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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Mártir da Fé

João-Afonso Machado, 30.05.14

Passaram já uns dias depois da notícia e nada! Nada que se leia nos jornais ou se veja na atitude das pessoas. Afinal, trata-se apenas de uma longínqua sudanesa, quase não gente, mãe de 27 anos, cujo enforcamento as autoridades da sua terra magnanimamente adiaram para poder aleitar a filhita. Dois anos, ainda assim, é muito tempo! A infeliz vai poder assistir ao crescimento da pequenina, vai poder criá-la, vê-la dar os primeiros passos, aprender as primeiras palavras... Vai poder afeiçoar-se por inteiro à filha, sofrer com as incógnitas do futuro, e depois aprontar-se ordeiramente ante os carrascos, ajeitar-se para a corda no pescoço e dizer finalmente adeus - à família e à vida.

Entretanto, não fosse ela esquecer o seu grave delito, marcou-se-lhe o corpo com 100 chicotadas, humanitariamente aplicadas após o parto...

E tudo porque desrespeitou a lei muçulmana ao casar com um não fiel desta santa religião à qual - ainda por cima! - renunciou, a atrevida. E recalcitrante - avisada da sua criminalidade, notificada com prazo para se abster de tão grave desobediência, manteve-a. Persistiu o erro, reafirmou a sua adesão ao cristianismo. Mereceu a morte e vive com os dias contados pelo tempo julgado necessário para cumprir as suas obrigações maternais. Há em tudo isto progresso, ninguém diga o contrário.

Se o caso é escandaloso? Não deve ser, a avaliar pelas reacções do mundo inteiro. Mesmo porque com o islamismo, o mais prudente é fazer vista grossa. Na esfera do Vaticano ou da ortodoxia israelita é que reside o sumo das situações indignantes.

Mas a verdade é tão-só esta: em pleno século XXI ainda há mártires à boa maneira da Roma dos Imperadores: gente que morre pela sua Fé. Apenas por isso. E a Fé - sobretudo a cristã - ainda e sempre incomoda imenso o longo rol de crenças, mormente as políticas.

 

 

"Um Piquenicão"

João-Afonso Machado, 29.05.14

Uma dessas manhãs em que deambulava pelo Parque da Devesa à caça de umas imagens bonitas, o sono do Pelhe e adjacências quebrou-se de supetão com aquele brado imenso da criançada saltando dos autocarros. Eram muitos, muitíssimos! Por muito poucos filhos que os casais de agora possam permitir-se…

Eram umas centenas, vindos em magotes compactos e distinguíveis pelas cores diversas de cada clã. De cada “jardim de infância”, decifrando. E devidamente escoltados pelas suas educadoras e vigilantes, um escol onde o “M/F” ainda pende bastante para o lado do “F”.

Naquela idade, já tão distante, lembro vagamente umas dolorosas idas a um colégio do Porto e umas batas negras com um cinto vermelho, ríspida vestimenta generalizada, demoníacos intervalos na quietude dos meus dias na quinta, entre cães e gatos e a capoeira, mais o respeitinho devido ao bufar e às bicadas dos gansos. Recordo ainda, por isso, a espada de madeira e o escudo feito de uma tábua, sempre que me aventurava a buscar ovos… Seria também assim com a horda acabadinha de desaguar no Parque?

Sentei num banco sobranceiro ao lago e afiei a atenção. Ali não se ouvia chorar, ninguém pedia a mãe e o espaço parecia pouco, incapaz de conter o irrefreável ímpeto para a brincadeira. Formadas em coluna, disciplinadamente desconforme, as maltas dirigiram-se para a Casa do Território, onde as esperaria a costumeira prelecção. A Natureza também se explica e é da maior utilidade se saiba como é uma galinha antes de as suas coxas serem compradas no supermercado; e que não se deitam papeis para o chão nem poluentes para as águas fluviais ou outras; etc, etc.

