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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Nada de equívocos

João-Afonso Machado, 28.02.14

Emergiu muito depressa e as luzes da ribalta foram-lhe inesperadas. De resto, a toda a gente também. Tratou-se de uma aposta forte, arriscada, mas com a chancela de velhos experimentados. Deixara-no a bem dizer a sós, frente ao toiro. Mas quem iria opor-se?

Ainda jovem, dono de um curriculo curto mas promissor, agarrou com ambas as mãos a oportunidade assim oferecida de rompante. Gozou deslumbrado o seu sonho.

E, é claro, iniciou a nova carreira muito às apalpadelas, rodeado de escuridão. Parte substancial dos melhores havia debandado e, com manifesta ingenuidade, abalançou-se a escolher supostas "promessas" entre rapazes novos e desconhecidos. Ou seja, somou à convicção na sua capacidade em agregar uma equipa o convencimento dos seus dotes em descobrir e promover celebridades ignotas.

O desastre não tardou a manifestar-se. Esta ânsia de originalidade nunca deixa de ser fatal. Népias de resultados, enquanto extra-muros o sucesso dos vizinhos marcava a diferença e o afastamento. E assim deixado para trás, logo sobrevieram os apupos, uma imensa contestação. Seguravam-no no cargo arames apenas - institucionalmente o Presidente, aliás não imune aos protestos e à temida fúria das gentes. E, provavelmente, alguma noção de que em marés de contenção o melhor é aguentar, não abrir os cordões à bolsa.

Enfim, tão à portuguesa, quando tudo parecia derrapar no bordo do abismo e da vergonha, um golpe de sorte, o desenrascanço e o tangencial ir para a frente: até ver - ufa!!!

(Nota: se alguém pensou, lendo estas palavras, em Passos Coelho, enganou-se redondamente. É ao treinador do FCP, Paulo Fonseca, que elas se referem. Aqui só se abordam assuntos sérios)

 

 

Um ex-libris

João-Afonso Machado, 26.02.14

Não me ocorre haja outra cidade portuguesa assim facilmente identificável pelo simples recorte de um monumento. Qual Paris com a sua torre Eiffel. Olha-se e aponta-se o dedo - é o Porto, lá estão os Clérigos.

A Cidade Invicta, tão perto e tão distante do Minho. Um "microclima" histórico, político e social. O tripeiro de gema não tem par. Como se ainda agora passeasse camilianamente nos jardins de S. Lázaro, aos domingos depois da missa das onze. O pai, a mãe atenta e submissa e as filhas, raparigas casadoiras. Já não é assim, bem entendido. Mas o Porto continua liberal no seu discurso e severo na observância dos bons costumes. Um paradoxo de sempre, uma imagem de marca. Não julgo - constato. Com toda a simpatia de trinta anos ali vividos.

 

 

São 5 da tarde e está tudo em ordem...

João-Afonso Machado, 24.02.14

Previsivelmente o sossego era total. Um amador de fotografia presta-se à hospitalidade; um político ao burburinho. É uma questão de escolha, apenas, - entre o horizonte e a miragem, há quem diga.

É sabido, o Bolhão já conheceu melhores dias. Faltam lá as várias lojas de passarada, aquelas onde, à margem da lei, não raro as gaiolas continham pintassilgos, toutinegras... Mas talvez os tenha conhecido piores, também. Está em obras ou, conforme os mais pessimistas, para obras. Vive o seu quotidiano. E convida os visitantes ao regresso. Salvo, naturalmente, naqueles momentos de calafrio e excitação das campanhas eleitorais.

 

 

Passeios de domingo

João-Afonso Machado, 23.02.14

As tardes parecem subitamente silenciar o tempo, ainda muito há a dizer sobre os malefícios da saudade no tempo, esse tempo sempre contrário aos desejos de quem ouve e sofre o seu tiquetaque. O jeito é caminhar, carregar a cruz, andar sem parança e todo o nervo capaz de chicotear o tempo maldito.

