Prezado Senhor Dr. Mário Soares:
Escrevo-lhe para o Campo Grande, convicto de que, nesta vaga de calor, aí se encontrará rodeado de todos os seus livros e quadros, menos os que conserva na Fundação ou em Nafarros. E muito a correr, somente para o informar estou de abalada em mais uma travessia do Atlântico Sul, partindo aqui do aeródromo de Braga. Tenho de chegar a tempo da final da Taça das Confederações e substituir a Presidente Dilma Youssef no Maracanã.
Nada disto constitui novidade para si, eu sei. A Presidente indisposta por excesso de turbulência popular e o sempre amigo Dr. Mário Soares a aconselhá-la - do que você necessita é de um monárquico, católico e conservador (de um anarquista, em suma), olhe aí o Machado, o rapaz vai lá...
E a Dilma telefonou-me e eu fui, ou melhor - vou. Por acaso em um momento nada conveniente, tenho entre mãos o guião para uma peça teatral, encomenda da Câmara Municipal, sobre o assassinato de um morgado minhoto seiscentista. Ainda hesitei... Mas depois, pensei, o ambiente no Brasil sempre há-de ser inspirador da escrita, assim eu consiga regressar, e enfim, noblesse oblige. Aí estou, com os motores da avioneta já a aquecer.
Suponho não cometer uma grande inconfidência se lhe contar que a Dilma, estimando-o sobremaneira, far-me-á portador de uma reduzida tanga, oferenda para o Dr. Mário Soares. Para o seu algarvezinho que se aproxima (ela acha-o abatidote e quere-o rejuvenescido) e como símbolo universal do estado a que socialistas e trabalhistas conduzem os povos, neste caso irmãos. Eu acho legal, da parte da Dilma.
Está na hora. Acenam-me de dentro do Cessna.
Não se exponha muito ao sol. Espere pela tanga. E receba as mais cordiais saudações do mais humilde dos seus colaboradores na obra imensa de salvar o Mundo,
João Afonso Machado