Carteiros de outrora, ciclistas exímios
A notícia da próxima greve dos CTT e da distribuição de correio amanhã, sábado, trouxe-me à memória os velhos carteiros de antigamente. Deslocando-se de bicicleta de casa em casa, pelos íngremes e escalavrados caminhos municipais desse tempo.
Chovesse ou torrasse o sol. E de manhã, sobre o cedo. O carteiro trepava a ladeira que dava acesso ao terreiro de trás e, muito sonoramente, proclamava cá em cima: - correio! Logo subia as escadas da varanda com O Primeiro de Janeiro e o Comércio do Porto - ambos já falecidos - porque a assinatura dos jornais era mais cómoda, evitava uma viagem diária à vila para os comprar.
O carteiro vinha fardado de escuro, com uma mola em cada baínha da calça, uma gravata negra e um almirantesco boné na cabeça. Suava, por regra. E deixava um ror de cartas, o meio próprio das pessoas comunicarem à distância, dada a exorbitância do custo das chamadas telefónicas.
Aos sábados também funcionava e tinha-me sempre ansiosamente à sua espera. Era o dia em que recebia a revista Tintin, cuja assinatura anual era invariavelmente o presente de Natal da minha Avó.
Vão lá quatro décadas. As bicicletas estão na moda outra vez (nessa altura, cada família tinha três ou quatro; hoje, em média, apenas dois automóveis...), os carteiros é que não. Apesar de, volvidos uns anos, ocorrer uma mudança extraordinária: passaram a deslocar-se de motorizada.