Não me entranhei profundamente nas Antoninas deste ano. Houve outros assuntos, absorventes em demasia, a tratar. Lá marcharam umas sardinhitas assadas na noite D, uns copinhos de verdasco, e, sobretudo, uma espreitadela nas marchas, algo para mim creio que desconhecido. Nas quais, assim mesmo, principiei na Rua Manuel Pinto de Sousa, onde os participantes se arregimentavam, estaquei um pouco junto aos jardins da Câmara e não fui além do cruzamento da Rua Adriano Pinto Basto com a Avenida. Aí, espaçadamente, melhor consegui observar os acontecimentos.
O empenhamento das freguesias concorrentes foi evidente. Houve criatividade, imaginação, alegria. Salutar despique. Percebi depois, o melhor da festa ocorreu nos Bargos, o campo da bola. Para a próxima… E, estupidamente, não trouxe comigo a máquina fotográfica. Para a próxima…
Mas, dizia eu, foi ali nas cercanias da Íris que deixei o cortejo rolar. Freguesia após freguesia, entre embarcações, cardumes de peixe, noivinhos de palmo e meio, rusgas e danças… até surgirem as torres ameadas dos castelos, a soldadesca de outrora e A Bandeira!
Ela toda! Azul, branca, as armas reais, a coroa ao centro, multiplicada, toda ela, por dezenas, maiores e menores, no numeroso programa de S. Tiago de Antas. Em papel desfraldado a modo que levado na ventania da voz potentíssima da Maria do Sameiro. (Incansável a subir e a descer a caleche!). Uma fadista cá da terra, explicaram-me. E a autora da letra de uma ode ao “Portugal com História” – esse o tema apresentado – onde se cantava muito e comoventemente: «De Rei em Rei/Dinastia a Dinastia/Portugal e a sua Grei/Teve a sua Monarquia./Era dourada/Que nos honrou e deu glória/A letras d’oiro gravada/Nos anais da nossa História».
É um compêndio pátrio e inspirado, a Maria do Sameiro. Com gente assim, Famalicão está próxima, confinante com a Suécia, a Noruega, a Dinamarca. (Projecto uma incursão por tais Reinos este Verão…). De mente arejada, sem teias nem preconceitos. Deste jeito me orgulho de ser famalicense. E só lamento, lendo a Imprensa local, não tornar a ver A Bandeira ondulando nas suas páginas. Sequer uma nota explicativa à suas cores, uma referência ao mote eleito pelos de Antas. Talvez porque me tenha sempre dado mal com o politicamente correcto… Defeito meu, reconheço.
Daqui mando um abraço à Associação Recreativa e Cultural de Antas (a ARCA). Parabéns pela vossa medalha de bronze no “campeonato”. Quanto à Maria do Sameiro, tudo reside apenas em localizá-la, saber onde canta o fado, e correr lá a apresentar as minhas felicitações.
(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 26.JUN.2014)