Há-de ter sido assim, não acompanhei a formatura. Voltei a pôr-lhes o olhar em cima no anfiteatro, onde se esfalfaram em danças e ginástica rítmica, e em quantas cabriolices se seguiram relvados fora. A lembrar os idos em que as minhas pilhas orgânicas eram de duração assim longa, sonora, movimentadíssima. E os festivos momentos da Escócia paradisíaca, estavam ali os Duffs de Telhado, os Munrós de Cruz, os MCDonalds de Gavião, a mostra de todos os clãs e dos seus quadradinhos e cores. Houve jogos tradicionais, corridas de sacos, sei lá o que mais!... E de onde provinham os ilustres olímpicos?

Segredou-me um outro circunstante, pessoa amiga e fiável, tratava-se do Mega-Piquenique do Pré-Escolar do Agrupamento D. Maria II. Um evento infantil de monta, prenúncio do final do ano lectivo. Via-se bem, uma espécie de prémio, uma ante-despedida, um sorriso prazenteiro em cada carinha laroca.

Chegara a hora das minhas barbas brancas debandarem. Era, outrossim, a hora das toalhas na relva e da merenda – as sandes, os rissóis, os bolinhos de bacalhau, as bebidas… e o bolo de aniversário, porque, entre tantos, impossível seria alguém não festejar o seu. Soaram galhardamente os hinos de parabéns, de ponta a ponta do Parque.

E nem as migalhas se perderam. Labuzaram-se com elas os minorcas do Pelhe, desde o peixito que ali abunda a essa família numerosa de anatídeos – pronto: os patinhos – cuja navegação diariamente nos delícia.

Uma festa, em suma. A felicidade na sua idade excelsa. Tudo a impor a conclusão de que essa noite ninguém fez birra de recolher à cama e dormir.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 29.MAI.2014).

 

 

 

 

Tony traga Tozé

João-Afonso Machado, 28.05.14

É natural de Penamacor, cinquentão. Licenciou-se em Relações Internacionais (fatalmente...) e tomou o gosto à política muito novo. Viciou-se. Talvez tenha sabido o que é trabalhar - quer dizer: produzir, sofrer percalços empresariais, ganhar... ou perder - mas nada disso consta do seu curriculo. Descriminemo-lo, o dito curriculo - secretário-geral da Juventude Socialista; e, seguida e obviamente, deputado, líder parlamentar, euro-deputado, ministro-adjunto no Governo de Guterres; e, por fim, já em 2011, quando Sócrates tombou, secretário-geral do PS.

Das berças à ribalta, o costumeiro percurso de um Jota. In casu, António José Seguro.

A coisa não correu bem. Seguro nunca soube distinguir o discurso em mesa-redonda televisiva do apropriado ao embravecer da multidão. Quando tudo lhe seria fácil, demasiadamente facilitado até, pela adversidade com que os seus opositores no Poder se depararam - Seguro enrolou, enrolou, e nada disse que a memória do eleitorado fixasse. Os resultados são os que todos conhecem.

A súcia (ainda ele proclamava a sua "estrondosa" vitória eleitoral) caiu-lhe em cima. Quenquer de bom senso mandava passear os camaradas. Mas Seguro, o nosso Tozé..., que há-de fazer, além daquilo que sabe - política?

Abreviando. António Costa está na calha. E basta ler-lhe os olhos, a expressão, o sorriso matreiro. E conhecer algo do seu percurso profissional, sempre na órbita de substanciais sociedades de advogados da Capital.

O camudongo nada pode ante o perscrustar do milhafre. Tozé (coitado, nem era mau rapaz) foi já devorado. Chegou a vez do Tony (assim mesmo - pronunciado à inglesa).

 

 

 

Reprivatizem as abstenções

João-Afonso Machado, 27.05.14

A Esquerda, como será sempre de esperar, não perdeu a oportunidade de mais um 11 de Março em directo televisivo na noite das Europeias. A Esquerda vai de Sócrates até aquele lado onde está o meu e o teu, para ela sempre nosso. E por isso nacionaliza, um modo elegante de dizer usurpa. Desta vez, a abstenção e o novo record alcançado pelos absentistas.

A Esquerda, desaforadamente (a Esquerda toda, abespinhada e histérica), abriu os braços, açambarcou dois terços do eleitorado português que, sem pejo, manifestou não querer saber nem da Esquerda nem da Direita, e proclamou: são como nós, são dos nossos, somos todos a derrotar a Direita.

