Tão simples e tão complicado...
Seria só uma ligeira alteração do Código Penal: porque o incendiário, quando executa o seu sinistro propósito, não ignora que do mesmo pode resultar a morte de alguém, e mesmo assim persiste em levá-lo a cabo. Age, portanto, com dolo eventual e pratica o crime de homicidio. Julgado e condenado, aguardá-lo-iam uns anitos largos de cadeia e a simples constatação da hipótese seria, sem dúvida, dissuasora.
Já agora, mesmo sabendo das contigências orçamentais do Ministério da Defesa, não se vê por que não aproveitar o tempo quente em exercícios militares (e para-militares) nas matas transmontanas e das Beiras interiores, onde o inimigo - o dito incendiário - é real e bem merece ser caçado vivo e, insiste-se, exemplarmente castigado nos tribunais.
Por tudo isto, a preparação dos bombeiros para lidarem com as súbitas mudanças do vento (assim escapando à morte na fogueira) não parece fundamental. Os bombeiros são, na sua esmagadora maioria, voluntários, gente com vida familiar e uma profissão de que vivem e sustentam os seus. Já basta os ensinamentos de mecânica e chaparia - por via dos quais diariamente desencarceram as vítimas dos acidentes rodoviários - para lhes acrescentar tempo à sua disponibilidade cívica.
Mas a República vive demasiadamente ocupada em explicar a sua «ética» a todos nós, cada vez mais incrédulos, para poder dedicar-se a quem vai morrendo (na tal fogueira, inquisitorialmente...) na defesa do património e da integridade fisica dos seus semelhantes. E por isso este ano não é diferente dos anteriores nem o será dos vindouros. Mesmo porque os bombeiros não pertencem ao género grevista.