Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Bom balanço!...

João-Afonso Machado, 27.12.13

A euforia do Natal lá vai, sucedem-se dias de algum marasmo, enquanto não chegam as mais postiças manigâncias da Passagem de Ano. Dias de marasmo... Ou talvez a mais proveitosa semana para o florescer das ideias entre o despido das árvores e os rigores da invernia.

O que vivemos e como vivemos ao longo de 2013? À estonteante velocidade a que chegámos ao seu termo! Onde falhámos e perdemos, ou ganhámos?

Chove e venta com violência. É bom. Mantenha-se ela, a violência, longe dos nossos corações. E arrumemos a prateleira das desilusões, posta ao lado da que guarda as lições. Desse modo crescerá o espaço necessário às alegrias e convicções. A vida é isto.

E assim organizada será sempre um caminho de elevação pessoal. Contando, em vez de medo e pusilanimidade, sobre uma réstea de coragem para o calcorrear.

Fazer o balanço, na terminologia do comércio. Seja, também. Mas, as forças todas bem erguidas, o espírito pleno de rigor: sobre todos os males, o balanço há-de ser positivo, por graça da nossa consciência.

Chove e venta com violência. Mas continuo a escrever em paz.

 

 

 

Vai nevar

João-Afonso Machado, 26.12.13

Algo me diz vai nevar aqui no Minho mais plano. Acontecimento pouco usual e menos intenso. Mas sempre bastamente festejado. E ela, a neve, entope já as estradas do Marão, a temperatura vem baixando, o céu acinzenta... Por um ou dois dias as várzeas e as nossas leiras embranquecerão, as copas dos pinheiros também. Nos caminhos rurais a falta de prática dos passantes nas suas motorizadas recomenda a máxima prudência. Se não houver pasmaceira, a criançada ainda conseguirá ajuntar neve para o fatal boneco, toscamente enfeitado com pedritas e uns ramos de lenha.

Contado assim, pensar-se-à serem os "nevões" minhotos uma tristeza parola e ínfima, em face da Estrela gigante ou mesmo de outras serras de calibre inferior. Mas não são. Os "nevões" minhotos representam momentos raros na arte da fotografia. E um acordar matinal diferente, a expressão espantada dos animais, o apelo da lareira, entardecendo. A sua previsão é, por isso, uma expectativa entusiasmada e até impaciente. Como um calor da alma saído do ar gélido lá fora. Tudo, de resto, significando (não sei porquê, mas é assim) bons auspícios para a Primavera que não tarda, trazida pelo avassalador cavalgar do Tempo.

 

 

 

"Soneto da Oportunidade"

João-Afonso Machado, 24.12.13

Despida, mulher, e exposta, coitada,

Sangue suaste vazado o coração,

Queda, já sem voz, talvez açoitada,

Uma face de horror tapa-a a mão

 

Enquanto assim jazes, vida ajoelhada

Por tantos dias nossos que mal te hão

Feito chorar e vergar, maltratada,

Ruindo os sonhos em tal podridão.

 

Como te olhar, mulher, somente nua?

Pintura dum corpo apenas desejo,

Visão minha, a abandonaste tão crua.

 

Desilusão – uma palavra, a verdade.

Assim foste. Mas crê, crê neste beijo

A pedir-te nova oportunidade.

 

 

 

 

 

Feliz Natal!

João-Afonso Machado, 24.12.13

Uma primeira palavra, tão sentida como um abraço, para todos os que se vêem privados de um Natal condigno. Sejam quais forem as razões por que essa Paz lhes é vedada.

A todos, o desejo de que vivam estes momentos com a alegria da Família e a esperança no Amanhã. E Fé, muita fé em tudo o que lhes apraz acreditar e desejar.

 

 

 

À espera de quê?

João-Afonso Machado, 22.12.13

Se é verdade, é notável e o grande problema só não ficará resolvido porque não se quer. Falo de dinheiros. Mais propriamente dos 368 milhõres de euros que, diz-se, as empresas públicas gastam por ano em suplementos remuneratórios, correspondendo a 13,4% dos gastos totais com o seu pessoal. Uma verba que o Tribunal de Contas dispõe devidamente descriminada e onde só na rúbrica "mais regalias" se inscrevem 81 milhões de euros.

Trata-se - diz também quem saberá - de uma importância equivalente à que terá de ser (aonde?, quando?) descoberta para compensar o chumbo da «convergência de pensões» pelo Tribunal Constitucional.

Assim sendo, porque não acorrer de imediato a esta porta aberta?

Estranho (e aliciante...) mundo, o das empresas públicas, sem dúvida!...

 

 

 

Passeio no Parque

João-Afonso Machado, 22.12.13

Assim vagueiam as minhas ideias, indiferentes à chuva miudinha que me retem em casa, longe do espírito e de ti, ambos no Parque, conversando, conversando, conversando interminavelmente.

Estou a vê-los daqui. Oiço-me a contar a Reconquista Cristã, como se de cruz em riste, minha moira encantada, encandeia-me o teu olhar divertido - és terrível! - e, pela enésima vez, repetes - és terrivel, tu! Topando, é claro, que também eu venho descendo das serras em aventuras pelas planícies, batalhando pelo que já foi meu. E, carreirinho fora, há gestos atirados ao ar, planos, surpresas, comparações, algum temor, sonhos e promessas, prenuncios de animação. Vejo-me descontraído e tu atenta, enquanto a Tareja já navega no lago atrás dos patos e Mécia ladra na margem, indecisa como eu gostaria não fosses. O vigilante do parque deve estar de férias, hoje folgam as trelas, há um sorriso teu muito perto de mim.

