Na lezíria
Corri a leziria despida, dada, num sussurro demorado, vivi-a, amei-a, senti a sua carne fértil, o seu sabor, toda a beleza das suas formas sempre jovens. Ouvi o silêncio do seu sol, o uivar do vento sobre o seu corpo deitado, plano, nocturno. Presenciei o frio a enregelar-lhe os ossos em manhãs de chuva, escorrendo água, avolumando-se de água como qualquer mulher em vésperas.
Qui-la sempre assim. Assim a revejo e continuo a querê-la.
Não fora a súbita mudança do tempo, capricho tão belo quão volátil. A lezíria, aclarando renovada, partiu. Ficou a bonança num já longinquo adeus à tempestade. Como se o arco-iris não necessitasse de alguns relampagos, uma forte bátega de chuva, primeiramente - até à almejada quietude das cores e das mãos dadas.