À margem do tempo
Entre os toldos no areal e o movimento das gentes, as esplanadas e as banquinhas a vender de tudo qualquer coisa. Entre a agitação inteira do mundo e o quase aterrador silêncio do que ignoramos. Como é possivel, em Agosto, ao sábado, frente ao mar, cercada pela multidão? Aquela fantasmagórica presença, perdida no tempo, perdida no espaço?
Tem a encarquilhada lombada de um grosso volume de histórias além-mar, nos remotos tempos o Brasil da emigração. Imaginamo-la nos seus anos aureos, sozinha entre as dunas, gozando fascinada a labuta dos sargaceiros da Apúlia. De onde talvez o seu proprietário tivesse partido um dia e regressado décadas depois, rico, magnata, saudoso dos cantinhos da sua infância.
E talvez benemérito, talvez barão... Famoso, adulado, castelão... Porventura sem descendência, obreiro de um mausoleu antecipadamente condenado à ruina. A vida eterna não é bem o que, se calhar, pensou ser.
Ainda assim... os seus restos mortais, ninguém os removeu. Para o bem ou para o mal, estão lá, mantendo os seus ossos e a sua memória. Deste modo impressionante e paradoxal.