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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 09.02.14

Organizar uma excursão - o transporte, os transportados, o roteiro, a história dos lugares - deve ser obra. Providenciar o almoço, salvaguardar os horários... Enfim uma trapalhada cheia de responsabilidades e, ainda assim, por regra não isenta de reclamações dos sempre insatisfeitos. Nada a que eu ousasse abalançar-me. 

Pois aqui na terra temos homem: Alcino Monteiro, funcionário municipal, um dinamizador.

A volta de ontem levou cerca de 40 curiosos ao Marco de Canavezes, a Cinfães, com prévia paragem na barragem do Carrapatelo, à serra de Montemuro, onde fica a mais alta (1103 m) freguesia portuguesa - a Gralheira.

Aí se almoçou o almoço do dia e do dia seguinte também. Um festim! Cozido "à moda da serra", vitela assada na brasa e o mais. E na Gralheira também se gozou um pouco a neve que caía lá fora, tão longe e tão perto do "borralho" do Recanto do Carvalho, o restaurante.

Natural de Cinfães mas trazido há muitos anos para o Minho pelo seu casamento, Alcino Monteiro não esqueceu os trilhos e os lugares bonitos de uma e outra margem do Douro. Competem-lhe também os anais, as sagas das gentes destas bandas. Assim lhe devemos tardes magníficas de encher o olho com a beleza dos recantos que nos apresenta.

 

 

Dias descruzados

João-Afonso Machado, 09.02.14

Corria furioso ao lado dos carros, a ponto de assustar os condutores. Mas apenas dos que circulavam da direita para a esquerda, vá lá saber-se porquê...

E nos intervalos desses destemperados ataques, toda a mansidão do seu olhar a chegar-se às pessoas, num abanar de cauda de quem se prepara para avançar o cortinado de pernas dos grupos na praça.

A sua corpulência incutia prudência. A quem, é claro, não estava habituado a medir o tamanho da expressão mansa, vagabunda, de quem só podia ter algo a pedir - carinho.

Uma das patas traseiras - pisada por algum automóvel? - atormentava-lhe o andar. Respondeu com ganidos quando o chamei num estalar de dedos. E veio logo.

Ofereceu-me as orelhas, a cabeça, o focinho. A cauda sempre para cá e para lá, como a corda de um sino triste. E deliciou-se com as minhas festas, por momentos refastelado como um senhor. Em nosso redor, o público atendeu, simpatizou, sorriu. Ele cheirava-me o blusão compenetradamente, nada mais natural - eu cheiro, por norma, a cão...

Seguiram-se as despedidas. O autocarro ia arrancar. Doeu muito aquele derradeiro olhar, a sua incompreensão - tudo corria tão bem... Porquê a separação, depois de tanta meiguice?

(A vida é feita de desfechos assim, meu rapaz. É verdade, ambos teríamos muito a dar, um ao outro. Mas o autocarro mandou mais alto. Quem sabe não voltaremos a nos encontrarmos, um dia?...)