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Fernão Lopes não esquece, na Crónica em que biografa o reinado de D. João I, a figura de um Pedro Esteves, o inconformado pai de Inês Pires, de cujos amores com o monarca nasceu o futuro Conde de Barcelos. Digníssimo e nada envaidecido com a afinidade assim criada, Pedro Esteves toda a vida demonstrou o seu desagrado face à dita ocorrência, tendo mesmo deixado crescer barbas enormes e venerandas, como sinal perpétuo de honra afrontada e incapaz de perdoar. Não obstante, o Rei sentia admiração pelo ancião, motivo porque um dia se abeirou dele, a cavalo, e lhe perguntou - «não havemos de acabar com esta melancolia?». Ao que o furibundo Pedro Esteves respondeu - «Sim, quando eu acabar convosco primeiro!». E indo em direcção a D. João I, conta Fernão Lopes, este optou por largar a galope...
Parece que lhe chamaram - a esse Pedro Esteves - e por razões obvias, o Barbadão. Assim como houve outro, mais ou menos contemporâneo, um alentejano sapateiro, o Barbadão de Veiros.
Acontece um outro Pedro Esteves ser figura de proa na história barcelense, legista e membro do Conselho de D. Afonso V. E o marido da «sempre formosa» Isabel Pinheiro, do Solar dos Pinheiros, alcaides desta vila. Foi o filho e sucessor de ambos, Álvaro Pinheiro Lobo, quem ordenou a construção das enormes torres desta casa, na cornija de uma das quais, a do lado nascente, foi posta a enigmática cabeça barbuda parecendo gritar de fúria. Assim nasceu o Barbadão de Barcelos e a confusão.
Evidentemente, esta mencionada figura nada tem a ver com os anteriormente referidos. A questão está em saber o que faz ela ali.
Alvitrou-se representar a danação de Álvaro Pinheiro Lobo por não poder erguer as suas torres - símbolo de poderio - mais altas do que as do ora arruinado Paço ducal, ali ao lado. Mas o Alcaide não iria tão longe, não parece desafiasse assim o Duque «nosso Senhor».
Um seu descendente, Henrique Pinheiro Lobo de Meneses, terá descoberto a explicação daquela adorno. Por essa altura, vagara um lugar entre os cónegos da Colegiada de Guimarães. O seu Dom Prior, Diogo Pinheiro (irmão de Álvaro Pinheiro), escolhera já o substituto, mas o alcaide vimaranense, D. Diogo Lopes de Lima (dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira) insistia em outro pretendente, mais do seu agrado. E porque ambos - o Alcaide e o Dom Prior - não fossem pessoas de feitio fácil, a contenda começou a ganhar foros de manifesta violência. Limas e Pinheiros reuniram as suas gentes e os seus familiares e amigos e prepararam-se para resolver a coisa à moda antiga. Eis senão quando intervem o Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, pondo ordem na região, já em pé de guerra, e decidindo a favor de D. Diogo Pinheiro.
Entusiasmados por esta sua vitória face aos poderosos Limas, os Pinheiros desafiadoramente esculpiram aquela máscula figura barbada na torre do Solar, precisamente na sua face que aponta para Guimarães.
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Assim o Barbadão ficou no memorial dos Pinheiros - nos ainda hoje donos do Solar; e nos da Casa de Pindela, seus primos, onde debita água para o enorme lago na mata e cuida que as criancinhas não se aproximem das suas bordas desguarnecidas, não vá suceder alguma desgraça.
(- Meninos, ninguém vai para o lago, que o Barbadão pode aparecer e levar algum para o fundo... - isto durante gerações e gerações).
E, acompanhando a Família, o Barbadão alcançou ainda Lisboa e Cascais, na companhia do ramo Arnoso da Casa de Pindela.
Dixit.