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O republicanismo de Ramalho Ortigão é apenas mais uma mentira da República, ela própria. A circunstância de, logo em 1911, o escritor ver a sua casa devassada por um bando de caceteiros do Partido Republicano, sob a suspeita de esconder armas para a reacção é absolutamente verídica e... mais uma omissão da História do actual Regime.
De resto, as três Repúblicas apresentam, todas elas, um factor comum: a propaganda, a emulação. Disso mesmo dá conta Ramalho, nas suas Últimas Farpas (1911-1914), na seguinte forma magistral, quando alude ao Governo:
«Reproduzindo-se tão prolificamente, por meio da fotografia e associando assim a humanidade inteira às intimidades da sua existência, é indubitável que está o Governo, dia a dia conquistando um considerável relevo de simpatias aos olhos do mundo e sobretudo aos seus próprios olhos. É este, sem questão alguma, um dos mais relevantes serviços prestados à causa democrática, ao ressurgimento da nacionalidade pelo gabinete verde e encarnado».
E logo após:
«Além das felizes inovações introduzidas nas artes decorativas e sumptuárias (...) ao gabinete (...) cabe ainda a glória de estar, por meio de lavor intenso de reportagem, enriquecendo copiosamente a cacologia nacional com preciosos neologismos, entre os quais não quero perder o ensejo de registar o vocábulo homenagear, (...) do qual é sujeito o povo (...) e complemento objectivo o Governo».
Afonso Costa, Bernardino, Salazar, Marcelo, Soares, Cavaco... Quantos deles não viveram quase só da propaganda do Regime? Da mentira transformada em verdade sobreposta a um sem-número de crimes e e golpes baixos, como recomenda a «ética republicana»?
Por isso desabafava Ramalho, ainda na mencionada sua obra: «A República Portuguesa continua dando ao mundo o mais espantoso e inacreditável espectáculo - existe!».
Miraculosamente, um século volvido, enxovalhada por toda a vergonha republicana, a Nação Portuguesa continua a existir também...