. Em derradeira análise, de nos fustigarmos com as urtigas de um mau treinador, uma trupe de jogadores preguiçosos, uma logística tonta, um clima adverso, viagens esgotantes. Quando - ainda por cima - a razão do nosso fracasso reside apenas na cor do equipamento, na circunstância de não sermos já Portugal (reparo agora, ao renovar o cartão de cidadão) mas a demolidora República Portuguesa. Nós somos hoje - a República Portuguesa; antigamente, Portugal.

Seja como for, chegou então o ansiado momento do futebol. A grande oportunidade de nos sentarmos desapaixonada e descontraidamente no sofá e gozarmos o espectáculo. Estão lá as melhores selecções do mundo. Que vença a mais merecedora. Podemos até pensar em algumas surpresas, fazer qualquer apostazita. O meu palpite - a Colômbia.

 

 

"Momento inesquecível"

João-Afonso Machado, 26.06.14

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Não me entranhei profundamente nas Antoninas deste ano. Houve outros assuntos, absorventes em demasia, a tratar. Lá marcharam umas sardinhitas assadas na noite D, uns copinhos de verdasco, e, sobretudo, uma espreitadela nas marchas, algo para mim creio que desconhecido. Nas quais, assim mesmo, principiei na Rua Manuel Pinto de Sousa, onde os participantes se arregimentavam, estaquei um pouco junto aos jardins da Câmara e não fui além do cruzamento da Rua Adriano Pinto Basto com a Avenida. Aí, espaçadamente, melhor consegui observar os acontecimentos.

O empenhamento das freguesias concorrentes foi evidente. Houve criatividade, imaginação, alegria. Salutar despique. Percebi depois, o melhor da festa ocorreu nos Bargos, o campo da bola. Para a próxima… E, estupidamente, não trouxe comigo a máquina fotográfica. Para a próxima… 

Mas, dizia eu, foi ali nas cercanias da Íris que deixei o cortejo rolar. Freguesia após freguesia, entre embarcações, cardumes de peixe, noivinhos de palmo e meio, rusgas e danças… até surgirem as torres ameadas dos castelos, a soldadesca de outrora e A Bandeira!

Ela toda! Azul, branca, as armas reais, a coroa ao centro, multiplicada, toda ela, por dezenas, maiores e menores, no numeroso programa de S. Tiago de Antas. Em papel desfraldado a modo que levado na ventania da voz potentíssima da Maria do Sameiro. (Incansável a subir e a descer a caleche!). Uma fadista cá da terra, explicaram-me. E a autora da letra de uma ode ao “Portugal com História” – esse o tema apresentado – onde se cantava muito e comoventemente: «De Rei em Rei/Dinastia a Dinastia/Portugal e a sua Grei/Teve a sua Monarquia./Era dourada/Que nos honrou e deu glória/A letras d’oiro gravada/Nos anais da nossa História».

É um compêndio pátrio e inspirado, a Maria do Sameiro. Com gente assim, Famalicão está próxima, confinante com a Suécia, a Noruega, a Dinamarca. (Projecto uma incursão por tais Reinos este Verão…). De mente arejada, sem teias nem preconceitos. Deste jeito me orgulho de ser famalicense. E só lamento, lendo a Imprensa local, não tornar a ver A Bandeira ondulando nas suas páginas. Sequer uma nota explicativa à suas cores, uma referência ao mote eleito pelos de Antas. Talvez porque me tenha sempre dado mal com o politicamente correcto… Defeito meu, reconheço.

Daqui mando um abraço à Associação Recreativa e Cultural de Antas (a ARCA). Parabéns pela vossa medalha de bronze no “campeonato”. Quanto à Maria do Sameiro, tudo reside apenas em localizá-la, saber onde canta o fado, e correr lá a apresentar as minhas felicitações.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 26.JUN.2014)

 

 

 

Meneses Lopes

João-Afonso Machado, 24.06.14

Ainda se ouvem os ecos dos combates partidários sobre a Ponte D. Luís. Ou talvez nada mais senão a guerrilha e a persistência do vencido (mas não convencido) Meneses Lopes. Já, porém, o fogo não se faz sentir cruzado. Sinal de que a cidadania retoma o descanso.

Meneses Lopes, entrementes, sempre activo, sempre messianista, escreve agora nas paredes «Cherchez la femme»! A  preconizada Joana d'Arc é - coitada -  Leonor Beleza, uma senhora decerto nada interessada nas Presidenciais e pouco compatível com o irrequieto, brejeiro, vingativo, estilo de Meneses Lopes. O qual, cinicamente recorda ainda a sua derrota pessoal nas derradeiras Autárquicas e afirma na frente da batalha - pelo seu partido -  deveria perfilar-se um candidato à Câmara do Porto «independente, empresário verdadeiro, se possível frequentador do "jet-set" de Lisboa».