E por aí fora, parecendo ignorar que a abstenção é abstenção exactamente porque não quis ser Esquerda. E, certamente, nacionalizada, tornada património socialista contra a Direita, de quem é provável nada queira também.

Ou talvez não: conheço uma certa pessoa que, sendo de Direita, se absteve. Por curtas razões, em suma: porque a UE pouco lhe diz e porque voltou as costas a uma eleição onde o sumo estava esprimido à partida e o mais foram caroços cuspidos contra e a favor do Governo. Para quê votar? - interrogava-se o personagem, o qual, reitero, conheço bem - por ser eu próprio.

Eu, JAM, independente impenitente, algo anarquico, porventura, mas claramente e sempre - de Direita. E assim clamando reprivatizem as abstenções.

 

 

O Hotel Garantia

João-Afonso Machado, 27.05.14

«(...) Não se trata de uma construção com a imponência dos grandes palaces. No entanto, o seu perfil, elegante e ágil, quadra bem com a fronteira CGD, com o afável ambiente da "Esquina" Os comentadores da época inserem-no no "estilo regional", sustentando que o seu "interior é do mais luxuoso que há no Norte".

(...) Em um ano as obras estavam findas. O concelho em peso, e arredores, anseia pela sua inauguração, aprazada para 19 de Janeiro de 1943. Cerimónia e solenidade, como Famalicão já não recordava desde a visita da Senhora D. Maria II, a Rainha de Portugal. Os cavalheiros trajam casaca, muito engomados e enfeitados de brilhantina, e as madames vestidos de baile e toda a sua riqueza em jóias (...).

Um baile hollywodesco ajudou a esmoer o monumental repasto. Houve ainda uma ceia e baile, novamente, baile pela madrugada fora até às sete da manhã. Dançou-se no Garantia até ser dia!».

 

(in Famalicão Uma Vila que se Inova, da Biblioteca Oito Séculos, Edições Quasi, 2006)

 

 

J. I. Faria - o senhor euromilhões

João-Afonso Machado, 26.05.14

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Não tenho o prazer de conhecer o senhor José Inácio Faria, uma pessoa sem dúvida respeitável e inatacável, desprovida de ambições políticas, a avaliar pelo partido - o MPT - a que entregou a sua militância nestas sempre tortuosas lides. O certo é que nem eu nem ele próprio sonhariamos com esse invejável cargo - o de deputado europeu. E digo isto com a franqueza de quem, mais do que tudo, gostaria de ser - deputado europeu. Por quanto a função proporciona, pelo porquinho-mealheiro que, afora loucuras, há-de vir de lá connosco. O pior é a via-sacra a percorrer até obter essa meritória função, essa enciclopédica estadia...

Esta a regra. Muitos são os candidatos, pouquíssimos os escolhidos. Jamais tentei, sequer.

Restam apenas os golpes de sorte. Os ventos da Fortuna. A tal que bate a uma porta, entre muitos milhares e milhares delas. A Fortuna bateu à porta do senhor Faria e eu congratulo-me. Parabéns.

E tudo porque o MPT apostou - e muito bem - no Dr. Marinho Pinto. Sem menosprezo, não me lembraria designá-lo, pela exacta razão, provavelmente, porque há muito não milito partidariamente. Mas a aposta foi de mestre e assaz reveladora.

Em duas palavras que não incluem qualquer juizo de valor sobre a figura de cartaz do MPT: o Dr. Marinho Pinto tem sabido captar a atenção dos portugueses, que gostaram dele e do seu discurso. Porquê? - Porque sim, digamos assim. E a avalanche - 7,1% do terço de eleitores votantes -produziu a sua eleição e, por arrasto, a do senhor Faria também.

Fiquem as conclusões a cargo de quem as quiser tirar.

O próximo capítulo, muito sequencial, abordará a temática da abstenção e do promissor novo partido - o dos votos brancos. O PVB.

Para já, apenas, o reiterar das minhas felicitações. Acredite, senhor Faria, quem me dera estar no seu lugar. 

