A minha galinha é melhor do que a da vizinha
Árdua tarde de trabalho sob a inclemência do sol, aproveitando a Feira das Trocas em V. N. de Famalicão. Um pavilhão que era uma barraca dos saudosos tempos da praia com banheiro, rede de volei, corridas de caricas...E as mais apuradas raças de galinhas minhotas para trocar por dinheiro: pedrezes, castanhas e pretas.
Uma azáfama, como se imaginará. Uma fila imensa formando-se defronte, quase um sururu quando o Grupo Folclórico de Santa Leocádia de Fradelos quis espaço para dançar e não conseguiu, tal o vaivém dos apreciadores da boa pita (então freguesa, o que vai ser? - quanto custa a pita? - vale dizer, a franga, preta, castanha ou pedrês, coitadíssima, já com uma comprometida expressão de churrasco).
Como também marcharam os ovos às dúzias, ou os galinácios adultos, eles e elas, a crista tombada, adivinhando nos propósitos dos adquirentes a sanguinolência de uma cabidela.
O stock esgotou várias vezes. Foi necessário mandar vir da quinta sucessivos contingentes de penosas, o reforço capaz de satisfazer o entusiasmo dos meus conterrâneos.
Quando, enfim, o meu irmão que superintende ao negócio chegou a substituir-me, de pitos e pitas - nada. Sobrara um galo preto, com todos os sintomas de um viúvo inconsolável.
Do apuro... não me compete decidir. Certamente reforçar-se-à o efectivo dos pica-no-chão, fomentar-se-à uma inaudita taxa de natalidade e planear-se-à o sequente holocausto
Para mim o prémio foi um excelente petisco e um copito e verde, ali na banquinha ao lado, com a minha companhia de eleição.