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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Contra a maré

João-Afonso Machado, 26.08.13

São as tais questões que não podem ser decididas em Lisboa, é lá (cá) na terra! Se Vizela conseguiu, porque não há-de as Taipas ser concelho, também? Um outro a cindir-se do de Guimarães?

As Taipas cresceram em volta de umas termas. É uma vila - está lá, na placa da estrada: Vila das Taipas - mas não é freguesia, porque essa chama-se Caldelas. Ainda assim, percorrem-na ventos independentistas. Sem dúvida, mais uma «velha aspiração».

Talvez tudo fosse conciliável. Havendo boa vontade e algumas concessões de terra por parte dos vimaranenses e dos bracarenses e famalicenses. Somente, teria de ser um concelho dos bons velhos tempos pré-partidocratas. Com capitão-mor, juiz de fora e juiz dos orfãos, uma chusma de clérigos vagueando em seus sítios, muita lavoura, albergarias bem guarnecidas. Sem desemprego.

Muita gente viria de longe assistir. Meirinhos e aguazis manteriam a ordem. Na vila das Taipas os automóveis não seriam consentidos: quando muito o trotar dos cavalos. Além das famosas mulas do almocreve, tantas vezes requisitadas para trazer do rio Ave, que atravessa a vila, uma fartura de cabazes do melhor peixe.

E, garantidamente, seria de olhos postos nas Taipas que o Governo encetaria, enfim, uma reforma administrativa condigna. Muito aconselhado, verdade se diga, pelo mestre-escola local.

 

 

Crime no jardim

João-Afonso Machado, 26.08.13

Foram as cadelas que alertaram. Algo de anormal se passava num canteiro do jardim, uma restolhada sem propósito, ruidosa, um agitar de algo entre o acastanhado das folhas secas, quebradiças. Mais de perto, ressaltava a visão do sapo enorme, a boca escancarada, manifestamente aflito.

Sobrava tempo para buscar com que lhe deitar a mão, na ausência da máquina fotográfica, e onde o levar para umas poses a preceito. Os sapos não se deslocam excepcionalmente depressa... Nem as cadelas cuidaram de o vigiar, já desinteressadas.

Iniciada a operação de remoção, o bicho - inchado, ofegante - parecia preso ao solo, nem para trás, nem para a frente... Aproximando o olhar, a percepção de umas mandibulas cravadas numa das suas patas traseiras, friamente, sorrateiramente; na outra extremidade das ditas mandíbulas a cauda da cobra, toda enroscada nos troncos do buxo.

Era uma cobra de água, de onde veio não se sabe, talvez do poço da horta. Poderosa, meio metro dela. Largando a presa ao intuir o propósito de a apanhar também. Numa ziguezaguear infrene sob a vegetação do canteiro, depois da japoneira, até às heras do muro onde se escapuliu nos buracos das pedras. Sem dar mais hipóteses.

Sempre este azar da máquina fotográfica inacessivel nos momentos em que mais necessária é!

O sapo veio, enfim, devidamente escoltado. Escapara ao atentado. A pata alvejada bastante maltratada, com eventual fractura e muita baba branca de cobra a assinalar a violência da agressão. Esperava-o uma caixa de sapatos e a viagem até à cidade, onde os parques sempre são mais seguros.

Embarcou com a aparente serenidade de um ministro apupado pela multidão.