Carreirinho fora, vejo-nos daqui. Se calhar passeando apenas ilusões. Mas já não as tuas desilusões. Porque, acredita, te quero feliz, longe delas.

 

 

 

A ignorância de António Filipe

João-Afonso Machado, 20.12.13

A propósito da convergência de pensões, abortada pelo Tribunal Constitucional, instado a pronunciar-se, na SIC Notícias, sobre se achava justo a diferença de 10% nos descontos, que previlegia a Função Pública em relação aos trabalhadores do sector privado, o deputado comunista António Filipe fez esta extraordinária pergunta - mas porque se há-de fazer a igualização por baixo?

Nos tempos áureos do imperialismo comunista, todos os seus mestres - Cunhal, Brejnev, Fidel, Ceausescu... - teriam respondido imediata e acertadamente: porque sim!

 

 

 

Férias de Natal

João-Afonso Machado, 19.12.13

Eram umas férias especiais. Sem a amplitude do Verão, semanas e semanas sem fim à vista, antes resguardadas no calor da lareira, aqueles dias únicos de expectativa entre o Natal e o Ano Novo. Diminutas mas cheias de luz, na escuridão da invernia, e imensamente musicais. Um tempo de família, de alegria e da sempre ansiada entrega dos presentes. Cheirando imparavelmente a rabanadas e a mexidos, mesmo com o bacalhau a saber bem, tão ao contrário do que a criançada sentia no decorrer do quotidiano. As férias do Natal são o que de melhor trazemos na nossa memória já de adultos.

Hoje não serão vividas assim. Os pais trabalham, o lar é um escasso momento vivido quase na hora de recolher à cama. Mas a miudagem continua a gostar de brincar e de viver, consoante pode, esses dias ímpares de magia natalícia.

Talvez não haja vagar para pensarmos nisso. Nem para planear os presentes, as preferências, os sinais dados no decurso do tempo que antecede a quadra. Filhos, netos, afilhados, quanta gente, quanta escassez de imaginação e disponibilidade... 

Assim mesmo a vida tem de continuar. Para muitos sem grandes alterações de horários, a escola, o ATL são alternativas incontornáveis. Onde, tantas vezes, a guarda dos mais novos é mera profissão dos guardiões. Mas onde, também, com um bocado de sorte, se encontram absolutas vocações. Gente que vai além do ganha-pão e se entrega do coração. Às crianças, aos nossos filhos ou netos, ao nosso sangue que já não pode brincar em casa e gozar as férias de antigamente.

 

 

 

 

Coisas do Tempo

João-Afonso Machado, 18.12.13

É a escalada mais íngreme, mais demorada. Quando nos queixamos de que tudo corre demasiadamente depressa, aí está esse vagaroso percurso roendo-nos em ansiedade e incerteza; aí estamos nós, subitamente, gritando pelo fim da linha, por ventos amigos que nos empurrem até ao acolhedor porto de abrigo. Porque montanha e mar, pedregulhos ou ondas, em qualquer caso o acaso ou o destino nos tolhem os pés e sangram a alma desejosa de uma cobertura, um cais.

É do Tempo que falo. O Tempo tantas vezes tão aceleradamente capaz de nos roubar o tempo de estar e gozar; o Tempo também maldosamente senhor de se arrastar preguiçoso, indiferente à nossa batalha ante qualquer malfadado contratempo.

 

 

 

Mordomias

João-Afonso Machado, 17.12.13

As imagens iniciais de O Mordomo são perfeitamente aceitáveis e mesmo úteis, tratando-se de um filme de adultos, tanto mais que se reportam, não aos antecedentes da Guerra da Secessão americana, mas à cultura do algodão no Sul já em tempo dos nossos pais. Onde um branco ainda baleava mortalmente um negro - o desafortunado marido da mulher recém-violada pelo assassino - e nem por isso era consentido aos demais abrandar o ritmo da apanha.

Era assim, sem ponta de exagero. Até a II Grande Guerra foi uma honra apenas reservada aos brancos. Provavelmente devido ao medo de ver um negro armado...

E o filme retrata, no fundo, essa lentíssima evolução - onde o homicidio de Kenedy constitui um verdadeiro balde de água fria - até um negro atingir a presidência dos EUA e, espera-se, a sociedade reparta, no plano racial, os mesmos direitos por todas as gentes.

Mas talvez muitos se esqueçam que a escravatura oficialmente foi extinta na América em 1865. Na sequência de uma guerra sanguinolenta em que 2 milhões de vidas foram perdidas em campo de batalha. Combatida pelo idealismo de alguns e pela hipocrisia de muitíssimos.

Porque, entre 1863 e 1865, o que esteve verdadeiramente em causa não foi a dignificação dos negros mas os interesses políticos e comerciais do Norte federal, visando derrubar o poderio económico da Confederação sulista. Vencedores do conflito, proclamaram a liberdade dos escravos mas negaram-lhes o trabalho livre, assim mantendo a dependência e a humilhação dos negros. Até aos nossos dias.

André Malraux disse que são precisos 60 anos e não 9 meses para fazer um homem. Considerando o homem social, a sua visão é optimista.

 

 

Pág. 1/2