 

 

 

 

 

Oliver ou Twist, ainda não se sabe bem

João-Afonso Machado, 25.05.14

Diz uma grossa fatia do quotidiano, tratou-se de um gesto irreflectido, esse fatal momento do fim da tarde em que o gato gemeu debaixo de um automóvel estacionado, claramente pedindo lhe valessem. Uma breve troca de olhares, uma frase brevíssima - levamo-lo? - e a resposta dada na atitude de quem chama já o bichano. E ele veio prontamente. E, também prontamente, terão ido embora as estadias aqui e ali, as férias, alguma salutar ausência de miados...

Mas não havia como não. Eram as albinegras fomas da meiguice e da fome e do frio e do abandono. A total entrega a uns desconhecidos, fosse lá o que a divindade dos gatos quisesse, para pior não ia. Mais de 48 horas volvidas, banhado e perfumado, no seu ripanço ao sol da janela, ainda não parou de comer. E sabe utilizar perfeitamente o water-closed que lhe foi reservado. Ganhou brilho na pelagem, os olhos desembaciaram. Mas ainda não perdeu a fraqueza das patas, uma quase atrofia do peito. E pigarreia muito.

Por ora, nem sinais de arrependimento ou tristeza, de parte a parte. É, decididamente, um personagem de Dickens. Orfão, escorraçado, esfomeado, sem rumo nem futuro... Sujeito a qualquer atropelo. E Oliver ou Twist, de sua graça de adopção, ainda não se sabe bem.

A história não reclama a bondade de Mr. Brownlow nem a cronometria de um século qualquer - a miséria espalhou-se rapidamente no tempo, e no espaço também. Ao ponto de não ser possivel afirmar todos os Fagins deste mundo não merecem subir as escadas do patíbulo. Mesmo porque não disporiam de consciência que se lhes enforcasse...

E assim ficamos nós, e os nossos irreflectidos gestos, a passar a ferro sobre o water-closed do Oliver ou Twist, ainda não se sabe bem...

 

 

"O Garantia"

João-Afonso Machado, 25.05.14

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Por artes do diabo, não me larga o espírito o fantasma do Hotel Garantia assombrando o centro de Famalicão. Falo – devido é esclarecer – como qualquer ignorante, crente nessas tontices das avantesmas. Falo de cor, em suma. Somente com a voz da saudade a abonar-me.

Dos vivos, é impossivel alguém se lembre. Mas, antecedendo-o, ali residia o Hotel Vilanovense, sobre o qual escreveu Fialho de Almeida incluir-se «no tipo de hotéis de província, feitos à imagem e sabor dos caixeiros de amostras que lá passam: cozinha porca, por onde se passa para o comedor tapando as ventas; nos fruteiros da mesa, peritas murchas e lívidos margotões por sazonar – toalha de nódoas, garrafinhas de vinho verde sem rolha, pratos rachados, contas a lápis nas paredes…».

Fialho de Almeida, se a memória não me falha, morreu em 1911. O Garantia nasceu em 1943, após um dificílimo parto cuja felicidade se deve apenas a tenazes bairristas como Amadeu Mesquita, Álvaro Folhadela Marques e José Joaquim de Oliveira. Tão depressa vinha ao mundo, tão prontamente o colocava a Imprensa da terra no estadão de um «Chiado lisboeta em miniatura»...

Convirá elucidar, jamais levou o Garantia uma vida fácil. Possivelmente pela sua sobredimensão na pequenina Famalicão de outras eras. Mas são ainda muitos os que o recordam bem esperto, povoado de clientes, se mais não fosse vindo cá a tratar das suas varizes...

Já nem sei quando ocorreu o fecho. O derradeiro. Porque aconteceram interlúdios, períodos de carência absoluta que se conseguiam colmatar com novas gerências. E tenho bem presente a imagem do Café, no rés-do-chão, já com o pano dos bilhares esburacado, mas ainda imponente nos seus vitrais, a ventoinha gigante bufando no aperto do calor, e os empregados de lacinho no pescoço, os enormes copos com guarnições metálicas e os bolos de arroz que eram o meu lanche antes de partir para mais um treino de judo...

