"Soneto da Oportunidade"
Despida, mulher, e exposta, coitada,
Sangue suaste vazado o coração,
Queda, já sem voz, talvez açoitada,
Uma face de horror tapa-a a mão
Enquanto assim jazes, vida ajoelhada
Por tantos dias nossos que mal te hão
Feito chorar e vergar, maltratada,
Ruindo os sonhos em tal podridão.
Como te olhar, mulher, somente nua?
Pintura dum corpo apenas desejo,
Visão minha, a abandonaste tão crua.
Desilusão – uma palavra, a verdade.
Assim foste. Mas crê, crê neste beijo
A pedir-te nova oportunidade.