O melhor restaurante
Dispunha-me já a escrever panegirico cuidado sobre os elevados méritos do restaurante: a quietude do espaço, o seu silêncio, aquelas tantas mesas competamente vazias; eu a chegar e a ser logo servido, o comando da televisão confiado à minha pessoa, canal e som a meu inteiro gosto. Queria mesmo agradar à patroa, registar ditos suculentos sobre a vitela estufada, amavelmente sugerir-lhe comprasse também o Ponte de Lima seco e o adamado e não apenas o loureiro... Em duas palavras, pregar no peito do restaurante onde muitas vezes janto uma douradissima medalha de ouro, estabelecer com ele um pacto de fidelidade.
Mas depois, ainda a tempo, lembrei-me isso seria o fim. As minhas entusiasmadas palavras poderiam chamar a atenção de alguém. Todas as mesas que habitualmente me circundam talvez perdessem a sua discrição e se tornassem palradoras. O estufado demoraria mais a ficar pronto e o vizinho do lado iria preferir um qualquer outro qualquer estupido canal televisivo; o jornal não estaria sempre à disposição e eu acabaria por abalar em busca de outro poiso de comida.
Por isso, o anonimato presidindo a estes encómios. É o melhor restaurante cá da terra justamente porque costumo ser o seu único cliente nocturno. Uma mimalhice pegada, enfim. Oh minha senhora!, tenha paciência mas deixe as coisas continuarem assim.