Esperando o ribeiro retorne
Ainda faltam uns meses. Para o desbaste das ervas altas, sufocantes, para a ressurreição das águas. Como elas surgiram um dia, galopantes, cheias de vida e sonhos, uma avalanche deles. Esse foi o tempo que ficou.
É certo, o ouriço-cacheiro entusiasmava, a vizinhança reuniu, de lanterna em punho, era noite, procurando-o nas moitas. E a cobra e as suas diárias investidas sobre os peixitos, aquela vontade imensa de a agarrar... Mais o sapo-bufo, a tentação imensa de o deixar à porta dos únicos ciganos que vivem nestas bandas... Ou as cachopas, brincando eternamente pelas margens, lançando-se ao lodo onde coaxassem as rãs... Tudo são imagens que não se esvanecem, tudo foi fé e sorrisos sentados sobre blocos graníticos do "vale perdido".
Ilusões. Uma mentira que se lia nos restos dos piqueniques pirateados, não imperasse a distracção, senão mesmo a ingenuidade.
A única verdade daquele ribeiro são as trutas inexistentes mas imaginadas e queridas, os dias frios ainda por chegar. As pontes parecendo ir atrás da correnteza e os salpicos das águas de encontro às penedias. Com a máquina fotográfica captando poços, curvas, cascatinhas. E as cachopas espreitando das margens as memórias de um passado que jamais existiu. Então, sim, o quadro será genuíno como o Inverno e umas botas enlameadas tanto quanto o pensamento se limpou.