Agora, umas luzes tristes, à noite, nesta ou naquela janela de persianas estoiradas, revelam que alguém ali habita. Asseguraram-me serem operários da empresa que o adquiriu. Mas o que foi o Garantia, a sua marca ainda mantida na entrada principal, merecia destino mais condizente.

Os tempos são de crise. Um hotel no centro de Famalicão possivelmente é inviável. Nada contesto. Somente desabafo: entre museus, galerias, fóruns, casas de espectáculo ou de acolhimento de necessitados, micro-apartamentos (em cidade de estudos universitários…), o centro geométrico de Famalicão obriga a melhor sorte a tão insigne edifício. A mais vida e a mais alegria.

 

(Na rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 23.JAN.2014)

 

 

Ao largo de Belinho

João-Afonso Machado, 22.05.14

A ausência de areia na praia, aquele caldo de algas, a vastidão do espaço quase sem vivalma - tudo lança a suspeita sobre as águas de Belinho, Esposende. Um mar espumoso, refilão, a apedrejar-nos as pernas pelos séculos adiante. Onde manda a prudência se tome banho de chuveiro, apenas, justamente quando os godos e o sol já nos maceram e assam as carnes. 

E um mar de segredos bem guardados. Como uma caixa-forte cuja porta, tantas gerações depois, se abriu agora misteriosamente: lá dentro, a história por contar de uma galeão quinhentista naufragado ao largo de Belinho; à costa vão dando restos variados, muita cerâmica e objectos em estanho.

E o macabro achado das ossadas? Quem seriam as vítimas desgraçadas do afundamento? Gente nossa? Dezenas? Centenas?

Os fundos marinhos são medo e encanto. Porquê só agora o "acordar" do galeão fantasma? Que mais nos trará às mãos?

A municipalidade de Esposende congemina já um museu ou, pelo menos, o aproveitamento turístico da descoberta. Nada mais apropriado. Com um bocadinho de sorte estamos perante o Licorne ou o galeão apresado por Rackam o Terrível.

 

 

O necessário fim de uma lei tola e usurpadora

João-Afonso Machado, 20.05.14

Há uns meses atrás alertei aqui acerca da cobreante ameaça que pairava sobre os proprietários ribeirinhos, em sério risco de ficarem despojados dos seus terrenos marginais a cursos de água "flutuáveis" ou "navegáveis", na designação da famigerada Lei nº54/2005 que dispunha sobre a matéria. Seria até interessante voltar a esse post e martelar a cabeça lendo os sapientíssimos comentários deixados na respectiva caixa... Apenas, bem entendido, para melhor tomar as medidas à importância do projecto de lei que amanhã (quarta-feira) será votado - e aprovado - no Parlamento.

A evidente questão primordial prende-se com o que se possa dizer - ou esclarecer... - quanto a águas "flutuáveis" e "navegáveis", algo que o legislador se esqueceu de defenir. E mesmo agora não o faz - como poderia?... - limitando-se honestamente  a estipular que competirá à «Agência Portuguesa do Ambiente, IP, na qualidade de autoridade nacional da água, organizar e manter actualizado o registo das águas do domínio público, procedendo às classificações necessárias para o efeito, nomeadamente da navegabilidade e flutuabilidade dos cursos de água (...)».

De resto, assistirá ainda à dita Agência o encargo de identificar, tornar acessivel (!!!) e publicitar as «faixas do território que (...) correspondem aos leitos ou margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis que integram a sua jurisdição».

Recorde-se, no seu silêncio traiçoeiro, o anterior normativo impunha aos interessados o ónus de provar a privacidade das margens dos rios mediante acção a propor até 31 de Dezembro de 2013 (prazo este depois prorrogado para 31 de Julho de 2014) em que, quase apenas documentalmente, teriam de demonstrar essa qualidade das mesmas anteriormente a 1864!

Ao invés, prevê o diploma em vias de ser aprovado os tribunais intervenham apenas para decidir suscitando-se dúvidas na sequência do mapa a desenhar até 1 de Janeiro de 2016 (consoante o acima referido) pela Agência Portuguesa do Ambiente.

Será caso para dizer: um pouco mais de sorna e, desta feita, ia-se mais longe ainda do que com a Reforma Agrária de triste memória...

 

 

 

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