Às perdizes na praia
Tarde de temperatura amena, mas bastante ventosa. Deixando adivinhar tiros dificeis. Logo no início a cadela marrou-se numa covinha da areia, dando mostras de não querer sair dali. Só podia ser perdiz. E com a nossa aproximação foi o levante e um tiro que não esqueceu o devido desconto, a desejada ia já com a nortada, parecia um foguete. Mas acabou em queda abrupta sobre o mar. Ali ficou de asas abertas, à deriva, entre a espuma das ondas. A cadela nem hesitou. Saltando através das penedias, acabou mergulhando a poucas dezenas da peça, abocanhou-a e, nadando para o areal, a cabeça sempre à tona, prazenteiramente a depositou em minhas mãos. Foi apenas o princípio de uma jornada gloriosa.
Se tudo isto é peta? Porque não há perdizes nas praias? O bom senso o diz, sonoridades bíblicas à margem, - é mais fácil caçar uma perdiz nas praias do que ser filho de um pai e de outro pai, ou de uma mãe e de outra mãe. A não ser em países desgraçados como o nosso em que a realidade - já o diziam os integralistas - não resulta da essencialidade mas dos decretos da governação.
Falsidade por falsidade, esta, ao menos, é inócua...