A querer dar a mão aos patuleias, Meneses Lopes invoca a terminologia antiga do «perfil humanista do centro-esquerda», com a mesma desfaçatez com que ataca frontalmente os socialistas, e de flanco Rui Moreira. Aliás, o «bloco não socialista» está na mira da sua estratégia: Cavaco terá sido o «primeiro presidente não socialista da II (sim, da "segunda"!!!) República»...

Meneses Lopes é assim, sempre foi assim. Soma 16 anos com 40 e comemora um centenário entusiasmadamente. Onde enfiou ele os 48 sobrantes? Ora! - é conhecida por todo o Porto e assaz comentada, mesmo entre paredes do PSD, a habilidade de Meneses Lopes com contas. A forma ímpar como ele as faz, e se confortava com donativos para a causa (republicana?, centro-esquerdista?, anti-socialista?...) 

 

 

"A monarquia de Espanha"

João-Afonso Machado, 22.06.14

A crónica de Vasco Pulido Valente , hoje no Público, chama-se «A monarquia de Espanha» e será uma grande perda nacional os portugueses todos não a lerem. Por isso a reproduzo generosamente aqui. Começa assim: « Apesar da comitiva de segurança, não dei por que os reis de Espanha estivessem no hotel. Um Secretário de Estado português teria sido mais conspícuo. (...) vi a rainha na varanda comum, o tomar um chá e a discutir com um secretário com muitos papeis não sei que problema. Na mesa do lado, a ler um livro, nunca me distrairam ou incomodaram. Aquela monarquia despretensiosa e bem-educada não me pareceu um perigo para ninguém».

Evidentemente, não se trata de uma profissão de fé realista de VPV, que nunca a fez. Apenas a constatação de coisas simples, a comparação entre o «símbolo com algumas funções de representação», que é a Família Real espanhola e os bandos de patos bravos por aqui pululando. Não esses caçáveis nas lagoas, mas os outros que por interesse e dinheiro são capazes de destruir essas mesmas lagoas...

E VPV prossegue: «nas cerimónias de sucessão, uns vagos milhares de pessoas gritaram "Espana manhana será republicana", provavelmente inconciliáveis da guerra civil (1936-1939) ou antifranquistas que guardam uma velha vontade de revanche. Esperemos que nunca aí se chegue por duas razões. Primeira, porque o rei é melhor garantia da unidade do país. E, segunda, porque a república tarde ou cedo criaria um tumulto em Espanha e na Europa. Um presidente sairia por força de uma das nacionalidades de Espanha que se autodenominam "históricas" (Castela, Catalunha, o País Basco e a Galiza), sendo suspeito para os grupos que ficassem de fora: uma receita infalível para a desordem e o conflito». A crónica remata com uma alusão à Escócia que «pelo menos, quer ficar com a rainha e, de caminho, com a libra».

Alguém ao meu lado, quando lia e comentava esta crónica de VPV, dizia referindo-se ao caso português não podermos andar para trás. Pois não, devemos caminhar sempre para o Futuro, decerto aprendendo com as virtudes e erros do Passado. O problema reside, precisamente, em o País não se mexer, sequer olhar para a frente. E quando assim é, manifestamente está a atrasar-se, a afastar-se do mundo global. E isso é andar para trás, por outras palavras.

 

 

 

Antes de ir e regressar

João-Afonso Machado, 21.06.14

Santa Catarina descia a rua quase num trambolhão desde o Marquês. Ainda antes da desgraça que atingiu este e da Praça Jimi Hendrix a desterrá-lo, não sei para que pombais. Sim, sente-se bem o peso da idade, eramos muito novos e os Por-fi-rios um sonho distante, porventura tanto quanto as gloriosas Lewi's da nossa eternidade na terra. Porquê Santa Catarina, já frenética e ainda afastada da capela das Almas, e foliona, despesista, consumista, musical, quase cosmopolita, no chegar a Santo António, a Santo Ildefonso, nas vésperas da Batalha? Nesse tempo, é claro. No tempo dos LP's, das colecções, da pastelaria depois do consultório médico. E do trânsito nos dois sentidos, dos eléctricos e dos autocarros verdes...

Agora, à cota mais alta, é como se um glaciar embranquecesse de mutismo Santa Catarina. Cá para baixo, obrigada a andar a pé, mais vagarosa - mais cansada, mais pobre - sobrevive. É visitada, talvez até venerada por gente de longe. Toma um café, observa, dessedenta-se em esplanadas.

Mas os LP's e os Por-fi-rios já ninguém recorda onde eram. Como cinzas que se soltam do cendrário.

