Um minhoto na Capital
Há que tempos não lhe punha os olhos em cima! Mas sempre igualzinha, cuidadíssima, eternamente elegante, o trio de pulseiras a tilintar-lhe no pulso. Desta vez, estranhei, de fato-de-treino azul, a Cruz de Cristo ao peito, correndo a Saraiva de Carvalho fora. Ao ver-me, estacou, sorriu e cumprimentou. Que fazia eu por ali, em Campo de Ourique?
Ofegante, não fosse ela perder o ritmo, expliquei tudo em duas penadas. Acabara o suplício na Torre do Tombo, investigação concluida e publicada, edição esgotada... Agora tornara a Lisboa somente porque um primo, a viver para aqueles lados, me desafiara para outro trabalho, coisa interessante, qual o malfadado fim de tantos minhotos por África, Brasil e Indias...
Nada que lhe prendesse muito a atenção. Foi, por isso, o tempo de a inquirir: a correr aquelas horas, naquele azul nacionalissimo, porquê?
Era a indispensável preparação. Daí a dias participaria na maratona, atravessaria a Ponte, uma memorável iniciativa da FNAT. Concorreriam atletas do Benfica, do Sporting e do Belenenses, além de outros de calibre menor.
Entristeci ante a imagem de uma ponte coberta de vermelho e verde, salpicada de azul. Porque a verdade é que o Belenenses - o clube de minha eleição, fosse eu lisboeta - não tem a envergadura dos demais... A minha amiga explicou o resto do percurso, onde não faltaria a visão do defunto Casal Ventoso, a entrada pelas Amoreiras e as voltinhas todas até à Assembleia da República.
- Porquê a A.R.?
Porque sim, esclareceu. Porque faz parte. E...
(A ser organizado pela FNAT, sempre julquei acabasse no velho estádio. Lembro bem dele, há décadas, quando, depois da missa em S. João de Brito, o Tio nos levava lá entre umas sandes de presunto e uns copos de gasosa com um cheirinho de algo parecido com vinho e o almoço, mais um seu colega de trabalho, suiço, o Sr. Schmit. Mas nada adiantei, até podia ser que o estádio já tivesse ido abaixo..).
- ... e assim aproveitamos para saudar os representantes do povo soberano...
(Oh, meu Deus!)
- ...e cantarmos o hino nacional, não acha um belo dia de desporto e um remate feliz e educativo?
Achei melhor achar. Foi por isso que ainda levei com um incentivo a participar também. Obviamente, com o equipamento do Belenenses, a coisa arranjava-se...
Que não, justamente atravessaria o Tejo nesse dia mas em sentido contrário...
- Vocés e essa simplória mania do Algarve!
- Nem tanto, minha amiga, nem tanto. Ficarei a meio caminho, algures no Alentejo, onde parece há umas charcas carregadinhas de achigãs...