(A pastelaria foi sempre um local bom e mau... Decididamente, o passeio, o rumor das árvores, é mais aconselhável terapia).

E assim as palavras se alinhavam, prontas para a agulha na ponta da caneta, caindo o sol. Afirma quem sabe, a Primavera não corre riscos de extinção... Urge somente vencer o tempo e saborear apenas a saudade da distância. Como - a seu tempo - se destrinçará.

 

 

 

Congressos e convenções

João-Afonso Machado, 22.02.14

Foi intenso o fogo de artilharia entre o Coliseu de Lisboa e a Convenção de Gouveia. Mas muito desigual. Pela arte dos artilheiros e pelo próprio alcance das peças. Vendo bem: de um lado, um congresso unânime e a habilidade de o aproveitar para ressuscitar a apologética social-democrata contra as acusações de neo-liberalismo, tudo à mistura com a demonstração de alguns resultados que não merecem menosprezo; do outro, a clara aposta no ricochete, o inacreditável argumento de que o dito congresso era apenas um capote sob o qual o Governo fazia campanha eleitoral!

Como se sempre nunca tivesse sido assim, de todos não excluindo algum...

Dois aspectos parecem merecer destaque. O primeiro é que a navegação de Passos Coelho, muito embora tantas vezes claramente ao sabor do improviso, provavelmente é a menos má que conseguimos alcançar. O segundo suscita algum compadecimento: António José Seguro tem mesmo cara de quem melhor estaria (consigo próprio) se não fosse Oposição, antes um parceiro casualista. 

Mas de que margem poderá ele desfrutar, entalado entre a Esquerda a que insiste pertencer e o malandro António Costa que insiste, também, em não lhe dar tréguas? Só mesmo fugindo... E para onde, enquanto a política não lhe assegurar o tacho conforme a todos os desempregados políticos de emprego?

 

 

 

 

Da Ucrânia e não só

João-Afonso Machado, 20.02.14

Os 60 mortos são a safra de hoje. Para já. Como na iminência das grandes tempestades, também os analistas aguardam com expectativa os resultados da noite que se aproxima ao jeito de uma maré cheia e desvastadora. A Ucrânia está "a ferro-e-fogo", acrescentam laconicamente.

Pois está. Parece que os insubordinados conseguiram manietar entretanto 67 polícias e apossarem-se do respectivo armamento... O Mundo já não pode ignorar o conflito. O qual parece surgir das cinzas da sua antiga divisão em dois, o da liberdade e o da opressão soviética. Com uns pós de inimizade étnica e religiosa à mistura.

Nada que todos não saibam. Interessante será atentar no posicionamento da Rússia, tão vizinha desta Ucrânia já em guerra. O que proclama ou pretende fazer Putin? E, já agora, quem são os já detectados agitadores disseminados entre a população em revolta? 

É que mesmo o nosso egoísmo não deverá esquecer esses entes misteriosos que se deslocam agil e livremente. A grande velocidade. Num instante podendo chegar cá.

 

 

 

Além brumas

João-Afonso Machado, 20.02.14

A distância engrandece a beleza das brumas, quase as iguala na capacidade de fazer esquecer. Ao longe, é a paisagem que nos enche o olhar, não já a miragem por pouco a comer-nos a alma durante a brumosa travessia.

Antes assim. Para quê uma memória ainda enevoada de fantasmas - os eternos refugiados nas brumas, somente porque não existem? Para quê o murmúrio ainda audível das sereias, semi-corpos, realidades que não são e nunca foram, salvo o desgaste provocado pelo tempo e pelo uso?

Depois das brumas, a claridade do dia. Face a face com a vida no rumo certo da liberdade.

 

 

Caiu o último reduto

João-Afonso Machado, 19.02.14

A torre de menagem era o espigueiro. E a fortificação aquela moradia do meu percurso diário de então. Sem pretensões ou beleza alguma. Um arado manual pintado de branco, outras alfaias agrícolas aqui e ali no relvado, canteiros e o fatal churrasco... e uma gaiola cheia de periquitos, mais a garagem de duas baias. Era isso e não mais do que isso, se a memória não me atraiçoa.