 

 

 

Ser Direita

João-Afonso Machado, 18.06.14

A questão do "nacionalismo" é perigosamente dúbia, enganadora. Quem ler Jean-François Revel (A Tentação Totalitária e Como acabam as Democracias) percebe claramente qualquer movimentação comunista começa por se afirmar "nacionalista", assustando as gentes com a eminência da invasão estrangeira. Assim procederam também os republicanos portugueses do início do século XX e quando nos empurraram para a matança da I Guerra Mundial. Feitas as contas, se a tropa se apresenta asseada e disciplinada, no bota-abaixo de um Regime, temos um golpe de estado; e onde houver uns barbudos a mastigar o charuto, de metralhadora na mão, vem aí a revolução esquerdista. Não é, assim, pelo lado do "nacionalismo" que se caracteriza a Direita. Justamente porque o dito "nacionalismo" não é um valor, um conceito, mas uma arma apenas.

A verdadeira Direita despreza os extremismos. Somente os gradua nas consequências da sua loucura.

Sequer a verdadeira Direita se foca no prisma ideológico. Há muito percepcionou o seu fim - as ideologias são meramente pretextos, conforme hoje bem se alcança das discussões parlamentares em torno do Estado Social vs. o famigerado neo-liberalismo. 

A verdadeira Direita radica na Nação. Nas comunidades, no Povo, no respeito pelo Passado como indicador de um rumo, o do Futuro. Daí o seu orgulho pela História, vale dizer, pela continuidade do ethos nacional. De uma cultura identificativa. Nos nossos dias, a Direita só pode ter uma meta, jamais uma solução política inamovível.

Do que resulta a não exclusão de quem quer que seja. A Direita é pluralismo e liberdade. É orgulho de nós mesmos e do nosso ser. Não vive da importação de modas sociais e regimentais e relega a exportação para o plano estritamente económico - porque o das ideias pertence à Esquerda imperialista.

Por tudo, a Direita é essencialmente serena. E imparcial. Valoriza um empolgado António Sardinha tanto quanto a ironia queirosiana.

(Evidentemente, nos tempos que correm, muito mais esta última.)

 

 

Alma até Almeida

João-Afonso Machado, 16.06.14

O pelotão do 23 de Infantaria subiu o baluarte e fez fogo sobre o inimigo (há sempre um inimigo do lado de lá das nossas ilusões). Depois tornou ao abrigo e o silêncio fez-se ouvir novamente. Fora todo o instante de uma batalha, indo a Primavera já no fim e as andorinhas sempre no ar, elas sim, em constante tagarelice. Almeida está a muitos quilómetros do mar, Espanha a umas tantas pedaladas na bicicleta, vantagem das regiões planálticas. 

E dentro da fortaleza, de viela em viela, era como se nada fosse. Onde estariam as gentes? O País não quis responder e a idosa não sabia.

Aliás, a sua preocupação centrava-se exclusivamente na sede das flores, à entrada da residência. Ainda assim, a lingua soltou-se e acabou contando o principal. A "vila" mantinha-se entre muralhas, mas cada vez eram mais os que optavam por "lá fora", onde podiam construir à sua vontade, sem constrangimentos da Câmara. Até o cemitério vai sendo levado aos poucos...

Mas ela prefere a "vila". Ali nasceu, dali partirá um dia para o lugar dos Justos. E por falar em Justiça: o tribunal, um edifício do século XVII, também ainda não foi borda fora. Quiçá por esquecimento dos especialistas em reformas...

Mesmo para um minhoto, dias há em que é difícil não ser beirão. Dias de sacrifício e de alma até Almeida.

 

 

Política à portuguesa

João-Afonso Machado, 15.06.14

J:\IMAGENS\MINHO\GUIMARÃES\MANIF. 5.OUT\MANIF. SI

A entrevista de Alberto Martins, hoje no i, poderia ser entendida como uma certidão de óbito ideológico passada ao Partido Socialista. Só não assim é porque o entrevistado não estaria, decerto, pensando no desemprego de um contigente de imprecisáveis dezenas de milhar de políticos. Daí a sua indecifrabilidade, pelo menos para os leigos.

Alberto Martins proclama a sua fidelidade a Seguro; faz um acto de contrição e reconhece as perniciosas ligações dos socialistas ao mundo dos negócios e da alta finança; eleva a sua voz e retoma a defesa da solidariedade contra o "terror" liberal; pede tempo para uma reflexão do seu partido em especial, e dos seus congéneres europeus em geral; e sustenta uma candidatura eleitoral do PS onde as alianças possíveis sejam apenas à esquerda.

Como é evidente, não consegue responder de forma directa a qualquer pergunta do entrevistador.

De tudo resultam, por isso, algumas incógnitas: como, por exemplo - de que meios se servirá o PS para deixar de ser o que sempre foi, uma agremiação maçónica com uma mão no megafone (voltada para o povo) e a outra no telemóvel (ocupada na intriga)?; e quantas gerações de comunistas ortodoxos terão ainda de surgir - honra lhes seja feita -  para que o seu discurso seja moldável ao das jantaradas no Nobre?

Porque nos tempos próximos, a equação politico-eleitoral proposta por Alberto Martins não seria pacificada nem por Ghandi. Quanto mais por António Costa...

 

(Nota - Supra o registo de uma manifestação de Outubro de 2010)

 

 

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