A Queima das Fitas
Em tempos que já lá vão, a Queima das Fitas era obra dos estudantes para os estudantes. E não será o facto de os cursos e as universidades terem quadruplicado, entretanto, que desculpará o condenável estado de coisas em que se estacionou.
A simples existência de um «Queimódromo» explica integralmente a ambiente "sambista" que veio substituir o velho espírito académico de outras saudosas eras. Onde sobrará um lugar para os - de outrora - saraus culturais, bailes de gala, garraiadas, para toda a poesia dessa semana, a qual, aliás, começando com algum lirismo, rapidamente se enchia das mais épicas façanhas?...
Sobrou o «cortejo». Um outro lampejo do alegorismo carnavalesco, afinal. E foi-se toda a irreverência; em sua substituição, selvajaria apenas.
É o que se lê nos cartazes da parede. A Queima acorda para ouvir os grupos musicais da actualidade no «Queimódromo» enquanto consome uns tantos milhares de barris de Super Bock. Depois, já sem cheta no bolso, completamente borracha, regressa à cama. Pelo caminho, não raro esbarra o carro e morre ou mata alguém.
Os da minha geração sabem bem o que é (e já não é) a Queima das Fitas. Outros a estudam com outros propósitos. Assim assassinaram um infeliz, baleado pelas costas. Estava no local certo, à hora certa, para um assalto - muito mais rentável do que esses corriqueiros às bombas de gasolina. Porque a Queima transformou-se nisso: numa obesa bilheteira a rebentar de notas prontinhas para serem roubadas.