Mas à fortificação e à sua torre de menagem - o espigueiro, o derradeiro no perímetro urbano de Famalicão - cabia a espinhosa missão de impedir a vaga total do alcatrão e do cimento e garantir um pouco de verde e de trinados das aves entre as altíssimas máquinas de assalto, vulgo prédios, arranha-céus.

Foram décadas de resistência heróica. Baqueou finalmente, ante a selvática carga dos bárbaros da "grande superfície" vizinha. A fortificação e a sua torre de menagem - o espigueiro onde só destoavam as telhas francesas - em menos de nada eram arrasadas, volatilizaram-se. Sobre as suas cinzas reina agora um parque de estacionamento. E uma lápide: uma fotografia minha. Haverá quem se tenha lembrado também de constituir outro relicário semelhante? Era bom.

 

 

 

Quem paga?

João-Afonso Machado, 18.02.14

Vão lá dez anos. Era um Porto insuportável, intransitável. Tudo por causa das obras, dos seus atrasos, a bandalheira do costume, ainda por cima na suposta "capital da Cultura" de então. Nem vale a pena relembrar as sucessivas derrapagens orçamentais especialmente incidentes sobre a Casa da Música, muito mais dispendiosa, contas feitas, do que o novo estádio do FCP, o imenso Dragão. Sendo que este (vá lá saber-se porquê...) cumpriu prazos, na hora ajustada era inaugurado, nisto do futebol não há margem para brincadeiras.

A Baixa era o caos e as gentes das lojas viam a clientela, já muito fugídia para as denominadas "grandes superfícies", escapulir-se por entre os seus dedos saudosos do matraquear nas "registadoras". A acção judicial proposta pela Associação dos Comerciantes do Porto contra a Casa da Música/Porto (sociedade anónima de capitais públicos) deu entrada em 2005 e era justa.

E essa justiça foi feita nas três instâncias. Com o acordão definitivo do STJ surgindo só agora, acrescente-se: nove anos depois.

Quanto a números: ao pedido inicial de 1,98 milhões de euros acrescem 700 mil euros de juros entretanto vencidos. Dissolvida que foi aquela sociedade, a responsabilidade indemnizatória recai sobre o Estado, obviamente...

... ou talvez não tanto: não recairá sobre todos nós, contribuintes?

Daí a premência em que o Estado pague já, evitando a acção executiva e o crescendo da dívida de juros e das custas judiciais. Insisto: por respeito aos cidadãos que nada tem a ver com o caso e há decadas sustentam o dito Estado.

 

 

 

 

 

 

Portugal, pátria dos sorteios

João-Afonso Machado, 17.02.14

A ideia pode até ser inteligente, visionária. Mas, quanto creio, é genuinamente portuguesa e para os portugueses. Em Portugal, tudo indica, a pátria dos sorteios.

É ver qual o país que comanda o ranking dos vencedores do Euromilhões...

Em duas penadas: quem obtiver mais facturas com o NIF obtem mais cupões; logo aumenta as suas probabilidades de ganhar. O quê? - um frigorifico, uma televisão? Nada - isso eram sonhos do tempo da "antiga senhora". Uma magnífica mota, um utilitáriozito? - para isso já cá temos o Fernando (Gordo) Mendes e o seu "Preço Certo". O Estado não brinca em serviço, oferece muito mais.

Quem coleccionar mais facturas com NIF e juntar mais cupões habilita-se a um (e vai uma e vão duas e vão três!...) - a um estrondoso automóvel de luxo!!!

Admito que a ideia resulte da estreita colaboração entre os Ministérios das Finanças e da Educação. Só acho é que os nossos governantes podiam também ser sorteados. Que tal se os mil primeiros a apresentarem a declaração IRS se candidatassem a sobraçar uma secretaria de Estado?

 

 

 

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